De uma hora para outra, novos cozinheiros, padeiros e doceiros surgiram nas redes sociais postando fotos e receitas dos quitutes produzidos nas últimas semanas. É um fenômeno que corre o mundo desde o início da pandemia de coronavírus.
Falar sobre comida tem sido uma das formas de passar o tempo e conectar pessoas pelas redes sociais, seja por uma corrente de WhatsApp que troca receitas ou por uma nova página do Instagram que une moradores de diferentes países compartilhando o prato do dia. Até quem já estava acostumado a dividir seus segredos na cozinha pelo YouTube viu este laço estreitar-se com parentes e amigos também em distanciamento social.
É o caso da nutricionista Simone Bach, de Porto Alegre, que mantém um canal no YouTube e agora se tornou fonte de informação para a própria família. A irmã, que não cozinhava, conta Simone, já fez inúmeras receitas sugeridas pela nutricionista, para a alegria dos filhos. A mãe de Simone, que decidiu aprender a cozinhar, pede dicas toda a hora para a filha.
— Os amigos sempre me escreveram pedindo sugestões. E, durante este período, estão bem mais interessados no assunto, criando adaptações e receitas próprias. Isso é lindo de ver — comenta Simone.
Para a nutricionista, a necessidade de permanecer em casa trouxe a oportunidade de resgatar o hábito de cozinhar a própria comida, uma das ações defendidas por ela. Simone acredita que poder compartilhá-la com a família é um ato revolucionário.
— É voltar às nossas origens. Acho esses movimentos que estão aproximando as pessoas da cozinha a melhor parte da quarentena — resume.
Apesar de gostar de cozinhar, a advogada Viviane Sá, 48 anos, moradora de Porto Alegre, voltou a atuar mais no fogão de casa a partir do distanciamento social. Além de aproveitar enquanto está em teletrabalho, é uma forma de homenagear a própria mãe, Jacira de Azeredo Sá, 85 anos, a mulher que lhe inspira na cozinha até hoje.
Viviane acabou surpreendida por amigos ao receber duas vezes via WhatsApp, em 18 de abril, a corrente que convida pessoas que se conhecem e também desconhecidas a trocarem receitas na chamada #quarantinecooking. Quem recebe o convite deve repassá-lo para outras 20 pessoas e enviar uma receita para o último nome que aparecer na lista.
Ela, que jamais tinha participado de correntes, achou que valia a pena interagir à distância neste período.
— Recebi dos meus dois irmãos e, na mesma data, enviei a 40 pessoas. Até agora, já recebi 17 receitas. A maior parte, de sobremesas. Detalhe: dispensei um terceiro convite para a mesma corrente. Primeiro, preciso cozinhar as que recebi — comenta, aos risos.
Cozinhar tem sido o principal passatempo da bióloga e pedagoga Juliana Omuro, 40 anos, e do publicitário e chef de cozinha Sérgio Ferreira, 35 anos. Namorados, os dois passam uma temporada juntos em Toronto, no Canadá, onde Sérgio mora. Juliana, que estava de férias no local, não conseguiu voltar ao Brasil devido à pandemia. Por gostarem da cozinha, os dois decidiram criar durante a Páscoa a página no Instagram @cozinhando_na_quarentena.
— Temos cozinhado diariamente e procuramos fazer pratos diferentes a cada dia. Desde então, estamos registrando. É fato que nem todas as pessoas têm conhecimento ou ideias suficientes para cozinhar todos os dias. Pensamos, então, em montarmos esse Instagram para incentivar e inspirar as pessoas com estratégias para se virar na cozinha em tempos de quarentena, como pensar no que vai comer a partir dos ingredientes disponíveis, ou possíveis adaptações de receitas — conta Sérgio.
O casal reforça que a estratégia também ajuda Juliana a treinar mais o inglês, postando algumas receitas no idioma. Os dois buscam sugestões na internet e testam as que mais agradam. Apesar de estar há pouco tempo aberta, a página tem interação, e muitos internautas procuram o casal por mensagem privada para tirarem dúvidas, elogiarem e incentivarem a iniciativa.
— Às vezes, nos inspiramos em mais de uma receita do mesmo prato, juntando o que achamos de melhor em cada uma delas. Nós, também, nos inspiramos em receitas familiares, das nossas origens (brasileira, portuguesa e japonesa) e livros de culinária. Além de inventarmos nossas próprias receitas a partir dos ingredientes disponíveis — explica Juliana.
Com o sucesso inesperado da página (há outras com o mesmo objetivo), o casal pretende continuar com ela ativa mesmo depois do fim do distanciamento social. O objetivo será incentivar o reaproveitamento de alimentos e métodos mais efetivos para a preparação de receitas. Juliana pretende unir cozinha e biologia, explicando cientificamente os processos que ocorrem em uma cozinha e ensinando a criação de hortas, por exemplo. Uma culinária mais consciente, como define o casal.
RECEITA PARA FAZER EM CASA
Sugestão da nutricionista Simone Bach
Tortilla a base de ovos e batata
Ingredientes:
- 1 batata inglesa pequena 1/2 cebola
- 1 dente de alho
- 2 ovos
- Sal e pimenta a gosto
- Azeite de oliva
- Salsinha ou cebolinha a gosto (opcional)
Modo de preparo:
- Cortar a batata em rodelas (se for orgânica pode aproveitar a casca).
- Levar para grelhar em uma frigideira antiaderente com 1 fio de azeite de oliva por 3 minutos.
- Após, virar as rodelas para grelhar o outro lado, acrescentar 1/2 cebola picada e 1 dente de alho e deixar cozinhando por mais 2 ou 3 minutos.
- Passado o tempo transferir a preparação para uma tigela, acrescentar 2 ovos e finalizar com sal e pimenta a gosto.
- Também pode acrescentar salsinha ou cebolinha se tiver em casa.
- Após levar novamente para a frigideira com 1 fio de azeite de oliva e deixar dourar em fogo baixo por certa de 3 a 4 minutos de cada lado e está pronta.
- Fica ótima servida junto com uma salada verde e é uma ótima opção para o jantar.