Para comemorar seus 57 anos nesta quarta-feira (1º), o Zoológico de Sapucaia do Sul oferece entrada gratuita para pedestres e turbinou a visitação no feriado do Dia do Trabalho. Até as 17h desta quarta-feira, a expectativa da administração é receber público de 13 mil pessoas, superando as 12 mil do ano passado.
A entrada é de graça apenas para pedestres. Veículos particulares pagam R$ 50 para entrar, e motos, R$ 20. Nos demais dias do ano, o ingresso unitário custa R$ 10, com 50% de desconto para idosos e estudantes. Crianças até seis anos são isentas. Há coleta de alimentos na chegada, mas a doação não é obrigatória.
Devido à grande presença de público, a Brigada Militar reforçou o policiamento dentro e no entorno do zoológico, e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) multou veículos que estacionaram na BR-116. Um terreno ao lado da rodovia já estava lotado às 9h, meia hora após a abertura dos portões. Em 2018, o espaço foi explorado por guardadores de carro que constrangiam os visitantes.
— Que bom que tem polícia. Ano passado, os flanelinhas cobravam R$ 30 de quem queria estacionar — contou Caroline Toledo, atendente do parque.
Visitando o zoo pela primeira vez, Isabelly da Costa Freitas, quatro anos, observava, impressionada, os camelos, mas revelou que o foco era outro:
— Eu quero ver o leão e os macacos!
Moradores de Sapucaia do Sul, os pais de Isabelly, Fabiano Freitas, 41 anos, e Samanta da Costa, 31, relembravam a época dos passeios de trem pelos principais pontos dos 160 hectares que podem ser visitados.
— Era mais bem cuidado. Tinha tipo um bondinho que era muito bom — compara o motorista, apontando para os trilhos abandonados e quase cobertos pela grama.
Retorno para celebrar união
O complexo no qual está o zoológico abrange a área da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, totalizando 780 hectares. As crianças, principalmente, é que elegem as "estrelas" do lugar.
— O urso é um dos animais mais espertos — garantia Domine Chaian Prestes da Rosa, nove anos.
O falante estudante do terceiro ano do Ensino Fundamental chamava a atenção pelo conhecimento. Os avós do aspirante a professor percorreram os 25 quilômetros entre Sapucaia e Estância Velha para celebrar três anos de união.
— A primeira vez que viemos foi em 1983, quando a gente estava em um orfanato. Nos conhecemos lá e vínhamos sempre aqui no zoológico. Mas faltava algo, tinha um sentimento estranho ao ver as famílias — contou, emocionada, a vendedora Ceomara de Fátima Bernardes, 43 anos.
A mãe morreu quando ela tinha apenas oito anos. O marido, Ruberley de Oliveira Júnior, 43 anos, lembrou que foi abandonado pela família, natural de Caxias do Sul. Como amigos, eles cresceram no Lar de Padilha, zona rural de Taquara, no Vale do Paranhana. Namorados na adolescência, ficaram sem contato por 30 anos, quando se reencontraram em uma rede social.
— Sentia que éramos excluídos ao andar no zoológico. Hoje, estamos voltando casados — diz.
As áreas mais disputadas foram as das churrasqueiras, ocupadas já nas primeiras horas da manhã. Morador de Novo Hamburgo, Kirki Douglas, 27 anos, carregou um cooler com gelo, repleto de cerveja, e um saco de carvão para o tradicional "salchipão".
— Tem salsichão, pão e alguma coisinha pra beber. A gente vem hoje que é de graça. Tem que aproveitar — afirma, entre risos dos amigos e da esposa.
Estrutura precária, mas animais bem cuidados
O clima de feriado, com ruas tomadas por crianças e pais empurrando carrinhos de bebês, em nada combina com o ar de abandono da estrutura. Apesar de o gramado não aparentar falta de zelo, e a poda das árvores não comprometer a paisagem, há áreas com cercas de arame corroídas ou até mesmo caídas. As contenções de madeira que delimitam o espaço de observação entregam a idade das construções. Nas gaiolas, paredes tem tijolos com mais furos do que originalmente foram forjados.
A bióloga Vanessa Souza, 30 anos, confirma que a verba para investimentos é escassa. Mas rejeita qualquer crítica sobre falta de suprimentos aos 1.470 animais.
— O Estado nunca faltou em remédios e comida, e tudo de excelente qualidade — ressalta.
No zoológico são feitas pesquisas e reinserção de animais na natureza. Vanessa relembra que os "moradores" enjaulados não foram tirados do seu hábitat natural.
— Temos muitos próximos da extinção que foram reproduzidos em cativeiro. Os demais são fruto de apreensões, retirados de traficantes ou originários de outros zoológicos.
Dentre as funcionárias mais antigas, Márcia Maria Weber passou 40 dos seus 59 anos de vida no local. E ela afirma que não quer sair.
— Continuo a luta. Cheguei ainda com 18 anos, como auxiliar de escritório, e não quero sair — revela a técnica em educação ambiental.
Privatização a caminho
Fundado em 1962 pelo então governador Leonel Brizola, o zoológico passa por um processo de privatização. O edital com as regras para os interessados em explorar o local foi publicado em 8 de abril no Diário Oficial do Estado. Nos primeiros três anos, o zoo receberá investimentos de R$ 35 milhões, segundo previsão do secretário de Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos.
— O Estado foi procurado por mais de três empresas, buscando informações. Então, não acredito em licitação deserta — afirma, ao explicar que, caso não haja interessados, há possibilidade de analisar e rever o edital, "para se tornar mais atraente", como classificou.
A concessão será por 30 anos, com valor contratual estimado em R$ 59 milhões. A abertura das propostas será em 28 de maio. O Estado não informa quantas empresas já entregaram os documentos, justificando que isso garante a lisura do certame.