A onda de demissões que ganha manchetes e atinge o círculo de amizades de Henrique Ruschel - ele mesmo sem trabalho há um mês e meio - parece não abalar as pretensões do estudante de economia de 25 anos. Ainda quer alcançar uma posição de liderança em uma empresa com bom potencial de crescimento, e quer sua vaga para já.
Sua última experiência foi em uma companhia de investimentos, onde fez o que sempre gostou: analisar a situação financeira de companhias e indicar aos clientes se era hora de comprar ou vender ações. Ocorre que esse setor tem se mantido a duras penas no atual momento da economia, e as vagas sumiram. O que fez Ruschel mudar o alvo: agora, quer levar suas análises ao mundo das fusões e aquisições, esse sim um negócio aquecido.
- Não me apego a um tipo de trabalho específico, desde que não fuja muito do que gosto e sei fazer. Miro onde houver melhores oportunidades - diz.
Na marra, Geração Y aprende a conviver com desemprego
Ruschel fala por uma geração que, se por um lado experimenta pela primeira vez uma economia apática, por outro é mais apta a se adaptar ao atual momento. A disposição para encarar desafios, o desapego a uma tarefa específica e a facilidade em cultivar uma vasta rede de contatos - habilidades importantes para qualquer candidato a emprego - costumam ser mais fortes entre os jovens. Isso faz com que o leque de opções de ocupação seja mais amplo, explica a psicóloga Simoni Missel, diretora da Missel Capacitação Empresarial:
- A noção de trabalho para eles é diferente. Não se restringe à ocupação com carteira assinada: pode ser um blogue, um canal no YouTube, um projeto com amigos ou uma empresa que preste um serviço totalmente novo.
Onipotência pode gerar frustração
O desafio na busca pela vaga é saber controlar a pressa e a angústia - tão presentes em uma geração que nasceu conectada à internet e habituada a encontrar respostas à velocidade de um clique. Simoni diz que um dos principais desafios que têm ao conversar com candidatos a emprego é mostrar-lhes que processos de seleção costumam ser lentos e divididos em várias etapas. Por isso, é preciso ter paciência.
Luciana Adegas, supervisora de RH da Metta Capital Humano, aponta que outro desafio da Geração Y é saber lidar com a frustração. Esses jovens costumam ostentar certa onipotência nas entrevistas de emprego. Uma sequência de tentativas mal sucedidas pode facilmente abalar sua confiança.
- Recebemos jovens superqualficados, com duas faculdades e pós graduação, que ficam chocados ao ser preteridos em uma seleção de emprego - exemplifica Luciana.