Não foi o coração frágil que levou Raul Randon, 88 anos, pela última vez a um hospital. Se há anos o empresário precisava de cuidados constantes por conta de uma insuficiência cardíaca, foram as fortes dores na coluna que exigiram uma atenção maior dos médicos nos últimos tempos.
Entre outubro e novembro do ano passado, Randon esteve hospitalizado duas vezes no Hospital São Francisco da Santa Casa de Misericórdia em Porto Alegre. Numa das ocasiões, foi submetido a uma infiltração nas raízes nervosas para aliviar a dor. No dia 3 dezembro, foi levado a São Paulo para implantar um pino entre a bacia e o fêmur no Hospital Albert Einstein. Até novembro, ele teve o acompanhamento direto do amigo e cardiologista Fernando Lucchese. Com a partida de Randon para São Paulo, Lucchese só monitorou a saúde do empresário à distância.
— Era um homem forte, mas obviamente dependia de muitos cuidados. Em outubro, precisou fazer uma intervenção no esôfago. Logo após, foi realizada a infiltração nas raízes nervosas. Ficava quatro ou cinco dias hospitalizado em cada vez. Quando foi a São Paulo, acabei não tendo esse acompanhamento direto — diz o cardiologista.
Após passar por uma cirurgia no Albert Einstein, a opção da equipe médica foi manter Randon internado.
No começo de fevereiro, o filho mais velho, David Randon, informou ao Pioneiro que o pai passava por uma recuperação lenta após a cirurgia no fêmur, pois havia sido uma intervenção muito delicada. David contou que o pai ficou fraco, pegou uma bactéria, mas que já se encontrava recuperado. A expectativa de David era de que, na metade de fevereiro, o pai viesse direto do hospital em São Paulo para a casa em Caxias do Sul. David revelou que o pai fazia caminhadas com andador pelo Albert Einstein e que, para receber a alta, precisava apenas estar apto a se apoiar na bengala.
"Ainda brincamos com ele que chegava de férias", contou, à época, David.
Nos últimos dias, porém, a saúde de Randon declinou muito. Ele acumulou água no pulmão, teve complicações no rim e no fígado e precisou passar por sessões de hemodiálise. Apesar de tudo, a família manteve a esperança de que patriarca retornaria para Caxias do Sul até os últimos dias.
Ainda nesta semana, a informação da família era de que o empresário estava consciente, conversando, e que, apesar de estar passando por hemodiálise, estava se recuperando e em vias de retornar para casa. Contudo, quando se trata de insuficiência cardíaca, a condição de um paciente como Raul Randon é sempre delicada.
— Foi há uns 20 anos que fiz uma cirurgia nas artérias coronárias do Raul. Há alguns anos depois, implantamos um desfibrilador no coração, o que lhe ajudou a sobreviver a paradas cardíacas — conta o cardiologista Lucchese.
Desde que Raul Randon esteve internado em São Paulo, em dezembro, a esposa, dona Nilva, permaneceu ao lado dele. Segundo uma das noras, ela veio para Caxias por dois dias e teve de voltar às pressas, pois não conseguia ficar distante do companheiro de mais de 60 anos.
Nesta semana, além de Nilva, Randon também teve a companhia dos filhos Alexandre, Daniel e Roseli e do neto Raul. No final da tarde deste sábado, o empresário estava no quarto do hospital ao lado do neto Raul quando sofreu uma parada cardíaca. A equipe médica decidiu entubar o empresário. Por volta das 21h, apesar dos esforços médicos, o resistente coração de Raul Randon parou para sempre.