Daniel Jacques
Especial
– Todo fusqueiro é um saudosista.
É assim que Luiz Carlos Bohrer define os participantes do Poa Fusca Clube, grupo do qual é presidente. Seus integrantes são essencialmente apaixonados por Fusca e derivados que contenham a mesma mecânica Volkswagen a ar do mais clássico automóvel nacional. Entre os modelos que também participam estão Kombi, Variant e Brasília.
O grupo se reúne toda a sexta-feira, das 20h às 22h30min, no Viaduto Dom Pedro I, próximo ao Hospital Mãe de Deus, na Capital. E há um encontro mensal no mesmo lugar, sempre no terceiro domingo do mês, das 9h às 12h.
– O encontro é sempre informal. Se tiver gente ocupando as vagas, procuramos outra, mas o pessoal já sabe que nós viremos, e geralmente tem vaga – explica o secretário do clube, Wilson Müller.
A paixão de Wilson pelo modelo começou no início dos anos 1990, curiosamente, quando ele trabalhava na Ford.
– Eu comprei um modelo 1982 em 1994. Na época, usava mais para viajar, mas acabei me apegando e o tenho até hoje – lembra.
Uma das preciosidades do clube, entretanto, é o modelo 1972 com placa preta que pertence ao sócio Lino Santos (à esquerda). Com motor 1500cc, acabamento interno monocromático e farol “olho de boi” (centro), o Fuscão, como a versão ficou conhecida, já pertenceu ao presidente Luiz Carlos.
– Todos têm história com Fusca. Eu morava em Porto Alegre e todo ano ia para a praia no veículo com meu avô. Ele trocava de carro todo o ano, então eu ficava sempre na expectativa para saber qual era o modelo, qual era a cor. Quando fiz 18 anos, ele me deu meu primeiro carro. Um Fusca – relata Lino.
O modelo precisou adicionar itens que não existiam na época por força da legislação atual. Entre eles, Lino destaca o cinto de três pontos (era só abdominal, de dois), o retrovisor direito, que não era obrigatório, e o encosto dos bancos. Este item, entretanto, os proprietários de carros placa preta são autorizados a dispensar para preencher o requisito de originalidade.
O caminho até vira placa preta
A placa preta é motivo de orgulho de quem possui, pois não é fácil. Além de ter mais de 30 anos de fabricação, o estado de conservação precisa ser impecável, e pelo menos 80% do veículo necessita ser original. Depois disso, o carro tem que estar associado a um clube reconhecido e vinculado à Federação Brasileira de Veículos Antigos – FBVA. A entidade nacional autoriza a vistoria pelos fiscais do próprio clube com check list de itens e condições. Só depois dessa aprovação que a documentação é encaminhada ao Detran para solicitação da placa preta e mudança no certificado de propriedade, no qual passa a constar “veículo de coleção”.
Criado em ano simbólico
Criado em 1996, mesmo ano em que o modelo deixou de ser fabricado no Brasil pela segunda e última vez, o Poa Fusca Clube conta hoje com cerca de 60 integrantes da Capital e Região Metropolitana. Além dos encontros, o grupo também costuma se reunir para viagens de confraternização.– Geralmente, procuramos locais bonitos na Serra e no Litoral, com bom estacionamento, pois os cuidados com os veículos são indispensáveis – assegura o secretário Müller.Ele também conta que o Dia Nacional do Fusca, 20 de janeiro, é sempre celebrado com um evento em Porto Alegre ou com uma ida a Lajeado, onde é realizado um evento estadual.– O clube une apaixonados e vive para celebrar o Fusca e seus derivados, além de criar esse ambiente de confraternização e amizade – finaliza.
Rumo a Belo Horizonte
Gaúcho de Bagé, Francisco Castro comprou um Fusca 1974 (à dir.)em 1975. Companheiro de várias viagens de ida e volta do Rio Grande do Sul para Belo Horizonte (MG), onde servia à aeronáutica, já perdeu muito da sua originalidade, mas é cuidado com carinho pelo proprietário há mais de 40 anos.– Comprei por que era o mais barato da época, mas em todo esse tempo nunca me deixou na mão – conta Francisco, que ressalta que o odômetro já “virou umas três ou quatro vezes”. Entre as alterações feitas estão motor, modificado para 1600cc, rodas e ignição eletrônica, inexistente na época.