Além de fazer um bem a quem precisa, ajudar também é positivo para as pessoas. Pesquisas mostram que ações altruístas estimulam a liberação de substâncias antiestressantes no corpo, ativam o circuito de recompensa do cérebro relacionado à sensação de prazer, combatem a depressão, melhoram o sistema imunológico e cardiovascular e favorecem a longevidade.
Já existem estudos que mostram que doar estimula a produção de serotonina, oxitocina e dopamina, os chamados "hormônios da felicidade", ainda que os mecanismos por detrás do fenômeno ainda não sejam plenamente conhecidos pela ciência. Há até um nome para tal efeito: helpers high (o barato dos generosos, em tradução livre).
O britânico David R. Hamilton, PhD em química e autor de oito best-sellers sobre a relação entre mente e corpo – três dos quais abordam os efeitos da gentileza no corpo –, explica ao GaúchaZH que o altruísmo faz bem ao coração ao estimular a produção de substâncias opostas ao cortisol e à adrenalina, ligadas ao estresse.
— O gesto altruísta faz o coração produzir oxitocina e óxido nítrico, ambos relacionados à queda da pressão arterial. Há também evidências de que ele melhora o sistema imunológico e ajuda as pessoas a viver mais — afirma o autor de The 5 Side Effects of Kindness (Os 5 efeitos colaterais da gentileza, em tradução livre) e Why Kindness is Good for You (Por que a gentileza é boa para você).
Andrew Colman, professor de psicologia da Universidade de Leicester, no Reino Unido, e autor de estudos sobre cooperação e seus benefícios, indica que tais efeitos estão ligados à prevenção de doenças.
— Pessoas altruístas experienciam uma "descarga de hedonismo", um aumento de sentimentos positivos e sensações de bem-estar em geral, o que está relacionado à redução de doenças e da mortalidade — afirma ao GaúchaZH.
Exemplo de estudo é o do neurocientista brasileiro Jorge Moll, do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), no Rio de Janeiro. No artigo, publicado em 2006 na importante revista da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos, ele explica que, ao doarmos dinheiro para instituições de caridade, ativamos o circuito de recompensa do cérebro – zona ligada ao prazer e estimulada por sexo, comida e drogas – de forma parecida a quando ganhamos dinheiro.
Há, também, efeitos psicológicos. A pesquisa de Moll também mostrou que, ao doarmos dinheiro, ativamos o córtex subgenual e a área septal do cérebro, ligadas a sensações que uma mãe nutre pelo filho ou que um amante tem pelo outro. Em suma, a boa ação desperta sentimentos de afeto e de pertencimento.
Outro estudo que traz evidências de benefícios à mente foi publicado em 2010 no jornal da Academia Americana de Gerontologia pela socióloga Patricia Thomas, professora da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos. Ela afirma que, quando nos doamos sem excesso para os outros, aumentamos o senso de independência e a autoestima (porque nos sentimos úteis).
Apesar de, estatisticamente, pessoas predispostas ao altruísmo e ao voluntariado terem mais recursos, mesmo quando os cientistas desconsideram esse fator nos estudos, os benefícios seguem fortes, explica Sara Konrath, professora de psicologia da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, no livro The joy of giving (2016), ainda não traduzido para o português. "A maioria desses estudos mostra que doar dinheiro para os outros, incluindo para a caridade, está associado a uma maior felicidade do que quando gasto consigo mesmo. Dar traz uma sensação boa", escreve.