O hunsrückisch é um dos legados que o agricultor Heldo Berg, 57 anos, da localidade de Walachai, em Morro Reuter, pretende deixar para os quatro filhos – Aline, 10, Alcido Neto, 12, Almir, 15, e André, 17. Na casa da família, que se completa com a mulher de Heldo, Iara, 36 anos, e a mãe dele, Hulda Berg, 83, não se fala português. Todos, exceto a matriarca, sabem a língua oficial do Brasil, mas Heldo insiste em continuar exigindo dos filhos a comunicação no dialeto alemão.
— Nós fomos acostumados desde pequenos a falar sempre em alemão com meus avós e meus pais. Quero continuar fazendo o mesmo. Eles podem falar em brasileiro, mas precisam falar em alemão para não esquecerem porque é mais difícil. O brasileiro vem rápido. A Aline, às vezes, já não quer falar o alemão. Mas eu insisto. Não falo em brasileiro com ela. Quando eles devem sair para procurar emprego na fábrica (de calçados, localizada na área central de Walachai), daí eles necessitam do alemão. Porque aqui quase todos são alemães — explica Heldo, que, mesmo tendo frequentado a escola da comunidade, tem dificuldades para se expressar em português.
Aline, a mais nova, não quer continuar falando hunsrückisch. Compreende tudo o que o restante da família fala, mas prefere responder em português. Só que, entre os Berg, dentro de casa, é proibido continuar a conversa se não for no dialeto. Um dos motivos alegados pelo patriarca é que a mãe dele, Hulda, não entende bem a língua oficial do país.
— A vó participa de todas as conversas. A gente não deixa ela de fora — explica o agricultor, antes de traduzir para Hulda o que acabara de falar em português.
André, o primogênito, foi quem mais sofreu nos primeiros anos letivos. Com dificuldades para se comunicar, quase desistiu de estudar. Foi quando a direção da escola sugeriu aos pais que ele consultasse uma fonoaudióloga. Os treinamentos ajudaram o menino a falar em português.
– No começo, foi muito difícil. Eu não sabia nenhuma palavra. Não conseguia compreender os tempos verbais. Os colegas que sabiam português me ajudavam com a tradução. A fono foi importante para o meu aprendizado – explica André.
Aluno do terceiro ano do Ensino Médio numa escola do Centro de Morro Reuter, o adolescente hoje se comunica em hunsrückisch, no alemão padrão e, ainda, em português, inglês e espanhol. No dialeto, é o mais fluente entre os irmãos. Gosta de se comunicar em alemão. Tanto que ainda mantém um carregado sotaque quando fala em português – com perfeição.
Dos quatro filhos, também é aquele que mais tem proximidade com a vida rural sonhada por Heldo para eles. Aos sábados e nas férias escolares, André ajuda o pai no campo. Entre maio e setembro, os dois trabalham no corte e no descasque das acácias, que são vendidas ainda na primavera.
Exímio descascador de toras, Heldo trabalha na função há 32 anos e ensina ao filho a lida que ajuda no sustento da família. Uma tonelada somente de cascas rende R$ 250. Para ter a quantidade, é preciso trabalhar pelo menos oito horas diárias durante duas semanas. O valor do metro quadrado de toras depende da qualidade da madeira. As que são descartadas pelo comprador acabam virando lenha para a família — o que ajuda também a não gastarem com gás de cozinha.
Nos meses quentes, dedicam-se às plantações de arroz, feijão, milho, diferentes tipos de batatas e hortaliças. Com o auxílio de Iara, que se dedica também aos cuidados da casa e da sogra, ainda criam porcos, gado e galinhas. Tudo para consumo da própria família. Nos Berg, apenas açúcar e farinha são comprados no comércio. Para a rotina árdua entre segunda e sexta-feira, a família desperta por volta das 5h e vai dormir às 21h. Os sábados e os domingos são de descanso.
Enquanto o filho mais velho parece estar sendo preparado para assumir os negócios da família, os três mais jovens ainda não sabem o destino que pretendem traçar. Por enquanto, seguem apenas estudando na instituição de ensino de Walachai. Aline está no quinto ano, Alcido Neto, no sexto, e Almir, no nono ano. Heldo fez questão de instalar uma rede de internet para que os filhos possam pesquisar e conhecer o mundo para além da comunidade.
