Fabricante de caminhões e automóveis, a Mercedes-Benz sempre fez questão de manter certa distância entre os dois segmentos. Até que, este ano, o Vito quebrou alguns paradigmas dos alemães. O jeitão é de van, o motor é de sedã e ele é vendido nas concessionárias de caminhões, responsáveis também pelo comércio de furgões. Um veículo diferente, cujo público consumidor é bem vasto. Ele foi feito para trair quem quer fazer o transporte de executivos, mas tem atraído também famílias grandes, um pouco excêntricas e dispostas a investir R$ 160,6 mil.
Durante cinco dias, a reportagem andou por pelo menos 400km em estradas e vias urbanas com a versão Tourer 119 Luxo, com capacidade para oito pessoas e a mais luxuosa – a Comfort, mesmo feita para até nove ocupantes, tem o preço reduzido em cerca de 20% por oferecer menos recursos. Ao sentar ao volante, quem já dirigiu caminhões MB dos anos 1980 tem tudo para sentir um pouco de nostalgia. A posição de pilotagem é basicamente a mesma. O visual do painel e do volante também remetem aos pesadões. A sensação continua ao se engatar a primeira marcha e descobrir que ela é bem curta. Mas, assim que entra a segunda, fica claro que não estamos em um caminhão.
Faltaram sensores
É quando começa a falar mais alto o motor 2.0 turbo flex, com injeção direta, o mesmo do sedã C 200. Ele faz com que o veículo de 3.050kg chegue a 100km/h em 11s. E, a 110km/h, o giro do motor não ultrapassa 2 mil rotações – quem supera isso terá de lidar com certo barulho do propulsor. A velocidade máxima é limitada a 160km/h. Graças a uma eficiente suspensão independente nas quatro rodas, nas curvas o Vito lembra mais sedãs que veículos de carga. Com gasolina, o consumo foi 11,5/8,5km/l (estrada/cidade).
O utilitário não dá sustos e até surpreende pela estabilidade, embora pague certo preço na hora de encarar irregularidades no asfalto – a suspensão é um pouco dura. A visibilidade é ótima e, na hora de manobrar, ele é mais fácil que algumas picapes médias, pois tem raio de giro menor.
Porém, os alemães falharam feio ao não disponibilizarem no veículo de 5,14m os sensores de estacionamento nos para-choques e a câmera de ré. Para dirigi-lo, basta carteira de habilitação B – ou seja, ele é voltado também para não profissionais, que certamente terão mais dificuldade.
Na hora de frear, ponto positivo para o Vito, que lembra os luxuosos da marca. São quatro discos (os da frente, ventilados), além de ABS, distribuição eletrônica de força de frenagem (EBV), controle de estabilidade e de tração (ASR) e outros recursos. A 100km/h, leva 40m até parar. Melhor que alguns carros de passeio. Além de assistente de subida, há dois recursos bem bolados, sobretudo para quem usa o Vito para transporte. O primeiro é um sensor que analisa o comportamento do condutor e, caso identifique sinais de cansaço e baixo nível de atenção, recomenda pausa por meio de luz e aviso sonoro. O outro é o assistente que, ao perceber ventos laterais fortes, ajuda a manter o veículo estável.
Entrada de furgão
No que diz respeito a acesso, o Vito é um furgão. Para quem vai atrás, há uma única porta (de correr), do lado direito. Pela leveza e praticidade, pode ser manuseada até por uma criança. Os seis bancos de couro também são facilmente rebatidos. Todos os ocupantes têm fácil acesso a entradas USB. As saída de ar e do sistema de som também são generosas na parte traseira. Mas o ponto alto é o ótimo espaço de 690 litros para bagagens, bem maior do que a das vans para sete pessoas, nas quais mal sobra lugar para mochilas. O nível de acabamento supera o dos furgões do mercado, mas está mais para a área de caminhões do que a dos carros de passeio da MB.
Até a Mercedes tem dificuldade em estabelecer os concorrentes. O Topic dificilmente será comprado para quem quer levar a família para passear. Chrysler Town & Country e Kia Carnival até poderiam, mas são menos aptos para o transporte de executivos e até 40% mais caros. O JAC T8, que custa a partir de R$ 98 mil, é o concorrente mais próximo. O motor também é 2.0 turbo. Mas os bancos traseiros não são individuais e o espaço é bem menor na última fileira e para bagagens.
Ficha técnica
Motor: 4 cilindros em linha 2.0, 16V, comando variável, turbo, injeção direta. São 184cv a 5.500rpm e torque de 30,6kgm.f de 1.250 a 4.000rpms (com gasolina ou álcool)
Câmbio: manual de 6 marchas (tração traseira)
Direção: elétrica
Dimensões (mm): comprimento, 5.140; largura, 2.249 (com espelhos; altura, 1.910; entre-eixos 3.200
Suspensão: independente nas quatro rodas, com molas helicoidais, amortecedores e barra estabilizadora – na dianteira, tipo McPherson
Freios: discos em todas as rodas(ventilados na dianteira), com ABS, ASR, EBV e BAS
Rodas: liga-leve 16" (de 17¨é opcional)
Peso: 3.050kg
Tanque: 70 litros