Nascido Raul Anselmo Randon, em Tangará (SC), o encorpado empresário que espalhou o nome da família pelo mundo, assinando carrocerias de caminhão, não sabia ficar parado. Cumpriu todas as etapas da sucessão, confiava nos filhos o suficiente para deixar nas mãos deles o grupo com faturamento bilionário. Mas não queria nem ouvir falar em ficar em casa sem nada para fazer.
Em uma área originalmente destinada a florestamento, começou a plantar maçãs. Depois de ajudar a transformar Caxias do Sul em um dos polos metalmecânicos mais importantes do país, começava a mudar a produção e o cenário de Vacaria. Foi para lá que levou as vacas holandesas importadas para produzir o leite especial que queria usar na produção de seu queijo preferido, o grana padano. Afastado do comando da empresa que fundou, criou vários outros negócios, todos relacionados à alimentação. Costumava dizer que transporte e comida nunca iriam desaparecer como necessidade humana.
E para as que não conseguem ser preenchidas pelo mercado, também deu sua contribuição. Muito antes que a maioria dos brasileiros se desse conta, como agora, percebeu que o poder público não dava conta de tudo. Criou o projeto Florescer, para complementar a educação de jovens em situação de vulnerabilidade. Era sua menina dos olhos, a única de suas iniciativas para a qual não desdenhava da fama de Rei Midas. "Esse sim virou ouro", brincou no ano passado, quando o programa completou 15 anos com mais de 5 mil pessoas atendidas. Um feito e tanto para quem não havia completado o ensino primário. Na mais recente conversa com a coluna, temperou o costumeiro otimismo com um desabafo:
— O Brasil tem tudo, menos bons administradores públicos.
Antes de ser hospitalizado, preparava a expansão da rede de franquias Spaccio RAR, com produtos que levavam as iniciais de seu nome. Só mesmo a grande viagem para fazer "seu" Raul parar.