Eles não te recebem com pulos e agitação. Não imploram pelo seu colo, não fazem qualquer malabarismo em troca de um petisco e ainda decidem onde querem dormir e quais os locais favoritos da casa. A casa, aliás, não é mais sua, é deles. Também detestam banho e raramente aceitam aquelas roupinhas, coleiras, lacinhos e fitinhas que os donos acham LIN-DO! Mesmo assim, cada vez mais gente no Brasil e no mundo escolhe a companhia desses animais cheios de independência e personalidade. Quem já entrou nessa garante: uma vez fisgado pelo charme irresistível de um gato, o coração da gente não mais nos pertence. É amor na certa. E amor dos grandes.
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Dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) demonstram que a população de cães domésticos ainda é muito maior do que a de gatos - quase o dobro. O número de felinos nos lares, no entanto, cresce em ritmo galopante, enquanto a população de cães cai. A Abinpet estima que, em cerca de oito anos, o número de gatos se igualará ao de cães nas residências do país. Depois disso, ninguém mais pega os bichanos na corrida pelo coração dos donos brasileiros.
Os motivos para esse crescimento têm origem na mudança que a sociedade experimentou nas últimas décadas. Famílias com menos crianças tendem a ter menos cães, já que são os pequenos os principais entusiastas dos cachorros. Pais que trabalham o dia todo também têm menos tempo para cuidar dos filhos - que dirá de um animal de estimação que requer banhos semanais e passeios diários. Menos pacientes, os idosos, cuja população cresce largamente, observam vantagem na praticidade do convívio com gatos. Mulheres e homens solteiros, que moram sozinhos em apartamentos cada vez menores, também dispõem de pouco tempo para o pet. Para não precisar abrir mão da reconfortante companhia de um bichinho, muitos optam por gatos. Há alguns anos, nos Estados Unidos, surgiu como tendência uma horda de homens solteiros, heterossexuais e bem resolvidos profissionalmente que se declaravam apaixonados por seus gatos. Na época, o jornal The New York Times chamou o movimento de "Out of the Cat Closet", algo como sair do armário dos gatos, revelar-se e assumir-se como gateiro. Sem medo do julgamento.
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A proporção de gatos e cães como animais domésticos também é considerada parâmetro para avaliar o nível de desenvolvimento dos países. Chamado de Índice Big Cat (em alusão ao índice Big Mac, que mede o desenvolvimento pelo consumo do lanche), o levantamento garante que o número de gatos nos lares é revelador da situação das nações. E a coisa parece fazer sentido. A Alemanha surge como líder do ranking Big Cat, com 59% mais gatos do que cães. Em seguida está a França, com 48%. Nos Estados Unidos, os bichanos são 20% mais numerosos do que os totós. O contrário também vale: países como Brasil, África do Sul e Índia têm muito mais cães como animais domésticos.
Mesmo ganhando espaço rapidamente, os gatos ainda são minoria. E, pior, lidam com a antipatia gratuita de muita gente. Traiçoeiros, interesseiros e individualistas são alguns dos desabonadores adjetivos que os felinos ganham de quem não vai com a cara deles. Também é verdade, no entanto, que a esmagadora maioria das pessoas que não gosta de gatos nunca conviveu de fato com eles. E, quando o sujeito se permite o desafio de conquistar o amor de um bichano, não há volta atrás. A paixão é devastadora. E os gatinhos, com toda sua beleza e personalidade, sabem muito bem como retribuir todo esse sentimento. Do jeitinho deles.
Um traço de paixão
Há oito anos, a ilustradora Carla Pilla teve a vida invadida por um novo amor. Um não. Dois. Decidida a ter animais e certa de que não poderia conviver com cães no apartamento diminuto, não teve dúvida de que gatos seriam a companhia perfeita. Adotou um casal de maninhos, a Sita e o Rama, em uma ONG que intermedia a adoção de animais. E foi uma paixão instantânea.
Com o tempo, foi aprendendo o jeitinho de ser de cada um de seus bebês, e viu a vida ficar mais alegre e aconchegante com a presença dos dois. Ela, mais carinhosa e esperta. Ele, mais exibido e companheiro.
#GatosnoDonna
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À medida que a convivência ia ensinando a Carla mais e mais sobre o universo particular dos felinos, aumentava nela a vontade de transformar todas as peculiaridades daquela convivência em arte. Foi assim que criou, em 2010, as tiras Filé de Gato, publicadas inicialmente na internet. Nos quadrinhos, Sita virou Pelica e Rama ganhou o nome de Felpudo. Eles protagonizam historinhas singelas e divertidas que revelam muito sobre o jeito de ser dos felinos. Tudo fruto da observação atenta da artista aos comportamentos de seus bichos e do encantamento que as gracinhas deles sempre provocaram na dona.
Depois da internet, as tirinhas já foram publicadas em jornais e circularam o mundo por meio das redes sociais. No final de 2013, Carla compilou as melhores peças e publicou o livro Filé de Gato, pela editora Mediação, que teve lançamento na Feira do Livro de Porto Alegre. Ainda hoje, Carla publica, semanalmente, tirinhas inéditas na página do Filé de Gato no Facebook, que tem 8,3 mil seguidores.
Depois de algumas mudanças de endereço ao longo dos últimos anos, Carla contesta a afirmação de que gatos são territorialistas a ponto de apegarem-se somente à casa onde moram.
- Cada vez que nos mudamos, eles levaram um tempo para se adaptar à casa nova. Mas a referência somos eu e o meu marido. Eles precisam de nós - comenta.
Além de conviver e observar os bichanos, Carla também trocou muita informação com outros donos de gatos. Primeiro para viver melhor com os animais, depois para transpor para o seu traço o humor universal dos gatos.
No pequeno escritório que montou em casa para trabalhar, Carla tem a companhia constante de seus dois personagens. A rotina de home office que poderia ser solitária, torna-se inspiradora e estimulante com a participação da dupla que mudou sua história.
- Hoje posso garantir que minha vida é mais feliz com eles. Muito mais.
Foto: Adriana Franciosi