De acordo com uma pesquisa divulgada no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (SNDPD/MDHC), o Brasil tem mais de 18 milhões de pessoas com deficiência. Porém, apesar do número expressivo, a invisibilidade continua sendo um dos maiores problemas no país para quem possui deficiência, seja intelectual ou física. Com o intuito de criar um espaço de inclusão que oferecesse atividades das mais diversas áreas, da arte ao esporte para essas pessoas, nasceu o Clube Social Pertence.
Criado em 2011, pela educadora Sara Zinger em parceria com o empreendedor social Victor Freiberg, o Pertence é um local que oferece passeios, cursos, acompanhamento terapêutico e grupos de viagem para crianças, jovens, adultos e idosos com deficiência. Com a missão de proporcionar experiências memoráveis para jovens que nem sempre se sentem acolhidos em espaços públicos, o Instituto Social Pertence atende famílias de diferentes formatos e com situações sociais diversas e prepara-se para dar sequência ao projeto Esporte & Energia, que promove aulas de judô e jiu-jitsu. Iniciado em novembro de 2022, agora ele retorna com 20 alunos, divididos em duas turmas, que iniciaram suas atividades na metade do mês de maio.
Localizado no bairro Partenon, em Porto Alegre, o Instituto Social Pertence também promove atividades em formato remoto, alcançando jovens com deficiência do país inteiro, dando acesso a cursos de teatro, dança, música, entre outros. Contando com o apoio de empresas e com uma equipe formada por mais de 85 profissionais, o Pertence intensificou seu trabalho junto às famílias atípicas gaúchas após a enchente que assolou o Rio Grande do Sul no mês de maio.
Em uma parceria com a empresa Airbnb, intitulada Pertence Contigo, a instituição acolhe, em apartamentos disponíveis em Porto Alegre, pessoas com deficiência acompanhadas de seus familiares e pets. Até agora, foram 20 famílias acolhidas e, em breve, um prédio inteiro no Centro Histórico da capital será destinado para receber mais pessoas.
Para colaborar com o Instituto Social Pertence ou obter mais informações sobre as atividades e projetos promovidos pela entidade, basta entrar em contato pelos telefones (51) 3108-0710 e (51) 99176-9191(Whatsapp), ou pelo e-mail contato@pertence.me.
O presidente do Instituto Social Pertence, Victor Freiberg, conversou sobre essa e outras iniciativas da entidade, que completa 13 anos de atuação em 2024. Confira:
Como surgiu a proposta do Pertence?
O Pertence nasce de um olhar atento, há mais de 20 anos. A senhora Sara Zinger era professora e dava aulas particulares para pessoas com deficiência. Ela percebeu que aqueles alunos não tinham uma vida social além do convívio familiar. Eram todos jovens adultos, alguns já haviam saído da escola. Então, ela coloca alguns alunos no carro dela e leva para passear. Eu sou formado em Educação Física, bacharelado e licenciatura, e o meu estágio obrigatório aconteceu na piscina, acompanhando pessoas com deficiência. Eu gostava muito.
Comentei isso com a Sara e ela me falou dos seus alunos, que tinham uma faixa etária próxima da minha, e me convidou para participar desses passeios. Após esse primeiro passeio oficial, ao deixarmos os alunos em casa, os pais perguntaram quando seria o próximo encontro. Foi quando percebemos que havia uma demanda. As pessoas com deficiência também querem ser felizes, basta a gente oferecer ferramentas para isso. É quando nasce o Pertence. Nosso nome diz muito, pertencer a um grupo, à sociedade.
Por que a escolha do formato clube?
Nós não somos nem uma clínica, nem uma escola. Surgimos para que as pessoas com deficiência possam ter a sua própria história contada. Quando estamos num churrasco de domingo ao redor da mesa com a família, elas não querem só ouvir o primo que foi no jogo de futebol ou o irmão que se formou na faculdade, elas também querem ter sua própria história naquele momento. A nossa missão é criar experiências memoráveis e proporcionar o sentimento de pertencer nas pessoas com deficiência. O que é uma experiência memorável? Poder morar sozinho, fazer uma viagem, dar uma entrevista. Aquele frio na barriga, ser artista em um palco. O Pertence é um grande laboratório de sonhos.
