Todas as noites, antes de dormir, o estudante de Ensino Fundamental H., 13 anos, fecha os olhos e concentra-se no mesmo pedido durante as orações: ter uma nova mãe e um novo pai. Desde 2011, ele vive em uma das casas lares de uma ONG, localizada no bairro Sarandi, em Porto Alegre. Com o lançamento do aplicativo Adoção, em agosto, ele renovou o desejo: H. está entre as crianças e os adolescentes do Estado cadastrados no programa para serem adotados.
Criado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), em parceria com a PUCRS e o Ministério Público Estadual, o Adoção reúne informações como fotos, vídeos, cartas, desenhos e características físicas dos aptos à adoção no Estado e está disponível para ser baixado nas lojas online para Android e IOS. O comunicativo H., que sonha em jogar pela Seleção Brasileira de futebol, gravou um vídeo pedindo para ser adotado.
90% das pessoas que pretendem adotar querem crianças de até 6 anos
Segundo a juíza-corregedora e coordenadora da Infância e Juventude do TJ-RS Nara Cristina Neumann Cano Saraiva, nos primeiros 15 dias do aplicativo, foram registradas 28 manifestações de interesse. Destas, 11 deram prosseguimento e estão em processo de aproximação. Dos 11 interessados, oito são do Rio Grande do Sul.
— Das crianças que tiveram interessados, a faixa etária com maior procura é a de 12 anos, com 31%. Já é uma vitória porque crianças maiores de 10 anos, que têm irmãos na mesma situação ou sofrem de algum problema de saúde são as mais rejeitadas por quem deseja adotar. Hoje, 88% dos 620 aptos à adoção têm entre 11 e 17 anos de idade. Mas 90% dos pretendentes querem crianças de até 6 anos — resume a juíza.
Só cadastrados têm acesso às informações
O acesso a todas as informações das crianças e dos adolescentes é restrito aos pais de todo o Brasil registrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), independentemente do Estado em que moram. Eles são identificados a partir do CPF e do e-mail cadastrado no programa. A partir da realização do cadastro básico (os passos são indicados no próprio aplicativo), a pessoa seleciona o perfil que procura. Imediatamente, se houver inscritos com o mesmo perfil, eles surgirão na tela. A indicação de interesse em adotar só será finalizada depois que os pais registrados finalizarem a busca e clicarem em "interesse em adotar". A partir daí, o TJ-RS deverá entrar em contato em até 72 horas com o interessado.
Hoje, há 5 mil pessoas do Rio Grande do Sul — 500 somente em Porto Alegre — dispostas a adotarem e 620 crianças e adolescentes no Estado esperando uma nova família. H. sonha em deixar a fila antes de completar 16 anos. Até 2016, o adolescente dividiu a mesma casa lar com o irmão mais novo. Naquele ano, porém, os dois foram separados de moradia pela equipe técnica porque o caçula seria adotado. Foram meses de preparação até a despedida. Hoje, H. tem a liberação dos adotantes do irmão para visitá-lo. Enquanto espera pela própria mudança, revela com alegria ter sido apadrinhado por um casal.
— Gosto muito daqui, mas todos os dias peço a Deus para me ajudar a ser visto por uma família que me cuide e me proteja. Rezo bastante mesmo. Não perco a esperança de ser visto no aplicativo — diz o guri.
Como acessar
Baixe o aplicativo Adoção. É gratuito e está disponível nas lojas online para Android e IOS.
Manual de uso
O TJ-RS disponibilizará, até o final desta semana, uma aba com todas as informações sobre o aplicativo, incluindo um manual de uso, neste site jij.tjrs.jus.br para facilitar o acesso ao serviço.