— Meu desejo é que pelo menos um deles continue cuidando das nossas terras e da nossa casa. É muito importante manter a história da nossa família — afirma Heldo, apoiado por Iara, com quem é casado há 18 anos.
A cada seis anos, a casa azul de janelas brancas, no início da Rua Nova Esperança, recebe, na parte externa, camadas de tinta que a protegem das intempéries. Ao contrário das paredes e aberturas, os alicerces de cedro-canjerana e as tábuas de louro freijó do piso interno dos três cômodos permanecem intactos desde a construção do prédio, em 1848. Morada da família Berg há quatro gerações, a casa construída em enxaimel foi erguida por Jacob Berg, tataravó de Heldo. São duas construções, típicas do século 19. Uma das casas tem três grandes peças para os quartos e o sótão, enquanto a outra parte serve como cozinha e sala.
— Essa casa é simples, pois gostamos de simplicidade, mas é uma relíquia. A história de toda a nossa família foi construída aqui — emociona-se Heldo.
“Terra longínqua e de difícil acesso”
Quem nasce e cresce em Walachai carrega essa singularidade que atravessa gerações: para um filho da localidade, o passado jamais é esquecido. É reverenciado.
Basta caminhar na comunidade que um dia foi identificada pelos desbravadores como “terra longínqua e de difícil acesso” — é este o significado do nome, em alemão antigo. O fundador, Mathias Mombach, foi homenageado com o nome da única avenida pavimentada da comunidade. Na mesma via, as casas centenários em enxaimel — técnica trazida pelos imigrantes alemães, cujas paredes são montadas com pilares de madeira encaixados e os espaços entre eles preenchidos com barro ou tijolos — distinguem-se das casas de alvenaria recém construídas. No cemitério, túmulos erguidos ainda no final do século 19, com frases escritas somente em alemão, dividem o mesmo espaço com jazigos recentes.
Se nas ruas e no comércio local o dialeto hunsrückisch — trazido pelos primeiros moradores, há quase dois séculos — segue vivo, dificilmente se encontra alguém que sabe escrevê-lo. O hunsrückisch sobrevive quase exclusivamente por meio da comunicação oral entre os habitantes de Walachai. Palavras em português surgem misturadas em meio aos diálogos — quando não existe tradução para elas.
Nos primeiros 110 anos de existência de Walachai, os imigrantes jamais aprenderam português no povoado. No início da década de 1940, porém, tudo mudou. À época, em meio à II Guerra Mundial, o Brasil declarou guerra contra a Alemanha, e o então presidente Getúlio Vargas assinou um decreto proibindo que se falasse em alemão publicamente em território nacional. Foi a partir da lei que a escola de Walachai passou a ensinar a Língua Portuguesa. Moradores mais antigos contam que quem se negasse a se expressar em português recebia castigo. Poucos aprenderam a se comunicar nas duas línguas. Talvez venha daí o isolamento que por décadas deixou a região ainda mais distante das localidades vizinhas do Vale do Paranhana.
Hoje, a maior parte da população local já se comunica em português por necessidade de adaptar-se à evolução da região e à chegada de moradores de outras partes do Estado. Mas o único lugar da localidade onde o hunsrückisch não é a língua padrão segue sendo a Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Rui Barbosa, que tem, no total, 122 alunos.
Quando cruzam a entrada principal da instituição, as crianças não são proibidas de falarem o dialeto, mas, isso sim, estimuladas a se comunicarem apenas em português. Como em todas as escolas do município, o alemão padrão — que tem diferenças, na comparação com o dialeto — é disciplina regular e praticada em sala de aula uma hora por semana. A atual professora de alemão e ex-diretora da instituição Keina Werle Backes, 34 anos, que morou na localidade por dois anos, recorda que até cerca de uma década os alunos da educação infantil chegavam à Rui Barbosa apenas se comunicando em hunsrückisch.
— Gradativamente, isso foi mudando. Hoje, são exceções os que chegam à escola falando só no dialeto. Acredito que seja porque as mães começaram a trabalhar em outras áreas que não a agricultura, e aí tiveram de deixar os filhos nas creches ou com as tias crecheiras, que falavam português. A escola não proíbe o aluno de falar o hunsrückisch. Porque se expressar na língua materna é sempre mais fácil em momentos de tensão ou quando ocorre, por exemplo, um conflito. O dialeto segue sendo estimulado nas famílias porque os mais velhos não falam português. Por isso, esse alemão segue sendo difundido entre os mais jovens de Walachai — explica a professora.
