Raul Anselmo Randon, empresário que marcou seu nome entre os maiores empreendedores da serra gaúcha, morreu na noite deste sábado (3), aos 88 anos. O fundador das Empresas Randon foi internado em dezembro no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para implantação de um pino entre o quadril e o fêmur, mas uma série de complicações decorreu desde então. O coração frágil e complicações de cirurgia causaram do empresário, que deverá ser velado no Memorial São José.
Catarinense de Tangará, o neto de imigrantes italianos ergueu foi em Caxias do Sul um império que se mistura com o próprio desenvolvimento do segundo maior polo metalmecânico do Brasil. À frente das Empresas Randon, que tem origem na pequena oficina mecânica que fundou em sociedade com o irmão Hercílio, em 1949, e se expandiu para uma das maiores fabricantes de carrocerias de caminhão, autopeças e implementos agrícolas do planeta, o filho de Abramo e Elisabetha Randon construiu uma trajetória marcada pelo empreendedorismo, pela responsabilidade social e pela veia visionária.
Baseava a confiança no sucesso de seus negócios naquilo que se tornou uma de suas máximas: o transporte e a comida são as duas coisas que nunca vão terminar. Foi assim que expandiu seu olhar para o agronegócio e para a gastronomia, conforme os filhos foram assumindo o controle das empresas da companhia. Em duas décadas, o braço agropecuário das empresas Randon consolidou sete marcas no mercado, o que se pode compreender na frase que Randon cunhou ao associar seus produtos alimentícios aos restaurantes do Grupo DiPaolo, em 2016: a qualidade sempre vence.
Para além do empresário bilionário que emprega mais de 8 mil funcionários, Raul Randon gostava da vida e se dedicava a suas paixões, muitas vezes, transformando-as em negócios. Das viagens anuais à Itália, por exemplo, abraçou a ideia de um amigo de produzir um queijo inédito na América Latina, o grana padano. Para comemorar as bodas de ouro com a mulher, Nilva, em 2006, produziu com a vinícola Miolo, da qual se tornou sócio, o vinho especial que leva as suas iniciais, RAR. Na fazenda em Vacaria, onde gostava de descansar e jogar cartas com os amigos, deu início à plantação de macieiras que o tornou o quinto maior produtor e exportador da fruta no Brasil, com 1,1 mil hectares plantados.
Foi a incursão na agropecuária que rendeu a Raul uma das histórias com as quais ele mais se divertia e gostava de contar, sendo muitas vezes convidado a relembrar em entrevistas. Após obter a licença para produzir o queijo tipo grana no Brasil, o empresário foi atrás de todo o equipamento mais sofisticado para iniciar os trabalhos. Mas não era o suficiente. Mesmo as vacas precisaram ser importadas. E foi assim que, num certo dia de 1996, o público que aguardava pelo desembarque de passageiros no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, assistiu à chegada, em dois boeings, de 130 novilhas holandesas trazidas dos Estados Unidos. Aliás, poucas coisas pareciam deixar Raul mais orgulhoso do que o sucesso com a produção do Gran Formaggio, nome dado ao queijo premium.
Ao mesmo tempo cativante e identificada com a Serra, onde sempre morou, a figura de Raul Randon fascina pela ascensão do ajudante de ferreiro que em pouco mais de meio século de trabalho ingressou na lista de bilionários da revista Forbes Brasil, com fortuna estimada em R$ 1,27 bilhão em 2013. Dos mais de cem títulos e honrarias que recebeu em vida, ter sido apenas o segundo brasileiro (o primeiro foi Jorge Amado) laureado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Pádua, uma das mais antigas e importantes da Itália, tenha sido a mais importante. A honraria foi concedida em 2017. Sua trajetória foi contada em filme, livros e dezenas de entrevistas e perfis jornalísticos na imprensa de todo o país. Desta forma, o público pôde conhecer o homem que nadava três vezes por semana e o pai exigente de David, Roseli, Alexandre, Maurien e Daniel e avô dedicado dos netos.
Em uma das últimas entrevistas concedidas ao Pioneiro, ao lamentar a morte do empresário Paulo Bellini, em junho do ano passado, Raul Randon disse que o fundador e presidente emérito da Marcopolo ficaria para sempre na história de Caxias do Sul, por ser exemplo de empreendedorismo e por nunca ter parado de trabalhar. São razões semelhantes que asseguram ao personagem que melhor simboliza a Serra que deu certo uma página central na nossa história.