Na próxima segunda-feira, durante a apresentação de encerramento do ano da Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul (OJRS), o músico Ezequiel Moraes de Paula, 22 anos, deixará o contrabaixo de lado por alguns minutos para ser homenageado pelos colegas do grupo do qual faz parte há nove anos. A reverência tem motivo: ele será o primeiro jovem do projeto social a concluir o Ensino Superior de Bacharelado em Música.
Integrante da segunda turma a ingressar na ação criada pela Secretaria Estadual da Justiça e do Desenvolvimento Social, em 2009, Ezequiel apresentará o recital de graduação — que corresponde ao trabalho de conclusão do curso — no próximo domingo, e se formará em gabinete na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por esta razão, a direção da orquestra decidiu homenageá-lo.
— Passei por tanta coisa para chegar até aqui. Hoje, tudo o que faço é relacionado à música — resume o jovem.
Morador do bairro Vila Nova, na zona sul de Porto Alegre, Ezequiel estudava na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Monte Cristo e tinha aulas de violão, flauta doce e teoria musical na instituição. Foi a professora de educação musical, Maria Helenita Bernál, quem o incentivou a inscrever-se no projeto. Apoiado pela família — o pai é operador de áudio e a mãe, assistente social —, o menino disputou uma das 30 vagas com mais mil estudantes da rede pública. Depois de três fases de testes, que incluíram aptidão para música, prova teórica e três meses de aulas com o grupo, ele foi selecionado.
— Com 1m85cm de altura, cheguei tocando flauta doce e, logo, os professores decidiram que eu deveria tocar um instrumento maior. Entre violoncelo e contrabaixo, preferi a segunda opção porque já tocava violão e baixo — conta.
Das experiências marcantes neste período, recorda uma apresentação em São Paulo e a viagem do grupo ao Uruguai, e de histórias curiosas, como a vez em que tocaram para um teatro vazio na Capital porque os convidados não compareceram ao evento. O momento mais difícil foi no primeiro ano da faculdade, quando não tinha contrabaixo e precisou da ajuda de amigos. Para comprar o próprio instrumento, fez um financiamento coletivo virtual, com o qual obteve metade dos R$ 11 mil necessários. O restante foi parcelado. Para pagar o contrabaixo, conciliou os estudos na universidade com os trabalhos como operador de áudio, professor de música, músico da OJRS e de outra orquestra.
Para o maestro da OJRS, Telmo Jaconi, violinista por 44 anos da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), Ezequiel é exemplo de dedicação e entrega a um objetivo e a prova de que o projeto deu certo.
— Muitos chegam aqui sem acesso a nada, sentindo-se desvalorizados. Minha maior realização é ver o crescimento da autoestima deste meninos e a certeza deles de que estão fazendo algo importante — comenta Jaconi.
A presidente da Orquestra, Carla Zitto, faz questão de destacar que 25% dos 110 atuais alunos do projeto estão na universidade ou prestes a ingressarem em 2020. Para permanecerem na música, recebem como incentivo o vale-transporte, o lanche e o instrumento musical. Eles têm aulas de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h30min. Do grupo, 85 estudantes são contratados por empresas como músicos instrumentistas, por meio do programa Jovem Aprendiz, têm a carteira assinada e recebem meio salário mínimo.
Hoje, Ezequiel é um dos professores contratados pelo projeto social. Quando se formar, seguirá na ação, mas de olho numa oportunidade de mestrado na área, no Brasil ou no Exterior. O apaixonado por jazz e trilhas sonoras instrumentais garante: respira música.
Para ajudar a Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul (OJRS)
- Atende jovens entre 10 e 24 anos, de baixa renda.
- A ONG Associação Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul busca doações de empresas via leis municipal, estadual e federal e aceita doações de instrumentos.
- Contatos: orquestrajovemrs@gmail.com
A apresentação de segunda-feira (16/12)
O QUÊ: concerto de encerramento do ano da OJRS
QUANDO: segunda-feira (16), às 19h
ONDE: Teatro do Centro Histórico e Cultural da Santa Casa
QUANTO: entrada franca, mediante distribuição de ingressos na bilheteria