Preocupada com o futuro da localidade, em 2015 e 2016 Keina propôs aos familiares dos estudantes viagens para outras partes do Estado. Em cada uma delas, fazia questão de convidar os pais para seguirem junto, nos ônibus que cruzavam o Rio Grande do Sul rumo a paisagens até então desconhecidas para todos. Em 2015, com um ônibus repleto de alunos do quinto ano e alguns parentes deles, Keina atravessou 960 quilômetros de ida e volta até São Miguel das Missões para que os moradores assistissem ao espetáculo de som e luz de Natal em meio às ruínas jesuíticas. Saíram de madrugada e retornaram após o evento. No ano seguinte, a professora levou dois ônibus até Pelotas, para visitarem a Fenadoce. Foram mais 760 quilômetros de ida e volta.
— Me chamava atenção o desconhecimento deles sobre o que existe fora daqui. Só viam e ouviam pela televisão e pela internet. Minha ideia sempre foi mostrar o mundo lá fora para que valorizassem a própria comunidade. Em Walachai, os pais passam para os filhos a responsabilidade de preservarem as histórias de suas famílias — justifica a professora.
Mas, diferentemente da explicação de Keina, a agricultora Magdalena Büttenbender Dieter, 60 anos, não sabe para quem deixará as terras que já estão sob os cuidados da quinta geração. As filhas Ana, 23 anos, e Maria Marta, 26, optaram por trabalhar num supermercado de Morro Reuter. Magdalena e o marido, Carlos Leopoldo Dieter, 58 anos, são os únicos responsáveis pela lavoura de aipim e pelo cuidado com as vacas leiteiras. Eles produzem e comercializam queijo nas redondezas. Para ampliar a renda familiar, o casal cuida de um bar no balneário de Rio Loch, que pertence a Walachai, na divisa com o município de Santa Maria do Herval. Assim como os Berg, a família também segue vivendo nas duas casas construídas pelos antepassados. Uma serve abriga os quartos, e a outra, a sala e a cozinha. Apenas uma operadora telefônica funciona na região. Conectada, Ana sabe direitinho em quais locais da casa o sinal de telefonia fica mais forte: na escada do banheiro e junto à estante do aparelho de televisão. Na casa dos Dieter o dialeto é a língua falada. Ana prefere responder em português, mas acaba sendo convencida a seguir falando em hunsrückisch.
— Aqui tu tens a tua paz, mas é afastado de tudo. Tenho um carro, e isso facilita a vida para sair de Walachai — conta Ana.
Há dois anos, Magdalena precisou sair da comunidade mais do que gostaria. Ao descobrir um câncer de mama, teve de realizar o tratamento em Porto Alegre, onde segue com consultas de reavaliação. As fortes doses de quimioterapia e radioterapia fizeram com que a agricultora perdesse quase todos os dentes. Hoje, Magdalena pouco sorri por ter vergonha. Mas mantém o bom humor e, principalmente, a força necessária para seguir trabalhando diariamente na lavoura. Sozinha, arranca e carrega até 20 quilos de aipim nas costas numa única ida à plantação. A força e a destreza são tamanhas, que Magdalena nem segura o saco pesado. Coloca-o sobre um ombro, com um dos braços dobrado na cintura. O esforço que precisa fazer para carregar o alimento das vacas a faz caminhar curvada.
— Minha vida é esta e gosto dela. Quero muito que uma das minhas filhas assuma a nossa função, mas sei que elas têm outros planos. Minha esperança é que uma delas mude de ideia — desabafa Magdalena.
“O importante é ver o povo feliz”
Ao contrário das filhas da agricultora de Rio Loch, a dupla Elvis e Zico encontrou na música um caminho para seguir em Walachai. Elvis é o calçadista aposentado e hoje jardineiro Heldo Dilkin, 55 anos, um fã do cantor norte-americano Elvis Presley, que morreu na década de 1970. O apelido vem daquela época, quando cantarolava as músicas do ídolo no banheiro da fábrica de calçados onde trabalhava. Foi lá que os colegas acabaram o apelidando de “Elvis do Walachai”.
Zico, amigo de infância de Elvis, é o calçadista aposentado e pintor Ari Büttenbender, também de 55 anos. Ambos são filhos da localidade e jamais pensaram em deixá-la. Sonham, porém, com o dia em que visitarão a Alemanha para apresentarem, em hunsrückisch, os grandes hits brasileiros. Por enquanto, trata-se apenas de um desejo ainda distante.
