O brasileiro ficou mais ou menos conservador nos últimos 20 anos? Esta é uma das perguntas que a Pesquisa Social Brasileira (PESB) pretende responder nos próximos meses. Realizado em 2002, o estudo será refeito entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, com a previsão de entrevistar cerca de 2,3 mil pessoas de todas as regiões do país.
A pesquisa envolverá a aplicação praticamente do mesmo questionário feito 20 anos atrás. Entre as perguntas, estão temas como a intervenção do governo na economia, o “jeitinho brasileiro”, o comportamento da polícia, a punição a crimes, racismo e sexualidade. Segundo o coordenador do estudo, professor Alberto Carlos Almeida, em 2002 havia uma grande distância na visão sobre a sexualidade entre os entrevistados mais jovens e os mais velhos.
— Agora, vamos saber se os jovens de 2002 ficaram mais conservadores depois de envelhecer ou se mantiveram visões mais abertas. Se tiverem mantido, a sociedade como um todo terá mudado — explica o pesquisador.
Conforme Almeida, que, depois da pesquisa de 2002, publicou os resultados no livro A Cabeça do Brasileiro, o estudo tem como inspiração a obra do antropólogo Roberto DaMatta e busca entender quais são os valores enraizados na sociedade brasileira, perpetuados no processo de socialização pelas famílias, pela escola e pelo contexto cultural da época em que se vive.
— Nesse tipo de pesquisa, você só detecta a mudança quando se realiza ela novamente depois de muitos anos. Se você faz depois de cinco anos, nada mudou, porque a mudança, geral, acontece a partir da substituição das gerações: um grupo falece e é substituído por pessoas jovens de uma época diferente — pontua o cientista político.
A hipótese de Almeida é que o brasileiro se tornou, em 20 anos, mais liberal tanto na economia quanto nos costumes — apesar de pautas conservadoras estarem sendo defendidas por determinados grupos políticos, o pesquisador entende que isso se deve ao fato de, antes, não haver políticos que utilizassem esses temas para mobilizar o eleitorado, e não a um crescimento de valores conservadores na sociedade.
Nesta quinta-feira (1º), foi iniciado o treinamento dos 150 entrevistadores. A pesquisa será realizada presencialmente, em domicílios sorteados. O resultado culminará em um novo livro. Informações sobre o estudo podem ser conferidas neste link.
Na região Sul, quem fará o mapeamento serão profissionais vinculados ao Instituto de Pesquisas de Opinião (IPO), que também já havia feito o trabalho em 2002. No Rio Grande do Sul, serão entrevistadas pessoas em cidades como Porto Alegre, Capão da Canoa, Canoas e São Leopoldo.