Scalabrinianos espalhados pelo mundo celebraram a canonização, em 9 de outubro, de dom João Baptista Scalabrini, italiano que foi o fundador de uma congregação responsável por construir grandes obras para o Rio Grande do Sul, como o Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. Reconhecido pelo papa Francisco, no Vaticano, Scalabrini é considerado pela Igreja Católica o Pai dos Migrantes e dos Apóstolos da Catequese.
Em Porto Alegre, o Centro Ítalo-Brasileiro de Assistência e Instrução às Migrações (Cibai Migrações), fundado em 1958 pelos Missionários de São Carlos — Scalabrinianos, é uma das missões inspiradas no trabalho de Scalabrini. Segundo o diretor do Cibai Migrações, Padre Anderson Hammes, a canonização de dom João Batista é a afirmação da importância do trabalho no mundo da migração e da evangelização.
— O que Scalabrini fazia era o caminho certo. Ele faleceu em 1905, mas esteve muito mais à frente. Naquele tempo, ele já falava que o migrante é um ser humano que precisa ser acolhido e promovido, que precisa ser protagonista na vida. Onde ele ia, conversava com todas as autoridades sobre migração, pedindo oportunidade aos migrantes porque eles somam ao país. Ele foi abrindo portas. É o mesmo trabalho que fazemos hoje e ainda encontramos muitas portas fechadas — ressalta o padre.
A canonização de dom João Batista Scalabrini dispensou a prova de um segundo milagre pela Igreja Católica. O italiano foi beatificado há 25 anos, após o Vaticano considerar que teria sido obra da interseção do beato a cura inexplicável de um câncer de ovário. O caso ocorreu na Itália, com uma freira scalabriniana, no início dos anos 1990.
Nascido em Fino Mornasco, província de Como, na Itália, em 1839, Scalabrini cursou Filosofia e Teologia antes de receber a ordenação sacerdotal em 1863. Nos primeiros anos de sacerdócio, foi professor e reitor. Ainda pároco, o religioso despertou para o tema da migração ao visitar, de passagem, a estação ferroviária de Milão e deparar-se com centenas de famílias em condições precárias que partiam rumo ao continente americano.
Com 36 anos, Scalabrini foi consagrado Bispo de Placência em 1876, e 11 anos depois fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos, seguida pelo ramo feminino, a Congregação das Missionárias de São Carlos, fundada em 1895. Também criou a Sociedade São Rafael, em 1889, responsável por prestar assistência em postos de embarque e desembarque.
De acordo com o livro João Batista Scalabrini, Profeta da Igreja Peregrina, de Redovino Rizzardo, publicado pela editora Vozes, em 1974, Scalabrini esteve no Rio Grande do Sul por 59 dias, em 1904. Ele desembarcou em Rio Grande no dia 8 de setembro e começou a visita a 13 municípios para conversar com colonos italianos. O livro conta que ao chegar ao Estado ele foi recebido como grande autoridade da Igreja Católica. A passagem pelo Sul teve jornadas a cavalo de até 10 horas diárias e mais de 6 mil gaúchos crismados. Scalabrini ainda esteve na Argentina, antes de retornar à Itália em dezembro daquele ano. Ele morreu seis meses depois, em 1° de junho de 1905.
As primeiras irmãs missionárias scalabrinianas chegaram ao Rio Grande do Sul em 1895. Atualmente, o legado scalabriniano no Estado é representado pelas missionárias e missionários scalabrinianos, com atuação marcante na saúde, na educação e na acolhida a migrantes e refugiados.
Acolhimento
Em Porto Alegre, a entidade pertencente aos missionários scalabrinianos mantém um centro de atendimento para acolher aqueles que chegam ao país em busca de uma nova vida. No local, os migrantes fazem os novos documentos, recebem ajuda para produzir o currículo, são encaminhados para curso de capacitação em português e também indicados para vagas de emprego.
Atualmente, o Cibai tem 215 pessoas estudando português e mantém parcerias com o Sine-RS e com empresas de diferentes partes do Estado para obterem as vagas de emprego. Padre Anderson destaca que somente em 2021, 13.305 pessoas de 48 nacionalidades passaram pelo Cibai, em Porto Alegre. A maior parte vinda da Venezuela, do Afeganistão e de países do continente africano, mas há na lista também pessoas do continente asiático. No mesmo ano, foram integradas no mercado de trabalho 1.172 famílias migrantes, 942 pessoas colocadas no mercado laboral e 230 microempreendedores abriram seus negócios, entre outras ações.
— Seguimos o legado de Scalabrini, que é dar acolhimento a quem chega ao país e, o mais importante, que a pessoa tenha documentação, saiba o idioma e tenha um trabalho —finaliza padre Anderson Hammes.