Por Márcia Pettenon
Psicóloga de família, doutoranda em Ciências da Saúde pela UFCSPA
Se esse Sr. Vírus tem seus ditames contra nós, humanos, façamos o mesmo contra ele. Eis o que podemos apreender com a pandemia da covid-19 vivenciada atualmente, em 10 ensinamentos:
- Não subestimar o inimigo. O mecanismo psicológico que pode nos colocar em risco é a negação. Ao negar ou minimizar os danos patológicos e letais da Sra. Covid-19, estaremos sujeitos às graves consequências desse hóspede cruel.
- Eliminar o estado de pânico. Quando nossa mente interpreta que estamos em perigo (quer seja um perigo real ou imaginário), ativamos a produção de cortisol, hormônio associado ao estresse. A partir desse ponto, elevaremos nossos níveis de ansiedade e de medo, pois o organismo se preparará para lutar contra essa ameaça ou fugir dela. Esses sentimentos afetarão nossa capacidade de raciocinar e ponderar os fatos conforme eles se apresentam. Uma mente serena é capaz de ativar todas as estratégias necessárias para a preservação da saúde física e mental. Por outro lado, quando estamos desestabilizados emocionalmente, diminuímos nossa imunidade, abrindo passagem a doenças oportunistas.
- Não buscar culpados. De onde veio? Quem o trouxe? Quem é o paciente zero de minha cidade? Do meu condomínio? Do meu país? Não importa. O que se precisa fazer é aceitar que se trata de uma luta de todos nós. As frases "um por todos e todos por um", "afastados somos mais unidos", "fique em casa", precisam ser as hashtags do momento.
- Exercício da humildade. Somos impotentes diante desse vírus, admitamos. Posturas como a arrogância, a prepotência e o pensamento mágico, "eu sou forte", "sou jovem", "sou atleta", "já sobrevivi a outras tragédias", ou propagar que "a pandemia é uma gripezinha", isso só vai nos conduzir ao óbito ou, no mínimo, a sermos vetores dessa virose. Se somos humanos, somos do grupo de risco!
- O quinto ensinamento é: solidariedade. Esse vírus nos dá um soco no estômago! Como se ele nos perguntasse aos berros, quase que rompendo os nossos tímpanos: por que eu preciso te ameaçar de morte para que tu exercites algo tão simples? Pense nos outros, pensemos. Não estávamos fazendo o mínimo pelos outros e agora temos que fazer o máximo para garantir a nossa sobrevivência. Seria cômico se não fosse trágico. E ao mesmo tempo, é a nossa moeda de troca para que possamos seguir vivendo, como indivíduos, como sociedade e como humanidade.
- Extirpar o egoísmo. Que é o contrário do ensinamento anterior, esse agente maléfico, que, assim como a covid-19, invade nosso Ego e se prolifera até que o grande Eu tome conta de nós e os demais passam a ser só detalhes, tão pequenos que na maioria das vezes só atrapalham a nossa tão gloriosa ascensão. Milhares já foram nocauteados por esse minúsculo vírus, que se torna um gigante quando se apropria do nosso sensível corpo. Assim como o Ego, descontrolado, o faz com nossa mente.
- Exercícios de valores nobres. Hoje quem se importa com quantos mil likes têm? Com quantos mil seguidores angariou? Ou até pagou por eles? Sério? Vocês realmente estavam foram dos trilhos, afirmaria a Sra. Covid-19. Hoje, olhamos pela janela (quem realmente precisa e pode ficar em casa), e sentimos uma nostalgia, uma repentina vontade de ajudar o vizinho idoso a fazer suas compras, a valorizar os profissionais da saúde, os agentes de segurança, os caminhoneiros, os garis, os comerciantes e produtores rurais que estão arriscando sua saúde para garantir a nossa sobrevivência. Mas eles sempre estiveram ali... Como não os vimos antes com esse olhar? Os abraços e os beijos sempre desejaram ser libertados de seus casulos. Hoje, somos nós os enclausurados.
- Exercício do amor ao próximo como a nós mesmos. Parece clichê, bíblico, profético, que seja. Mas que bizarro: é o nosso medicamento. Cuidar dos outros, preservar os outros para que sejamos protegidos desse mal que assola nossa humanidade, e que está ali, aqui. Ops: mais álcool gel, por favor, mais amor pelo amor.
- O nono e penúltimo ensinamento: fé. Duas letras, mas com um poder imensurável. Fé cega? Lógico que não, fé no conhecimento científico, crença nos profissionais da saúde que estão na linha de frente, que de forma exaustiva reforçam todos os protocolos de higienização, salvam vidas, que estão testando quais medicamentos poderão ser nossos aliados, enquanto a vacina não vem, e por último, porém não menos importante: fé em Deus.
- Por fim, esperança. Desejamos que esse filme de terror, baseado em fatos reais, acabe logo e que possamos ter nossa liberdade e tranquilidade de volta, sermos seres humanos melhores, e descobrir, em meio ao caos, que é possível viver com menos (já em preparação para as consequências futuras), que é curioso, e até divertido, buscar dentro de si, de sua casa, de sua família, formas de preenchimento, e que a partir desse corte brutal, aprenderemos pela via do amor.
Hoje, olhamos pela janela (quem realmente precisa e pode ficar em casa), e sentimos uma nostalgia, uma repentina vontade de ajudar o vizinho idoso a fazer suas compras, a valorizar os profissionais da saúde, os agentes de segurança, os caminhoneiros, os garis, os comerciantes e produtores rurais que estão arriscando sua saúde para garantir a nossa sobrevivência. Mas eles sempre estiveram ali... Como não os vimos antes com esse olhar?
Que assim seja!