Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), em São Paulo, realizam testes com a técnica metagenômica para eliminar os protozoários causadores da leishmaniose. O objetivo é produzir um fármaco mais eficiente e com menos efeitos colaterais para as vítimas da leishmaniose, doença infecciosa sistêmica, que pode se manifestar de forma cutânea - feridas na pele - ou visceral - nos órgãos internos. Em todo o mundo, há cerca de 2 milhões de portadores da doença.
A técnica testada pelo Grupo de Cristalografia utiliza fragmentos de material genético que levem à produção de substâncias que matem os micro-organismos que provocam a doença. O processo começa pela coleta de amostras de solo que abrigam inúmeros tipos de micro-organismos desconhecidos, que não podem ser cultivados em laboratório. Por meio de enzimas de restrição, o DNA é fragmentado e ligado a um vetor, formando um plasmídeo recombinante. Esse recombinante é colocado em outra bactéria (E. Coli), possível de ser cultivada em laboratório. Tal procedimento é feito diversas vezes, com vários micro-organismos encontrados na amostra recolhida, o que resultará na chamada Biblioteca Metagenômica.
Depois que a E. Coli recebe plasmídeo recombinante, ela é colocada na placa de Petri para crescer junto com parasitas causadores da leishmaniose, gerando uma co-cultura de bactérias e parasitas. Algum tempo depois, reações físicas entre eles serão observadas: onde a bactéria tiver produzido uma substância que mata a leishmania, tem-se um candidato à produção de fármaco.
Resultados
De acordo com a pesquisadora Izaltina Silva-Jardim, em duas bibliotecas testadas já foram reunidos cerca de 800 mil fragmentos de DNA. Na primeira delas, com 300 mil clones, apenas 35 foram capazes de matar a leishmania. No entanto, devido a algumas interferências, eles foram retestados e nenhum conseguiu matar a leishmania, efetivamente.
Em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, uma nova experiência foi feita, desta vez, com os micro-organismos cultivados em meio líquido, ao invés de placas. Foram encontrados 13 clones eficazes: depois de testados e retestados, cerca de 50% das leishmanias foram mortas pelas substâncias produzidas pelas bactérias e misturadas ao líquido.
- O próximo passo é isolar todas as substâncias encontradas no líquido para descobrir qual delas é a responsável pela morte da leishmania. Quando isolamos essas substâncias, temos que isolar suas estruturas químicas e aí, então, poderemos saber de 'quem' se trata - afirma Izaltina.
O DNA dos 13 clones positivos será sequenciado para tentar identificar de qual tipo de bactéria veio a substância para chegar a um produto único que poderá ser usado como remédio. Izaltina destaca que a substância candidata ao fármaco deve matar a leishmania sem afetar as células humanas.
Testes serão feitos, in vitro, com células saudáveis e infectadas de camundongos, depois disso com células humanas saudáveis e infectadas com a substância. Somente após as etapas serem bem sucedidas e com aprovação de comitês de ética e agências de vigilância sanitária, iniciam-se os testes com humanos. Tudo isso leva, em média, 10 anos, segundo a pesquisadora.
Clones que curam
Pesquisadores desenvolvem remédio contra leishmaniose a partir do DNA de micro-organismos
Objetivo é criar um medicamento com menos efeitos colaterais para o tratamento da doença, que afeta 2 milhões de pessoas no mundo todo
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