Além de fazer um bem a quem precisa, ajudar também é positivo para as pessoas. Ser altruísta faz bem, mas a motivação para sê-lo é complexa. Para entender o porquê, uma pesquisa da Universidade Livre de Amsterdã, publicada em 2011 no Sage Journals, fez uma revisão de 500 artigos sobre o tópico. A análise indicou que as pessoas levam em conta oito motivos para fazerem voluntariado e doações: necessidade do público de ajuda, pedido da instituição por auxílio, custos monetários e eventuais benefícios recebidos, motivação interna (altruísmo), benefícios à própria reputação, efeitos psicológicos (melhora da autoestima), valores pessoais e eficácia da ajuda.
Para analistas, por detrás desses oito indicadores estão duas questões primordiais: buscamos o belo e o "confortável" e, como seres sociais, ajudamos o próximo porque, em última medida, isso também beneficia o grupo.
— Quando vemos cenas que envolvem sofrimento e desorganização, sentimos mal-estar. Gostamos do belo, do bom, do confortável. Quando me importo com o outro, também me importo comigo, em um egoísmo sadio. A generosidade dá uma sensação de estar conectado a algo maior — diz a psicóloga Iara Camaratta.
Mas como pode o ser humano sacrificar-se se isso vai contra a lei darwiniana da sobrevivência das espécies? A ciência tem algumas explicações para esse sacrifício generoso. O cientista Richard Dawkins propôs em 1976 no livro The Selfish Gene (O Gene Egoísta, traduzido para o Brasil), uma teoria aceita até hoje: doamo-nos intensamente para familiares porque eles carregam nossos abençoados genes. Contudo, isso não explica nossa boa vontade com amigos.
Aí entra a explicação de Robert Trivers, um importante nome para a sociobiologia e um dos grandes cientistas a unir a teoria da evolução com estudos sobre o comportamento humano. Também na década de 1970, ele criou o conceito de "altruísmo recíproco" ao defender que somos generosos com base no "uma mão lava a outra" – isto é, no futuro, quem ajudou pode ser ajudado. Isso ocorre no mundo animal, sobretudo em mamíferos. Morcegos-vampiros, por exemplo, vomitam sangue obtido após um dia de caça para ajudar colegas do grupo que não tiveram sucesso na própria busca.
Segundo Nedio Seminotti, professor aposentado de psicologia social da PUCRS, quando o sacrifício é direcionado para um bem comum ou alguém em necessidade, a contribuição para um "todo" ganha relevância.
— Na nossa consciência básica, está uma ideia de olhar para si mesmo e para o outro. Se não estamos ligados ao outro, ficamos mal. Até porque olhar para o outro é uma questão de sobrevivência da espécie. Historicamente, a humanidade evoluiu muito, hoje temos menos violência do que antigamente. E isso só ocorreu porque as pessoas se preocuparam com as outras — defende.
Só que isso também não explica a generosidade com desconhecidos. Mas, segundo o psicólogo Andrew Colman, da Universidade de Leicester, o motivo é que somos seres sociáveis que copiam o comportamento um do outro. Em outras palavras, gentileza gera gentileza.
— O altruísmo contribui para a vida em comunidade, em parte porque tende a ser inspirador — afirma.
Quem quiser verificar isso na prática pode participar da campanha Natal do Bem, do Grupo RBS. A iniciativa arrecada doações para o Banco de Alimentos.
COMO PARTICIPAR
Onde doar em Porto Alegre?
– Na Zona Sul: RBS TV (Rua Rádio e TV Gaúcha, 189, bairro Santa Tereza).
– Na Zona Central: sede do Grupo RBS (Avenida Erico Verissimo, 400, bairro Azenha).
– Na Zona Norte: Banco de Alimentos (Avenida Francisco Silveira Bitencourt, 1.928, bairro Sarandi).
O que doar?
– Qualquer tipo de alimento não perecível (por exemplo, arroz, feijão, farinha, açúcar etc.).
Qual o horário de atendimento?
– De segunda a sexta-feira, em horário comercial.
COMO FUNCIONA O BANCO DE ALIMENTOS
– A instituição é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que atua como um gerenciador de desperdícios, administrando três operações: coleta de doações, armazenamento e distribuição qualificada de alimentos para entidades beneficentes.
– Atualmente, beneficia 312 entidades de todos os bairros da capital gaúcha, doando 250 toneladas de alimentos todos os meses. O Banco de Alimentos atende exclusivamente entidades cadastradas.
– Qualquer instituição que tenha CNPJ pode solicitar ajuda pelo e-mail balcaodeprojetos@bancossociais.org.br.
– Neste primeiro contato, a entidade deve enviar seus dados – como público que atende, objetivos e quantidade de pessoas. A partir disso, será avaliada por um comitê a possibilidade de doação ou não. Paralelamente a isso, nutricionistas do Banco de Alimentos visitam a entidade para verificar e qualificar itens como higiene e segurança alimentar.
– Atualmente, há fila de espera de entidades para participar do Banco. O critério é atender às instituições mais carentes.
– A quantidade de alimento enviada para cada entidade varia conforme o número de pessoas que ela atende.