O sorridente Elvis relembra que a paixão pela música surgiu ainda na infância, quando aprendeu a tocar gaita de boca apenas ouvindo outros tocarem.
— Quando eu era adolescente, tentei comprar uma gaita com o dinheiro da poupança que minha mãe fazia para o dia em que eu casasse. Quando ela soube, me proibiu. Ela dizia que, se eu saísse para fazer música, ia acabar me perdendo — conta, aos risos.
Conhecido pela audição privilegiada, Elvis tocava a gaitinha de boca nas festinhas dos amigos e não desistiu do desejo de aprender o outro instrumento.
— Achava tudo lindo nos kerb, os músicos tocando tudo no muque — recorda.
Logo depois do casamento, aos 20 anos, Elvis finalmente comprou a primeira gaita ponto, com o consentimento da mulher, Liane, com quem está casado há 35 anos. Em um mês, aprendeu sozinho a tocá-la e passou a ser chamado com frequência para todas as festas da comunidade. Tornou-se o animador oficial de cada aniversário, casamento, batizado, kerb, festa da terceira idade e quermesse. Os pedidos eram tantos que Elvis precisou trocar a gaita ponto por outra de 80 baixos. Com o novo instrumento, ficou um ano e oito meses, tempo suficiente para entender a mudança pela qual estava passando enquanto se divertia.
— A partir dali, decidi: é isso que quero da minha vida — lembra.
Clique no vídeo e conheça a dupla Elvis e Zico
Ainda trabalhando nas fábricas de calçados, Elvis chegava a tocar até três vezes por semana. Há 15 anos, trocou pela última vez de gaita e a pagou somente com o dinheiro dos bailes. Bom “de gogó”, como fala, o músico entendeu que precisava diversificar nas festas. Foi quando Zico, antigo colega de colégio, surgiu se oferecendo para ser sua dupla. Zico, fã do jogador de futebol homônimo desde criança, até então, só havia tocado “um surdinho velho” na torcida do time de futebol de Walachai. O violão comprado aos 21 anos acabou esquecido quando percebeu que não tinha afinidade com qualquer instrumento. Mas o deixou guardado à espera de quando tivesse um filho — hoje, é o jovem que tem 15 anos de idade quem o toca. Mesmo com a pouca destreza musical, Zico queria ser o par de Elvis.
— Isso (a dupla musical) tem que ser sério. Você não se importa de tocar nos bailes de idosos, à tarde? — perguntava Elvis.
— Não. Não sei tocar gaita, mas sei te acompanhar. Tenho bom ouvido — garantiu Zico ao amigo.
Desde então, juntos e sem ensaiarem antes das apresentações, Elvis e Zico fizeram carreira e conquistaram fãs. A parceria já tem nove anos. Sertanejo e bandinhas alemãs são os gêneros mais pedidos nos festejos, quando chegam a tocar até 150 músicas em uma única noite. Ambos dizem amar toda a função.
Eles cobram R$ 300 por evento, além da gasolina para a locomoção, garantindo que tocam por até seis horas seguidas — sem microfone e caixa de som.
— Certa vez, fomos chamados para tocar na festa de aniversário de 90 anos de uma senhora que tinha Alzheimer. Ela nem olhava para nós, quase não erguia a cabeça. Mas teve uma hora em que um dos irmãos dela nos pediu para cantarmos uma música antiga em alemão. Para nossa surpresa, nesse momento ela ergueu a cabeça e começou a sorrir. Foi uma emoção para nós. Não há dinheiro que pague — confidencia Zico, embargando a voz e marejando os olhos.
Juntos, Elvis e Zico chegaram a fazer sete shows numa única semana. O sucesso da dupla no Vale do Paranhana e até em Santa Catarina ajudou ambos a comprarem um microfone e uma caixa de som, no mês passado. A primeira festa com o novo equipamento acabou sendo sem ambos. É que os dois músicos não souberam ligar os aparelhos. Na segunda, porém, um dos filhos de Zico foi junto e conseguiu conectar os cabos. Animados pela novidade, tocaram ainda mais para os sortudos festeiros.
