Opção 1: se você é fanático por design automotivo, procura um SUV e quer gastar menos de R$ 100 mil, fique ciente de que você vai comprar um Renault Captur. Opção 2: se você não dá muita bola para a beleza do carro, mas vai levar esposa/marido para ajudar na compra e ela/ele escolhe o modelo a partir da beleza, ela/ele fará de tudo para você tirar o utilitário esportivo da concessionária e colocá-lo na sua garagem. A fábrica superou todas as outras (exceto modelos premium) no quesito estética automotiva.
É o suficiente para o sucesso? Não deveria, mas em um mercado cada vez mais pasteurizado e marcado por escolhas emocionais, os franceses têm tudo para se dar bem.
O modelo testado pela reportagem durante sete dias (425km) é o Intense, top de linha, que custa R$ 88,5 mil e traz motor flex 2.0, com 16 válvulas e 148 cavalos de potência, e câmbio automático de quatro marchas. Há ainda a versão Zen, de R$ 79 mil, com propulsor 1.6 flex, 120cv e câmbio manual de cinco marchas.
A Renault admite que gostou tanto do estilo que, "dentro de alguns semestres", adotará no primo Captur europeu o mesmo visual. A dianteira é bem marcada com dois grandes vincos no capô e uma imensa grade frontal, além de LEDs nas extremidades. Nas laterais, uma peça plástica ganha destaque na parte inferior, contornada acima por um friso cromado. As folhas das portas são formadas para deixar o Captur "musculoso".
Na traseira, a tampa tem cromado e para-choque altos, e as lanternas também são dotadas de LEDs. Um conjunto harmonioso, completado por rodas de desenho futurista.Mas dizer que o veículo se resume à beleza seria uma leviandade. O porta-malas, com seus 437 litros, empata com o Honda HR-V – ambos são os maiores da categoria. O cockpit é bastante confortável e ergonômico, com bancos forrados em couro. O sistema de navegação é fácil de usar e, com ótimo entre-eixos, quem vai no banco de trás tem vida boa.
O acabamento das portas deveria ser melhor, assim como o forro do teto. De gosto duvidoso é o suporte de iluminação interno. Os franceses caíram no démodé. Na hora de acionar o motor, um déjà vu: em vez de chave, um cartão praticamente igual ao usado, no início do milênio, no Megane. A peça tem compartimento próprio, mas pode ser levada no bolso. O sistema é prático, embora não seja atual.
Embora divida a plataforma com o Duster, as semelhanças são poucas. O Captur é dois centímetros mais magro e bem mais esguio. A altura do solo, as rodas grandes (17 polegadas) e o ângulo de saída de 31 graus dão a entender que ele encara qualquer parada. Mas não se engane: trata-se de um desbravador de shopping. Para encarar mato, areia e terra, o Duster tem versão 4x4, o Captur, não.
Porém, quando o assunto é tecnologia, o SUV recém-lançado transforma o antecessor em um jipe dos anos 50. O Captur tem quatro airbags e controles de estabilidade (ESP), de tração e de rampa. Verdade que o de estabilidade deveria ter opção de ser desligado para encarar lama. Mais uma prova de que o ele é essencialmente urbano.
Ao volante
A pilotagem só não é mais prazerosa porque a direção eletro-hidráulica é um pouco dura. Esse tipo de volante faz muito sucesso entre os franceses, que aparentemente gostam de sentir o volante "pesado", sobretudo na estrada. Os comandos atrás do volante são os mesmos adotados há anos pela Renault. O condutor tem de decorar como funcionam os botões para operar o som e realizar outras funções, pois os comandos não ficam à vista. Nada prático, mas com algum charme - bem ao estilo francês. Mas a fábrica exagerou na dose quando colocou o controlador de velocidade e da função ECO. Ambos ficam próximos da alavanca do freio de mão, quase escondidos.
Na condução urbana, o câmbio de quatro marchas até que não faz feio. As arrancadas e retomadas são firmes até se atingir os 50km/h. E, até o 60km/h, o Captur ainda é bastante silencioso. A partir daí, as marchas começam a ficar muito longas e deixam o SUV um pouco lento. Na estrada, que trafega a 80km/h e tem de ultrapassar terá de ter cuidado e paciência. Fatalmente, haverá redução de marchas, o que fará o motor gritar um pouco. A fábrica poderia ter colocado algum sinal luminoso indicando a marcha engatada.
A suspensão exclusiva é muito superior a do Duster. Faz o veículo ser melhor em curvas e na absorção de buracos. Os freios também funcionam com firmeza na hora de parar o veículo de quase 1,4 mil quilos. Nas curvas, os faróis auxiliares acompanham o movimento do volante.No teste, o consumo com gasolina foi uma surpresa positiva.
Na cidade, o veículo fez 9,3km/l na cidade e 11,9km/l na estrada. Mas o mais impressionante foi ver o quanto o veículo chama atenção de pedestres e outros motoristas.
Vendas
Em março, o Captur foi o 11º SUV mais vendido do Brasil, com a venda de 686 unidades. Conforme a Fenabrave, 62 delas foram vendidas no Rio Grande do Sul. Nos primeiros 15 dias de abril, curiosamente, a Renault vendeu exatamente o mesmo número de unidades no Estado, o que deixa claro que haverá crescimento. Na lista geral de vendas entre os gaúchos, o veículo ocupa em abril a 34ª posição.
Ficha técnica
Motor: flex, quatro cilindros, 1.998cm3, 16V, 143cv (148cv com etanol) a 5.750rpm, 20,9 mkgf a 4.000rpm
Câmbio: automático de quatro marchas, com tração dianteira
Suspensões: McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado (dianteiro) e tambor (traseira)
Direção: elétro-hidráulica
Rodas e pneus: 17", 215/60
Dimensões (cm): comprimento, 432,9; largura, 181,3; altura, 161,9; entre-eixos, 267,3
Peso: 1.352kg
Tanque: 50l
Porta-malas: 437 litros
Itens de série: faróis elípticos com junta cromada, lanternas dianterias e traseiras de LED, ponteira de escapamento cromada, roda de liga leve aro 17", ar-condicionado, bancos traseiros com encosto e assento rebatível, chave-cartão (não tem chave), computador de bordo com seis funções, função Eco Mode, indicador de temperatura externa, indicador de troca de marcha, painel digital , piloto automático, porta-objeto no alto do cockpit e nas portas dianteiras e traseiras, retrovisores com regulagem elétrica e rebatíveis eletricamente, Sensor de estacionamento traseiro, volante com regulagem de altura, quatro airbags, alarme, assistente de subida (HSA), controle eletrônico de estabilidade (ESP), controle eletrônico de tração (ASR)ABS com AFU, Isofic; Bluetooth para áudio e telefone, comando de áudio e celular na coluna de direção, Rádio 2-DIN com bluetooth, quatro falantes, USB e AUX.
Acréscimos da versão Intense 2.0: bancos com revestimento em couro natural e sintético, ar automático, câmera de ré, sensores crepuscular e de chuva, faróis de neblina em LED com função cornering, sistema multimídia Media Nav com tela touchscreen 7'' e navegação GPS e 3D Sound by Arkamys com conexão USB e auxiliar, função Eco-Coaching e Eco-Scoring integradas ao Media Nav.