Embora já não seja mais novidade, o #TBT nunca foi tão importante quanto nas últimas semanas. Em distanciamento social, com viagens desmarcadas em razão do coronavírus e encontros adiados, muita gente está relembrando momentos marcantes da vida pré-quarentena com a hashtag Throwback Thursday — em português, Quinta-feira do Retorno.
É o caso do publicitário Cristopher Klein, 25 anos, que já era nostálgico antes da pandemia — canceriano, ele culpa o signo. Em tempos de distanciamento, Cristopher acabou transformando o feed do seu Instagram em um grande #TBT. Com exceção de uma foto de um bolo que fez durante o período em casa, postada com a legenda: “a quarentena me obriga a limpar e cozinhar o tempo inteiro".
Seu feed agora é usado para declarar a saudade da irmã, da orla do Guaíba, das viagens e até “de uns rolezinhos”, como escreveu junto a uma foto sua de bike na frente da Fundação Iberê Camargo.
— Já estou há pouco mais de um mês trabalhando de casa, sem contato com as pessoas, sem festa, sem encontrar amigos. Daí o que eu faço é ficar revirando os álbuns de fotos, relembrando momentos especiais que tive. Em função dessa solidão em que todo mundo está, a gente procura encontrar formas de melhorar as coisas, por mais que seja por um registro visual.
Professora da Faculdade IMED e Presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, a psicanalista Mariana Steiger Ungaretti ressalta que reviver experiências amorosas pelas redes sociais pode fazer com que as pessoas se sintam mais acompanhadas.
— A gente pode não estar tendo experiências presenciais, mas as lembranças ninguém nos tira.
E quando alguém menciona o amigo no seu #TBT, é provável que proporcione o compartilhamento dessa sensação boa.
— Aciona um vínculo, neste momento, de forma virtual. Mas que não é menor por isso. Pelo menos isso (a pandemia de coronavírus) está acontecendo na era digital, imagina como seria 20 anos atrás — observa.
Quem segue nas redes a comunicadora Kelly Matos, da Rádio Gaúcha, sabe que ela gostava de usar o #TBT para lembrar bons momentos. Com a pandemia, isso se tornou ainda mais importante para ela. E não só na quinta-feira, em todos os dias. O que importa é ter um sentimento bom revendo alguma foto.
— O #TBT tem sido uma forma de revisitar momentos felizes e ao lado de quem a gente ama.
Um dos últimos registros é ao lado do jornalista Jorge Bastos Moreno, que morreu há três anos, com a inscrição: “#tbt de faz falta [e deve estar fazendo festa na laje do céu]".
Já a estudante de farmácia Laura Faresin, 22 anos, tem publicado lembranças de seu intercâmbio pela Europa. Ela se surpreende quando as redes sociais lhe lembram o que estava fazendo há exato um ano
— Esses dias, o Instagram me mostrou que, na Páscoa, eu estava indo da Suíça para a Alemanha. Até brinquei com minhas amigas que, hoje, o mais longe que fui foi até a cozinha — diverte-se.
Ela ressalta que o TBT tem que ser visto como um estímulo, para encarar com mais leveza e esperança o isolamento social.
— Quando tudo passar, a gente vai viver momentos mais incríveis ainda, porque a gente vai dar muito mais valor.