A Igreja Católica tem observado o número de seminaristas reduzir nos últimos anos no Estado, mas por outro lado, quem escolhe esse caminho o faz por vontade e vocação. É o caso de Juliano de Siqueira Venturini, 26 anos, que ingressou no seminário em 2012. Neste mês, ele concluiu seu estágio na Paróquia São Pedro Apóstolo, em São Pedro do Sul, na Região Central, onde ajudou na formação de coroinhas, batismos e sepultamentos.
Juliano fez um caminho tradicional: entrou no seminário para fazer o Ensino Médio, opção que hoje não é mais possível. Filho único, ele explica que a vocação surgiu aos poucos. Mesmo frequentando a missa e recebendo incentivo do padre de sua comunidade, antes o sacerdócio não era seu objetivo.
— Eu dizia que não queria ser padre. Em 2011 houve um encontro em um seminário em Santa Maria. Eu gostei das estruturas, também tinha muitos outros de Ivorá (sua cidade natal). Primeiramente eu entrei só para os estudos, para jogar futebol, pelo ótimo ensino. Mas durante a permanência, nas orações diárias e no contato com os padres e com as paróquias, isso tudo foi me cativando e vi que era isso que queria para a minha vida. Foi um chamado de Deus — conta.
Quando ingressou no seminário, outros sete jovens entraram também, mas somente ele continuou a trajetória. A vida sacerdotal exige renúncias e nem sempre é fácil conviver com isso, explica o jovem. Também há fatores difíceis de lidar, como a distância da família. Venturini conta vê os familiares a cada três ou quatro meses. Na metade do ano que vem, ele defende o seu trabalho de conclusão do curso de Teologia. Depois disso, será ordenado diácono e, no final de 2023, deverá ser ordenado padre.
— Assim como é uma grande alegria, um sonho de seminarista poder ajudar melhor o povo de Deus, também é uma responsabilidade. Dá um friozinho na barriga sabendo que estamos lidando com as coisas de Deus, nos colocando a serviço dele, sendo instrumento de Deus para levar a palavra, os sacramentos, levar Jesus Cristo para as pessoas. É uma graça, um dom — revela.
Engenheiro e futuro padre
O caso do seminarista Gustavo de Vargas Marconato, 26 anos, é diferente. Filho de pais católicos praticantes, foi durante a graduação em Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que a religião ganhou mais espaço em sua rotina. A partir disso, ele conta que começou a entender que era uma questão de vocação. Formou-se e depois deu início à trajetória de um futuro padre:
— Uma faculdade pode te fazer dar uma contribuição profissional muito importante no mundo. Mas eu passei a me perguntar por que havia aquela inquietação e se eu não deveria experimentar conhecer o caminho do sacerdócio. Ao longo desse tempo foi me despertando uma admiração cada vez maior pela missão do padre no mundo de hoje, e isso me atraiu — revela.
Após a conclusão da graduação, em 2019, procurou a Arquidiocese de Santa Maria, mas também precisava informar sobre o plano ao seus pais:
— Como era uma dúvida, eu não queria angustiá-los, então comentei quando já tinha decidido. Foi um impacto bem grande. O meu pai foi um pouco mais tranquilo. Ele via que como engenheiro eu talvez tivesse um futuro mais distante de casa, e na diocese estaria mais perto. A minha mãe ficou mais preocupada por toda a caminhada profissional que eu já tinha feito. Eu compreendi o lado deles também — relata.
Como ingressou após concluir a graduação, Marconato passou um caminho diferente. Não foi necessário fazer todo o curso de Filosofia, embora tenha estudado algumas disciplinas. Atualmente ele está no segundo ano de Teologia. Faltam três anos para sua ordenação como padre.
Desde criança
O começo da história é diferente para quem identificou a vocação desde a infância. Padre e responsável pela Paróquia Santa Catarina, no bairro Itararé, na região nordeste de Santa Maria, Junior Lago também é o promotor vocacional na Diocese do município. Ou seja, é quem coordena a formação dos novos seminaristas na região. Isso com apenas 27 anos de idade e um ano de ordenação.
Ele nunca teve dúvidas sobre o caminho que queria seguir. Entrou no seminário ainda para cursar o Ensino Médio. Depois, seguiu o caminho normal, com a formação em Filosofia e em Teologia até a ordenação.
— A minha história não tem nenhum fenômeno místico. A minha família sempre foi muito religiosa. Desde pequeno eu via a figura do padre como alguém a ser imitado, e eu imitava mesmo. Os meus pais dizem que eu brincava de rezar missa e achava o máximo. Nas festas juninas, o trabalho era só escolher o noivo e a noiva, porque o padre sempre era eu — brinca.
Para ele, é uma questão de propósito:
— A gente trabalha para o sobrenatural. Ele nos contratou. É uma entrega diária. Você não é padre oito horas por dia e depois para. Não tem um expediente. Se Deus me confiou isso, do jeito que eu sei fazer, é porque ele precisa de mim — afirma.
Ele explica que quem começa a caminhada logo após concluir o Ensino Médio, leva de oito a 10 anos para se tornar padre. Já quem ingressa com uma graduação concluída, precisa de seis a oito anos para ser ordenado.
O caminho para se tornar padre
- O primeiro passo é o candidato informar o seu interesse ao padre da sua paróquia
- A partir disso, será feito um acompanhamento com o candidato pelo serviço de animação vocacional da Igreja até ele estar apto a entrar no seminário
- A primeira etapa da caminhada formativa é o Seminário Propedêutico, que é um local de formação inicial. Cada arquidiocese tem um. Os seminaristas participam de uma rotina de orações e aprendizados iniciais, e geralmente essa etapa dura cerca de um ano
- Depois, é preciso entrar na graduação em Filosofia, que dura em torno de três anos, é o período chamado Discipulado. O curso é feito em universidades e faculdades vinculadas à Igreja, que custeia a formação. Os seminaristas contribuem financeiramente nas condições que podem
- Se o candidato já tem uma graduação concluída, o caso é avaliado individualmente e a etapa poderá ser personalizada
- Depois de estudar Filosofia, é preciso fazer a graduação em Teologia, que dura quatro anos e marca o período chamado Configuração. É nessa etapa em que ele vai aprender os saberes específicos de um padre
- No último ano da etapa da Configuração, o candidato começa um estágio pastoral, auxiliando um padre em uma paróquia
- Depois da conclusão da graduação em Teologia, o candidato é ordenado diácono, função exercida por mais ou menos seis meses. Na sequência, é ordenado padre e destinado para um trabalho