Após viajar 500 quilômetros para fazer as provas do primeiro dia de vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no último sábado (23), a estudante Maria Eduarda Dalcin Rios, 18 anos, passou por um sufoco: achou que perderia a chance de ingressar em Administração na universidade porque não poderia entrar na sala de provas. Ao chegar na Escola Técnica Estadual Parobé, em Porto Alegre, onde faria a primeira etapa do processo seletivo, se deu conta de que não estava com sua carteira de identidade.
Já em outro lugar da cidade, o motorista de app Egon Heitor Rubenich, 63 anos, já conduzia outra passageira quando esta achou o documento de Maria caída atrás do banco do motorista. Quando Heitor viu a identidade, logo reconheceu a estudante da primeira viagem.
Moradores de Alegrete, na fronteira oeste do Estado, Maria e o namorado chegaram à Capital no sábado de manhã e ficaram na casa da tia dela, no Centro Histórico. Como não conheciam a cidade, eles solicitaram um carro por aplicativo para ir até o local da prova. De acordo com a vestibulanda, a corrida de poucos minutos foi agradável.
— Ele (o motorista) foi muito atencioso desde o início, perguntando sobre o que pretendíamos cursar e tudo mais — relata a estudante, que estava com canetas, celular e o documento em mãos ao embarcar no veículo.
Quando desceu do carro, pouco depois das 14h, e percebeu que não estava mais com a identidade, Maria tentou contato com a empresa de transporte, mas não obteve retorno. Para não perder as provas, ela voltou para casa em busca de outros documentos.
Enquanto isso, com o fim da outra viagem que Heitor fazia, começou uma pequena maratona para ajudar a vestibulanda.
— Fiquei muito agoniado. Me coloquei no lugar dela, pensei em toda a preparação e o deslocamento de Alegrete para Porto Alegre — lembra o motorista, que é de Lajeado e todo fim de semana visita a namorada na Capital.
Heitor conta que, imediatamente, desligou o aplicativo e voltou à Escola Parobé para tentar entregar a identidade para a jovem. Mas em uma instituição do tamanho destas (que atende mais de 2,5 mil estudantes no período escolar) como encontrar a candidata?
— Cheguei lá 14h28min, estava em tempo (de Maria fazer a prova). Falei com o segurança e olhamos a lista de inscritos que estava fixada no muro, a sala dela era a 109 e eu pedi para o porteiro levar (a identidade) e ele prontamente atendeu.
Mas Maria ainda não estava na sala. Em meio ao nervosismo, a estudante retornou ao local com alguns documentos para tentar fazer as provas. Quando entrou na sala, a fiscal lhe entregou a identidade e explicou o ocorrido.
— Na hora fiquei sem entender, porque eu estava muito apavorada achando que não iria conseguir fazer a prova.
O motorista, que está na empresa de transporte há pouco mais de dois meses, esperou do lado de fora até os portões fecharem na esperança de falar com a estudante, mas não a viu. Mesmo assim, Heitor queria saber se Maria havia conseguido fazer as provas, e pediu para que a enteada tentasse encontrá-la nas redes sociais.
A vestibulanda também tentou contatar o motorista para agradecê-lo, mas não conseguiu. Na segunda-feira (25), a empresa forneceu o número de Maria e, prontamente, Heitor entrou em contato com ela:
— Mandei uma mensagem para ela e ficou tudo esclarecido, todo mundo ficou feliz — conta Heitor.
Comovida pela solidariedade do motorista, a estudante fez uma publicação nas redes sociais contando a história. Para ela, a atitude de Heitor foi uma imensa alegria e a prova de que pode haver um mundo melhor:
— Atualmente são raras as pessoas, vulgo anjos, como esse senhor, que se preocupam e se importam com o próximo.
Segundo Heitor, é de sua natureza se colocar no lugar das pessoas e não se preocupar somente com ele mesmo.
— Eu fiz a minha obrigação de voltar lá e tentar consertar, ajudar ela. Não deveria ser uma exceção o meu caso, deveria ser uma prática normal entre as pessoas.
Para o segundo fim de semana de provas, que inicia neste sábado (30), os dois combinaram que Heitor novamente levará a estudante à Escola Parobé. Como retribuição, o motorista brinca que gostaria apenas de uma coisa: que Maria vá bem no vestibular e consiga a tão sonhada vaga no Ensino Superior.
Produção de Jhully Costa