— Uma medalhinha para ti.
— Mas esse não é meu time.
O menino de sete anos se afasta correndo. E volta. Traz nas mãos uma medalhinha do outro time. Acerta em cheio o coração daquele que se tornaria seu pai, independentemente de torcerem para Grêmio ou Inter. O rápido diálogo marcou o começo de uma história de amor que pode — e deve — se multiplicar: a adoção.
O analista de sistemas Nilson Ayala Queiroz, 57 anos, e a esposa, a arquiteta Karine Capeletti Queiroz, 42 anos, adotaram o menino de sete anos e um irmão de quatro. O primeiro encontro, o da medalhinha, foi em 2012. Agora, o casal se dedica à causa. No dia 26 de maio, a família completa será uma das participantes da 1ª Corrida pela Adoção, que já tem 700 inscritos e quer chamar a atenção para quem busca uma família: o Rio Grande do Sul tem 5 mil crianças e adolescentes vivendo em casas de acolhimento. Só na Capital, são 1 mil.
O evento, que é uma parceria entre Ministério Público (MP), Poder Judiciário, prefeitura de Porto Alegre, Movimento Pais do Coração, Corpa e Banrisul, ocorrerá na pista de skate do Parque Marinha do Brasil. A iniciativa reunirá famílias que adotaram e pessoas candidatas a adotar, simpatizantes e crianças e adolescentes que vivem em casas de acolhimento.
— A corrida é uma oportunidade para que as pessoas conheçam as crianças e adolescentes e para que eles tenham o direito ao convívio social. Além disso, existe a chance de que eles ganhem padrinhos. Às vezes, as famílias não querem adotar, mas acabam apadrinhando, o que já é muito bom — diz a promotora da Infância e Juventude de Porto Alegre Cinara Vianna Dutra Braga.
Encontro entre acolhidos e possíveis padrinhos afetivos
No local, haverá uma tenda de serviços, onde acolhidos poderão conversar com eventuais candidatos e interessados poderão tirar dúvidas com técnicos do MP e do Judiciário sobre trâmites de adoção e de apadrinhamento afetivo. Queiroz, que preside o Movimento Pais do Coração, que busca "inspirar, acelerar e qualificar" as adoções, fala sobre o espírito da corrida:
— Ela começa inspirando.
Quando o assunto é "acelerar", o analista de sistemas sabe bem o que significa o contrário. Depois de conhecer os filhos em uma casa de acolhimento em Canoas e de ter a guarda provisória deles, sofreu por quatro anos a angústia da indefinição.
— Esperamos quatro anos para a doação definitiva estar formalizada. Imagina ficar pensando que tu pode perder teus filhos? — lembra Queiroz, que já passara com a esposa por dez anos de expectativa tentando engravidar.
Para tentar contribuir na facilitação desses trâmites, Queiroz foi o idealizador de um aplicativo lançado ano passado pelo Poder Judiciário em parceria com o MP e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). O aplicativo Adoção RS tem por finalidade aproximar possíveis pais e filhos do coração e incentivar a flexibilização dos perfis desejados. A ferramenta traz vídeos, fotos, desenhos, sonhos e expectativas de dezenas de crianças e adolescentes que aguardam ser adotados no Estado.
— As famílias já falharam, o Estado se esforça, mas cabe a nós, gaúchos, abrirmos os olhos e o coração para as quase 5 mil crianças e adolescentes institucionalizados no Rio Grande do Sul — ressalta a promotora Cinara.
1ª Corrida pela Adoção
- Quando: dia 26 de maio, às 8h
- Onde: Avenida Edvaldo Pereira Paiva, junto à pista de skate do Parque Marinha do Brasil
- Modalidades: 10 km, 5 km e 3 km, caminhada e circuito infantil
- Categorias: masculino e feminino
- Informações para inscrições: até o dia 20 de maio, neste site