Antes de a pandemia começar e paralisar aulas presenciais, André Luis Destefani Ergy, hoje com 11 anos, cursava o terceiro ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal de Ensino Fundamental Morro da Cruz. Além disso, participava de atividades extracurriculares no Coletivo Autônomo Morro da Cruz.
Com a pandemia instalada, André ficou sem escola e sem as aulas do projeto. Mesmo quando as atividades remotas passaram a ser oferecidas, ele não conseguiu acompanhar. Na casa onde vive com sua mãe, a diarista Gilmara Destefani da Silva, 45 anos, e as irmãs Ana, nove anos, e Sofia, sete, só havia um celular. O acesso à internet até existia, mas de forma limitada, e o aparelho, que pertence a Gilmara, era levado por ela para o trabalho.
– Eu vou na escola às vezes e pego atividades pra eles. Mas aula pela internet, não tem. O André é muito esperto, gosta de assistir jornal na TV, de estudar e aprender. É ruim não ter aula, né? – conta Gilmara.
Há três meses, um celular doado ao Coletivo foi equipado com um chip que oferece acesso gratuito à internet – graças a uma parceria com a Central Única das Favelas no Estado – e entregue a André. Desde então, ele voltou a acompanhar as atividades do coletivo, com aulas de capoeira, música e artesanato. Em breve, a mãe pretende também incluí-lo nas atividades remotas da escola, pela internet. A possibilidade de ter novamente contato com os professores e os colegas do Coletivo deixa o guri, que pretende ser astronauta ou piloto de avião quando crescer, com os olhos brilhando:
– Ah, melhorou demais, né? Ainda não dá pra encontrar todo mundo pessoalmente, mas pelo menos vejo os professores, vejo o que os colegas estão fazendo, as fotos, os áudios. É muito legal.
Tesouro
Mexer no celular novo não foi um problema. Em poucos minutos, aprendeu os comandos do aparelho, que manipula com o maior cuidado, como um tesouro. Atualmente, já ensina as irmãs.
Mesmo assim, o ritmo de participação nas atividades não é o ideal. O principal motivo é o sinal da internet, que é fraco no local onde a família vive. No dia da visita da reportagem, André quis mostrar a aula de música da semana. O professor enviara um vídeo cantando e tocando violão, e pediu aos alunos que respondessem com áudios ou vídeos. O aparelho, porém, não reproduziu o material.
Para melhorar o rendimento do filho e possibilitar que as filhas também participem, Gilmara pensa em instalar uma conexão wi-fi na casa onde a família vive. Ainda esbarra no preço – cerca de R$ 100 por mês –, que comprometeria uma fatia significativa do orçamento familiar.
– Mas é bom pra eles. Quero instalar assim que conseguir – afirma a mãe.
Questionada sobre o número de alunos na mesma situação que André, a Secretaria Municipal de Educação da Capital afirmou que não tem levantamento atualizado. “No momento, nossa prioridade é o atendimento presencial”. Sobre as ações voltadas a este público, a pasta afirma que as escolas foram orientadas a disponibilizar atividades físicas para os alunos que não estão indo. “A modalidade de aula online está restrita, porque queremos retomar os vínculos com os alunos. Além disso, já foram adquiridos 10 mil chromebooks e outros 25 mil deverão ser distribuídos aos alunos que não dispõem de acesso à internet”.