Há cenas de guerra nos vitrais que decoram a fachada do Santuário Basílica Nossa Senhora Medianeira, em Santa Maria, na Região Central. Canhões, devotos em oração e os dizeres "Revolução de 30" fazem menção a um episódio da história do Brasil que ajudou a fundar a primeira igreja do Estado reconhecida oficialmente como basílica pelo Vaticano.
Na década de 30, quando Getúlio Vargas tentava tomar a presidência do Brasil, Santa Maria vivia o medo de um conflito armado. Enquanto parte do Exército não queria apoiar as investidas do então presidente do Rio Grande do Sul, a Brigada Militar era a favor. Devotos de Nossa Senhora Medianeira fizeram orações pedindo que a cidade não entrasse em guerra. Prometeram que, caso a paz reinasse, iriam construir um santuário em nome da santa.
Como não houve troca de tiros e muito menos derramamento de sangue, o entendimento foi de que uma graça havia sido concedida. Assim, em 1935, foi lançada a pedra fundamental do santuário no terreno onde então existia o Seminário São José, no bairro Medianeira. Não passava de um bloco de concreto com uma placa indicando que ali se iniciaria a construção. Como o prédio do seminário precisava ser demolido, levou décadas para que a igreja em nome de Medianeira saísse do papel.
Em 1964, uma comissão de 12 fiéis em Santa Maria foi formada para elaborar o projeto do santuário. A maioria já faleceu, mas um deles ainda está vivo. O advogado José Ery Camargo, 87 anos, conta que o primeiro passo foi a construção de um altar monumento, em 1975, aos fundos do terreno, onde se podia realizar as tradicionais romarias em nome de Nossa Senhora Medianeira. A inauguração do espaço contou com a presença do então cardeal de Veneza, Dom Albino Luciani, que depois se tornaria o papa João Paulo I.
Um ano antes, em 1974, iniciou-se de fato a construção do santuário, sonho que só se concretizou em 1985, quando o bispo da diocese de Santa Maria era Dom José Ivo Lorscheiter. Como havia sido secretário e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o religioso também trabalhou intensamente para que a igreja fosse reconhecida como basílica junto ao Vaticano, titulação que foi concedida em 1987.
O título de basílica encheu Camargo de orgulho.
— Cada tijolo que colocavam para construir o santuário era, para mim, uma realização pessoal. Quando tornou-se basílica, foi o complemento de toda a nossa dedicação. O sentimento foi o de dever cumprido — diz.
Arquitetura moderna
O Santuário Basílica Nossa Senhora Medianeira tem uma arquitetura moderna, bem diferente das igrejas em estilo europeu. É um prédio em formato de leque, com capacidade para cerca de 900 pessoas sentadas — mas o local já chegou a receber 1,5 mil, incluindo os que ficam em pé. Além dos vitrais que contam como se consolidou a devoção à santa na cidade, há outros detalhes que tornam a igreja um ponto interessante.
No subsolo do santuário, há um espaço mais reservado chamado cripta, muito comum em igrejas mais tradicionais. Ali foi enterrado Dom Ivo Lorscheiter, mas também há os restos mortais de Padre Ignácio Valle, que ajudou a difundir o culto à Medianeira no município. O lugar também abriga um ossário, destinado a receber restos mortais de diversas famílias de Santa Maria.
— Muitas famílias trazem os restos mortais aqui justamente por sermos basílica — diz o padre Cristiano Quatrin, atual reitor do santuário.
Para Quatrin, o fato de o santurário ser basílica confere uma mística diferente ao espaço, o que faz com que os fieis se sintam ainda mais acolhidos.
— Vemos, aqui, pessoas entrando de joelhos, chorando, prostrando-se diante de Nossa Senhora Medianeira, que é uma mediadora. Por termos essa mística, as pessoas buscam, aqui, mais consolo. Vir a Santa Maria e não visitar a basílica é como ir à Roma e não ver o papa. Somos um centro de fé importante, recebemos muitos peregrinos. E é Maria que atrai essas pessoas, porque ela conduz a Jesus — diz o pároco.