Pelo menos três empresários de Ametista do Sul – dois deles, ex-garimpeiros – trocaram de ramo e estão investindo no turismo a partir do poder místico das pedras. O ex-dono de garimpo e ex-prefeito Silvio Poncio, 47, fundador da pirâmide, transformou uma das minas desativadas de seus familiares em galeria subterrânea para maturar os 13 tipos de vinhos finos produzidos pela vinícola Ametista, mantida pelos Poncio. O espaço funcionou como garimpo de ametista, ágata e citrino durante 35 anos. Atualmente, além de guardar a produção, a galeria atrai esotéricos de todo o país, que buscam o silêncio e a temperatura constante e natural de 17ºC para meditações.
A mina desativada está a 300 metros de profundidade, tem 300 metros de trilha com pedras ametistas incrustadas no basalto das paredes e um espaço único para degustação dos vinhos, com mesas de pedras e barris de carvalho francês.
— Nós, que somos do setor de pedras, sempre acreditamos no poder delas. Os vinhos daqui são especiais porque levam a energia que vem direto da terra — acredita Silvio, que deu o nome de Ágata à marca do vinho produzido pela família por acreditar que a pedra traz vida longa e prosperidade.
Foi pensando em uma nova vida que o comissário de polícia Alcindo Zilch e a mulher dele, a pedagoga Cleusa Zilch, ambos de 49 anos, aposentaram-se para investir em um hotel na área central de Ametista. Há dois anos, o casal se reveza na administração do empreendimento, que com frequência está lotado. De tanto receberem grupos de esotéricos, os dois estão percorrendo caminhos que jamais imaginavam conhecer.
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Há um ano, devido aos pedidos e à procura dos próprios hóspedes, o comissário aposentado começou a estudar as características das pedras extraídas em Ametista do Sul para produzir catalisadores de energia de forma artesanal. As peças, que podem ter diferentes tamanhos e estilos, segundo Alcindo, absorvem as energias negativas do ambiente e as transformam em bons fluidos.
Ele explica que prefere trabalhar com a própria ametista, porque a pedra “é a da transmutação, da sabedoria e da purificação”. Outra bastante utilizada é a turmalina negra, neutralizadora de energias negativas.
— Passei a acreditar no poder dos orgonites feitos com as pedras extraídas do nosso solo quando comecei a ouvir meus hóspedes. Muitos deles são terapeutas holísticos. Vinham comprar as pedras para revender a energia delas em outros lugares. Então, pensei: por que não posso fazer aqui o que faz bem para os outros lá fora? — questiona Alcindo, que já pensa em aprender técnicas ligadas às terapias holísticas.
A espírita Cleusa acredita na troca de bons fluidos com os hóspedes. É ela a responsável por reenergizar os minerais expostos no hotel — a cada nova chuva, as pedras são colocadas numa área externa para serem limpas. Sempre atentos aos pedidos dos clientes, os dois planejam ampliar o hotel nos próximos meses. Um dos espaços que deverão ser criados é a área de meditação, no último andar.
— Os nossos hóspedes pedem mais esse espaço do que uma sala de ginástica, que só será construída bem mais adiante — planeja Alcindo.
Outro que deixou o garimpo da família para dedicar-se ao turismo é Jucemar Cadena, 51 anos, conhecido no município pela inovação. Junto aos irmãos, inaugurou no início deste ano um restaurante subterrâneo na área que era de uma mina desativada de ametista. A família também ergueu um hotel, uma loja de joias e artigos produzidos com pedras semipreciosas, além de um belvedere às margens da rodovia que dá acesso a Ametista do Sul. Aos visitantes mais curiosos, ainda há a possibilidade de visitar a mina da família, que está em atividade, ao lado do restaurante.
— Como a temperatura aqui dentro da mina é sempre a mesma, independentemente de estar 40ºC lá fora, achamos que a experiência no restaurante seria bem diferente. E está sendo – vibra Jucemar, que alega ainda estar aprendendo a gerir o negócio. – Num único final de semana, chuvoso, recebemos mais de 400 pessoas para o almoço.
Empolgado com clientes que ficam sabendo do restaurante pelas redes sociais, o empreendedor planeja algo ainda mais curioso: está construindo suítes do hotel dentro de outra parte da mina desativada. E com direito a piscina térmica.
Além de inovarem no município, Jucemar e os irmãos criaram 40 novos postos de emprego. Desses, 30 funcionários são parentes que estavam sem emprego ou em outras funções, como o próprio garimpo.
— Esse sonho foi construído com o nosso suor dentro dessas minas. Acredito que as pedras me deram a força necessária para progredir — ele afirma.
Esta é a terceira parte desta reportagem. Leia as outras partes:
Parte 1
Parte 2
Parte 4