— Já tocamos em cima de caminhão. Já chegamos de surpresa numa festa. Continuamos com a mesma humildade do começo. O mais importante é ver o povo feliz. E a gente também, né? — confessa Elvis, antes de soltar mais uma sonora gargalhada .
Questão de adaptação
Para o professor de Física Nicolau Büttenbender, 58 anos, basta colocar os pés em Walachai para se sentir feliz. Cada vez que saía da localidade para estudar ou trabalhar, Nicolau só reforçava a certeza de que o seu lugar no mundo é aquele que fora avistado pelo seu quinto avô, Mathias Mombach, do alto do Morro Wolf, há 190 anos, no episódio da fundação de Walachai (leia no quadro da página 20).
— Me sinto em paz porque aqui é a minha aldeia. A história da minha família está aqui e quero preservá-la. Quando entro na estrada Mathias Mombach me sinto livre, solto para voar — resume Nicolau.
O professor mora na mesma casa construída pelos antepassados da família. Ex-mestre e ex-diretor da escola de Walachai, ele é o sucessor de João Benno Wendling, falecido em junho de 2009. João Benno foi educador e o primeiro e único a escrever em livro a história da localidade, depois de nove anos de pesquisa. A obra originou o documentário Walachai, produzido e dirigido pela cineasta gaúcha Rejane Zilles, que viveu na localidade até os nove anos de idade. O filme mostrou a realidade pacata dos moradores e tornou a região conhecida nacionalmente como uma comunidade isolada pelo tempo. Mas nem a fama tirou o sossego de quem a escolheu para ser o seu chão. Os Berg, Magdalena, Elvis e Zico e o professor Nicolau têm a certeza de que estão no lugar certo. Para eles, Walachai não parou no tempo. Pelo contrário, adaptou-se às novas tecnologias conforme com as próprias necessidades. A diferença da localidade está na paixão dos moradores por manterem vivas as memórias de seus antepassados.
Como tudo começou em Walachai
*Ao partir do porto de Bremem, na Alemanha, em setembro de 1828, Mathias Mombach, então com 44 anos, ex-alferes de cavalaria da guarda do imperador da França, Napoleão Bonaparte, provavelmente não fazia ideia de que registraria o próprio nome na história de uma comunidade no sul do Brasil.
* Junto à mulher e aos cinco filhos, de idades entre um e 13 anos, cruzou o Atlântico para aportar no Rio de Janeiro depois de 83 dias no mar — viagem que culminou na morte de 47 dos 874 imigrantes a bordo. Nas sete semanas seguintes, os Mombach permaneceram alojados num armazém do porto fluminense até seguirem de navio ao Rio Grande do Sul — com paradas em Rio Grande, Porto Alegre e São Leopoldo, onde chegaram em março de 1829.
* Contrariando a maior parte dos imigrantes companheiros de jornada, que optaram por morarem em São José do Hortêncio e Dois Irmãos, o soldado aposentado quis desbravar novas terras. Com a família, subiu em direção ao Morro Wolf, hoje localidade de Morro Reuter, no Vale do Paranhana, para viver em lotes doados pelo governo imperial.
* Da parte mais alta, avistou um cenário de mata fechada cercada de montanhas por todos os lados. Não havia casas próximas. Mombach, então, abriu com foice uma picada que o levou até o lugar onde ergueria a primeira moradia daquelas bandas. À região longínqua deu o nome de Wallachei, lembrando uma localidade distante e de difícil acesso na Romênia. Fonte: “A História de Walachai”, de João Benno Wendling
Walachai nos registros
* Segundo a prefeitura de Morro Reuter, o tamanho exato da localidade Walachai não está determinado, pois não há divisas geográficas definidas. As comunidades de Rio Loch, Vila Dieter e Batathental pertencem a Walachai. São subdivisões que surgiram com o tempo para orientar os moradores dentro de sua localidade.
* A prefeitura também não computa o número exato de habitantes da localidade. • Apenas 20% das famílias que moram em Walachai vivem somente da agricultura. O restante atua no comércio da própria localidade e em outras áreas de Morro Reuter.
* A comunidade tem uma escola, cinco bares ou restaurantes, duas igrejas (uma católica e uma evangélica) e seis estabelecimentos comerciais: Berg Indústria de Embutidos de Carne, Herval Varejo e Atacado de Alimentos, Indústria de Calçados Wirth, Minimercado Walachai, Bar Rio Loch e Bras Luvas Indústria e Comércio de Couros).