A Estação Antártica Comandante Ferraz começará a ressurgir na paisagem da Ilha Rei George. A Marinha programa para sexta-feira o início da primeira fase da construção da nova casa do Brasil no continente gelado, que substituirá a estrutura consumida por um incêndio há quase cinco anos.
Pelo cronograma oficial, a nova Ferraz estará concluída em março de 2018, ao custo de US$ 99,6 milhões. Responsável pela obra, a empresa chinesa Ceiec leva 79 funcionários à região austral para realizar os trabalhos. A reconstrução envolve uma megaoperação logística, com navios que cruzarão o Oceano Pacífico da China até a Antártica, com escala no porto chileno de San Antonio.
Como as condições no inverno são inóspitas na Ilha Rei George, a obra terá duas etapas, nos verões 2016-2017 e 2017-2018. No atual verão, a Ceiec fará as fundações e montará três módulos externos da estação. As fundações serão feitas com 1,2 mil blocos de concreto e chapas de aço, levados para Ferraz por um cargueiro contratado pela empreiteira chinesa. Concluída essa etapa, no verão seguinte ocorrerá a montagem do corpo da estação, a instalação dos equipamentos e o acabamento.
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Apta a receber 64 pessoas e dotada de 14 laboratórios internos e quatro externos, mais refeitório, quartos e salas de descanso, a futura Ferraz será erguida no mesmo espaço da estação original, na Península Keller, no interior da Baia do Almirantado, porção da Ilha Rei George. Inaugurada em 1984, a primeira base foi quase toda destruída por um incêndio em fevereiro de 2012, no qual morreram dois militares.
No verão passado, quando houve o lançamento da pedra fundamental da obra, foram realizados trabalhos prévios na área da nova Ferraz. A Ceiec concluiu o reconhecimento do terreno, o levantamento topográfico e os estudos de solo. Nos últimos meses, os chineses trabalharam de sua unidade em Xangai, onde realizaram uma pré-montagem da estação, a fim de testar o projeto brasileiro. A empresa montou um modelo em escala natural de parte da base, com dois camarotes e dois laboratórios, fundações e módulos externos.
Projetada para atender às demandas da comunidade científica, a obra é aguardada por pesquisadores brasileiros, que têm outra preocupação imediata: garantir o financiamento de seus estudos. Para enviar profissionais na Operação Antártica 35, que está em andamento, o Ministério da Ciência e Tecnologia liberou de forma emergencial R$ 570 mil.
– Desde 2013, o governo federal não lança um novo edital e há repasses atrasados. Não adianta construirmos uma estação moderna, que será bem-vinda, se não tivermos pesquisadores no campo. Casa vazia não faz ciência – adverte o professor Jefferson Cardia Simões, vice-presidente do Comitê Científico de Pesquisas Antárticas.
Na avaliação de Simões, um edital de R$ 20 milhões, válido por três anos, garantiria o ritmo das pesquisas, pois financiaria 20 projetos e cerca de 250 doutores. Acompanhado do senador Lasier Martins (PDT-RS), o professor esteve com o ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) em busca de recursos. A expectativa é que uma fatia do dinheiro angariado com o programa de repatriação de valores contemple o Programa Antártico Brasileiro (Proantar).
– Acreditamos que o governo repassará os recursos, pois o Brasil não pode abrir mão da ciência em um local estratégico – afirma Lasier, presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado.
O incêndio de 2012 não paralisou a ciência nacional no continente austral. O governo montou uma estação provisória ao lado da estrutura destruída, que recebe pesquisadores a cada verão, dentro da Operantar, levados à região pela Marinha. Além de estudos na área de Ferraz, brasileiros utilizaram os navios Almirante Maximiano e Ary Rongel, refúgios espalhados pela Antártica e bases de outros países. Para a atual Operantar, a previsão da Marinha é garantir a logística de 260 pesquisadores.