Igualdade. A palavra em destaque na fachada do prédio, escrita em quatro idiomas e cores diferentes, resume o principal objetivo da Arena Esportiva de Inclusão Boxer. Localizado na zona norte de Porto Alegre, o espaço é destinado à integração de crianças com deficiência intelectual e transtorno do espectro autista (TEA) por meio do esporte. Para isso, serão ofertadas aulas de basquete, handebol, vôlei e futebol para crianças entre dois e 14 anos com desenvolvimento atípico e típico.
— Ela é aberta tanto para crianças atípicas quanto para típicas, caso contrário, não seria de inclusão. Se fosse só crianças atípicas, elas não teriam convivência com as típicas. Todo mundo vai participar igual, mas cada um no seu tempo — explica o empresário e idealizador do projeto, Fabiano Doca, 49 anos.
Resultado de um sonho antigo do ex-lutador, o projeto da arena passou a ter esse foco depois que Doca começou a treinar adultos dentro do espectro autista, a convite da psicopedagoga e especialista em TEA Nadja Favero. Ele conta que, apesar das dificuldades, se encantou pelo trabalho, já que tinha o desafio de conseguir ajudar pessoas que realmente precisavam e conseguiu comemorar os pequenos avanços de cada uma delas.
A ideia de um espaço inclusivo também foi impulsionada por Wagner Zaccani, 43 anos, ex-preparador físico da Seleção Brasileira Olímpica de Judô, cuja filha, Bella, tem seis anos e síndrome de Rett — condição genética considerada rara, que limita o desenvolvimento motor e cognitivo — e trabalhou ao lado de Doca no treinamento de autistas. Juntos, eles amadureceram o projeto e criaram a arena esportiva por iniciativa privada.
O local possui uma quadra multiuso, a fim de retomar um pouco da rotina colegial que se tinha antigamente, explica o empresário:
— Voltei para minha infância no Alegrete e tudo que eu tive de experiência com esporte para abrir isso aqui, para que as crianças atípicas possam ir a um lugar onde não precisem perguntar se podem entrar, que é a grande dificuldade. Aqui, não vai ter negativa, vamos nos adaptar a todos que entrarem.
Zaccani ressalta que o diagnóstico da filha mudou completamente sua forma de pensar e enxergar as coisas na prática, especialmente a falta de inclusão. O ex-preparador físico utilizou sua experiência para apontar o que funcionava com a menina e os problemas enfrentados por pais de crianças com deficiência. Para ele, a interação entre crianças típicas e atípicas faz bem para ambas, pois ensina a conviver e a respeitar a limitação do próximo.
— É uma questão social e de saúde. E vai ser tanto para o desenvolvimento das habilidades motoras da criança, quanto para os pais, que vão ter um momento para aprender a brincar com seus filhos — afirma.
Emocionado, Zaccani relata que deu uma aula para Bella na quarta-feira (23) e que, mesmo de mãos dadas devido às limitações, ela segurou a bola e conseguiu fazer as atividades propostas:
— Até digo que a medalha agora é outra, porque o que ganhamos com eles é outro tipo de conquista. Me emociono porque, para nós, não tem preço. Fico feliz pela profissão que eu escolhi poder oportunizar isso para as pessoas, essa qualidade de vida, não só uma medalha olímpica, mas isso que fica para os pais e para as crianças.
Etapa de triagem
Para adaptar melhor o serviço ofertado, os idealizadores do projeto estão aplicando um questionário entre os pais interessados em inscrever seus filhos. O objetivo é entender qual o grau da deficiência da criança (leve, moderado ou grave), o que ela gosta de fazer e como é seu comportamento. Nadja Favero atua com a dupla no projeto, além de um psicólogo e um estagiário de Educação Física — juntos, eles fornecem as ferramentas necessárias para otimizar o aprendizado das crianças.
As aulas serão ofertadas nos turnos da manhã e da tarde, com opções de periodicidade (uma, duas ou três vezes por semana) e cada turma terá 10 alunos, que contarão com o suporte de três instrutores.
— Criamos a anamnese (entrevista inicial) junto com a Nadja para ter algumas informações iniciais sobre o aluno, mas a arena estará aberta para qualquer um. Dizemos que aqui é o lugar do sim, não vamos escolher, vamos adequar as aulas de acordo com a demanda de cada criança. Temos um plano inicial de aula, mas ele será adequado a cada pessoa, dentro da sua limitação, para que ela se desenvolva dentro do seu próprio potencial — esclarece Zaccani, que será o responsável técnico pelas atividades.
O espaço teve sua solenidade de abertura realizada no início deste mês e a expectativa de Doca e Zaccani é de que as aulas comecem após o Carnaval, independentemente do número de crianças já matriculadas. De acordo com Doca, a procura já está sendo muito boa e a ideia é ir ampliando as ofertas da arena esportiva aos poucos, para conseguir entregar o tratamento de qualidade que gostaria que todos os lugares tivessem com seus filhos.
— Temos um projeto para atender também os pais enquanto as crianças estiverem em aula, uma atividade ou um momento de descanso — finaliza o ex-preparador físico.
O espaço fica na Rua Gaston Englert, 42, bairro Vila Ipiranga, em Porto Alegre. Informações sobre as inscrições para aulas na arena esportiva de inclusão podem ser obtidas pelo número (51) 99254-6581.