Que diferenciais os participantes vão encontrar no Pertence?
Temos uma metodologia própria, que trabalha a jornada do aprendizado, a partir da memória afetiva e das emoções. Em alguns locais, muitas vezes a primeira pergunta é: qual é a sua deficiência? Aqui, essa é a última pergunta. Queremos saber quais são os sonhos, o que a pessoa gosta de fazer. A gente busca entender quais são as habilidades de cada um e explorarmos isso. Somos um espaço de lazer, um espaço social onde organizamos passeios, viagens e oficinas. Trabalhamos com esporte, cultura e gastronomia. Já realizamos uma viagem para a Bahia com 35 participantes com deficiência intelectual, sozinhos, sem os pais, trabalhando questões como responsabilidade, organização e cuidados especiais. Também temos um projeto aqui em Porto Alegre, chamado Experience Hotel, que treina nossos participantes a morarem sozinhos. Tudo isso trabalhando o protagonismo da pessoa com deficiência, que é o nosso objetivo principal.
Como surgiu o projeto Esporte & Energia?
O Esporte & Energia é mais um dos nossos projetos que envolvem atividades esportivas. Oferecemos oficinas de judô e jiu-jitsu 100% gratuitas e que trazem o esporte como uma grande ferramenta para a inclusão. Nesta segunda edição, iniciada no mês de maio, temos 20 participantes. Mais que impactar quem participa das aulas, o projeto impacta todas as famílias dos participantes e a sociedade. É a oportunidade de desenvolver e transformar a vida da pessoa com deficiência. Oferecemos transporte, monitores especializados e professores. Inclusive, hoje contamos com um professor de judô, Yves, que tem Síndrome de Down e é formado em educação física. Isso é muito representativo para nós e para os alunos. O Esporte & Energia 2ª edição é um Projeto de Lei de Incentivo Estadual - Pró Esporte, com o patrocínio da SulGás, e as vagas para esta segunda edição já estão esgotadas.
Como pessoas com deficiência e suas famílias podem participar do Pertence?
O Instituto Social pertence atende pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Sempre com qualidade e bom serviços, querendo oferecer o melhor para as pessoas com deficiência. Infelizmente, muitas vezes, as pessoas têm um olhar muito assistencialista para com essas pessoas. Queremos fugir disso e mostrar que as pessoas com deficiência merecem o melhor trabalho, o melhor professor, a melhor estrutura. Quem quiser conhecer as atividades que oferecemos, pode entrar em contato e, a partir de uma conversa, entendemos as necessidades das pessoas com deficiência e apresentamos as vagas disponíveis.
Vocês realizaram um projeto junto às famílias atípicas durante a enchente em Porto Alegre. Como foi essa iniciativa?
Tivemos uma atuação muito forte desde que a enchente começou dando suporte para as famílias atípicas. Começamos fazendo um mapeamento criado na força tarefa de um Coletivo de Instâncias Governamentais e Organizações Não Governamentais, tais como Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Secretaria de Desenvolvimento Social, FADERS e Instituto Social Pertence de Porto Alegre, RS.
Organizamos os dados sobre as PcD, PcAH/SD, as Pessoas com Doenças Raras atingidas pelas enchentes para mapear esse público, suas reais necessidades e, assim, articular os encaminhamentos quando necessário, para entender onde estavam e quais eram as necessidades destas famílias. Entendemos que eles necessitavam de um espaço individual, para respirar e reconstruir a vida. Foi quando começamos uma parceria com o Airbnb.org, acolhendo famílias durante um mês em apartamentos e oferecendo suporte psicológico, alimentação, materiais de higiene e de limpeza. Agora, estamos assumindo um prédio no centro de Porto Alegre, onde vamos conseguir abrigar famílias em longo prazo para que eles possam, com tranquilidade, dignidade e conforto, reconstruir as suas vidas. Para além disso estamos trabalhando a empregabilidade, a volta para casa dessas famílias.