— Eu estava deprimida, mas aqui me acolheram — conta Sônia Soares, 63 anos.
Assídua nas aulas de dança, coral e alfabetização da Pequena Casa da Criança, instituição que desde 1956 beneficia a comunidade da Vila Maria da Conceição, no bairro Partenon, zona leste de Porto Alegre, ela diz que agora está com sua autoestima "lá em cima". A organização não governamental recebe contribuições do Banco de Alimentos, para o qual o Grupo RBS arrecada doações na campanha Natal do Bem (veja mais abaixo).
— Aqui fiquei muito melhor, com muito mais alegria. Me ensinaram a gostar de mim mesma, a ser gente. Agora estou dançando e aprendendo a comer. Até emagreci, aliás, porque eu precisava. Eu aprendi a gostar de mim e até a querer me arrumar. Tô até com vontade de fazer faculdade, estou tão feliz! Parece que me libertei — diz Sônia, cuidadora de idosos aposentada que mora com dois filhos e o neto.
Sônia é uma das 650 pessoas beneficiadas na Pequena Casa. O local recebe crianças, jovens e idosos de baixa renda moradores de uma região da capital gaúcha que convive com o tráfico de drogas e seus problemas – entre agosto e dezembro, por exemplo, um conflito entre traficantes se reverteu em um clima de guerra na comunidade. Isso deixa marcas não só na vida das pessoas, mas também das construções. As portas que ligam os corredores dos três andares do pequeno prédio bege da ONG têm cada qual uma chave funcionando. Aqui, as trancas, mais do que limitarem acessos, protegem pertences, equipamentos, material escolar.
A instituição fornece aulas regulares para Educação Infantil e Fundamental, atividades de esporte e artes para adolescentes, oficinas para jovens aprendizes e, nas manhãs das quartas-feiras, ateliês para 75 aposentados ganharem em qualidade de vida e emancipação. Em forma de conversa, voluntários promovem palestras sobre direitos, saúde, relacionamentos e aceitação da velhice. Em outros horários, há ainda ateliês de coral, dança, artesanato, alfabetização e crochê.
Ir para a Pequena Casa significa, também, fazer uma refeição gratuita preparada, em parte, com doações do Banco de Alimentos (que contribui com cerca de 30% das necessidades). Diariamente, os cozinheiros servem 800 pratos, entre café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. Da cozinha, saem 15 quilos de arroz, nove quilos de feijão e 120 litros de leite em um único dia.
Além das refeições caseiras, os aposentados recebem, uma vez por mês, uma cesta básica. Para alguns, a doação é um complemento que permite o investimento de alguns reais para pequenos "luxos" destinados à autoestima, como cortar o cabelo no barbeiro ou comprar esmalte para as unhas. Para outros, que contam com a ajuda do Bolsa Família ou que sustentam sozinhos filhos e netos em meio ao desemprego na família, é fundamental para não deixar a despensa da cozinha vazia.
Após três anos de atividades na Pequena Casa, a merendeira aposentada Loiraci Garrone dos Santos, 76 anos, também relata mais energia de vida. Ela comparece às oficinas de crochê e de artesanato religiosamente e ainda aprendeu a usar a internet com os voluntários. A cesta básica, diz, faz a diferença.
— Minha nora fica até brava, diz que agora eu não paro. Mas a gente é como uma máquina, se ficar parada dentro de casa, enferruja. E ainda por cima a cesta ajuda muito na alimentação — reflete.
A assistente social da instituição, Daiana dos Santos, diz que o esforço das atividades é em promover a saúde física e mental dos aposentados. Todos estão ali para retomar a autonomia que tinham e que ficou de lado na velhice:
— A gente tenta fazer esse espaço ser de amor e de paz para tirá-los da atmosfera de violência. Eles tinham uma vida ativa. Mas, ao se verem aposentados, perdem o chão, porque ficam sem atividade e objetivo. Em muitos casos, perdem também o poder de decisão na família. E isso abala sua autoestima. Aqui, a gente tenta resgatá-la.
Um dia antes da visita da reportagem, a Pequena Casa ganhou seis caixas de rúcula. A nutricionista Deisi Lockmann Bradbury contou que o alimento foi servido como salada e como molho pesto no macarrão.
— Nada vai fora — assegura Deisi. — Todo alimento que recebemos vai para a mesa. Se vem muita doação de um alimento que não conseguimos preparar em pouco tempo, doamos. A rúcula que sobrou vamos entregar para as crianças levarem para casa. Isso vai ajudar a família.
Prêmio
Devido ao trabalho e à transparência na prestação de contas, a Pequena Casa da Criança recebeu o Prêmio Melhores ONGs do Brasil 2017, organizado pelo Instituto Doar e pela revista Época, figurando na lista das cem instituições do terceiro setor no Brasil para as quais vale a pena fazer uma doação.
COMO PARTICIPAR DA CAMPANHA NATAL DO BEM
Onde doar em Porto Alegre?
* Na Zona Sul: RBS TV (Rua Rádio e TV Gaúcha, 189, bairro Santa Tereza).
* Na Zona Central: sede do Grupo RBS (Avenida Erico Verissimo, 400, bairro Azenha).
* Na Zona Norte: Banco de Alimentos (Avenida Francisco Silveira Bitencourt, 1.928, bairro Sarandi).
O que doar?
* Qualquer tipo de alimento não perecível (por exemplo, arroz, feijão, farinha, açúcar etc.).
Qual o horário de atendimento?
* De segunda a sexta-feira, em horário comercial.
COMO FUNCIONA O BANCO DE ALIMENTOS
* A instituição é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que atua como um gerenciador de desperdícios, administrando três operações: coleta de doações, armazenamento e distribuição qualificada de alimentos para entidades beneficentes.
* Atualmente, beneficia 312 entidades de todos os bairros da capital gaúcha, doando 250 toneladas de alimentos todos os meses. O Banco de Alimentos atende exclusivamente entidades cadastradas.
* Qualquer instituição que tenha CNPJ pode solicitar ajuda pelo e-mail balcaodeprojetos@bancossociais.org.br.
* Neste primeiro contato, a entidade deve enviar seus dados – como público que atende, objetivos e quantidade de pessoas. A partir disso, será avaliada por um comitê a possibilidade de doação ou não. Paralelamente a isso, nutricionistas do Banco de Alimentos visitam a entidade para verificar e qualificar itens como higiene e segurança alimentar.
* Atualmente, há fila de espera de entidades para participar do Banco. O critério é atender às instituições mais carentes.
* A quantidade de alimento enviada para cada entidade varia conforme o número de pessoas que ela atende.