Para dirigir uma picape média, o motorista precisa estar preparado para um confronto de sensações. E, no fim, o balanço é bem positivo, já se pode adiantar. Por 10 dias, a reportagem de Zero Hora rodou com a versão top do veículo mais vendido na categoria no Brasil: a Toyota Hilux SRX. Foram cerca de 1,5 mil quilômetros, 80% deles em trecho rodoviário.
Vamos começar pela parte menos interessante do teste. Até para quem tem experiência em testar veículos grandes, rodar com uma picape de 5,3m de comprimento por ruas apertadas é um desafio constante. Ainda mais em ruas desniveladas e não asfaltadas da Capital – nestes locais, trafegar com a caçamba vazia cobra o preço. Impossível não sentir na direção uma trepidação desconfortável, embora todo o esforço dos engenheiros da Toyota que qualificaram a suspensão da Hilux. Outra parte caótica é enfrentar o trânsito engarrafado (pensar em mudar de pista exige uma concentração extra, especialmente para quem está habituado com carros populares).
Mas vamos à parte boa: a viagem até Penha, no litoral norte de Santa Catarina. Encarar a freeway e depois a BR-101 nunca foi tão confortável. O silêncio do motor a diesel é parte decisiva nesta jornada. Soma-se a isso, na parte interna do veículo, o fato de o novo modelo contar com ar digital com saídas para a parte de trás, bancos de couro com ajustes elétricos e uma tela de 7 polegadas com um rico menu na central multimídia. Na comparação com seus principais concorrentes (S10 e Ranger), é a que apresenta o melhor acabamento e riqueza de detalhes.
Além disso, apresenta facilidades como a partida por meio de botão start-stop e a presença de alças que facilitam o acesso à cabine nas duas fileiras de bancos. Peca, porém, no espaço, especialmente para as pernas de quem senta atrás de alguém que mede além de 1,80m.
Acelerar é um capítulo à parte. Respeitando-se os limites de velocidades que se revezam entre 100km/h e 110km/h, a nova Hilux fez um consumo invejável para o seu peso: 14km/l usando diesel S-10 aditivado. O prazer ao dirigir no asfalto lisinho, em pista dupla ou tripla e beirando os 100km/l sem alguém por perto compensa o desafio dos sobressaltos da rotina na cidade. Na estrada, ainda que vazia, a caçamba não incomoda o motorista, seja em retas, curvas ou mudanças bruscas de direção.
Enfim, o comportamento da Hilux SRX na estrada parece o de uma SUV, com a vantagem de ter uma caçamba para quem precisa transportar cargas maiores do que as malas da família. Porém, há um preço. Neste caso da Toyota, é o maior da categoria. A versão mais barata, cabine simples, parte de R$ 119,9 mil, enquanto o valor inicial da cabine dupla é de R$ 132,3 mil –R$ 112,1 mil equipada com motor flex, com comportamento radicalmente diferente.
PONTOS FORTES
– Motor a diesel silencioso. Está equipado com motorização da série GD (Global Diesel), que trouxe melhorias nos sistemas de injeção e de admissão, turbo variável com intercooler e tratamento para redução do atrito interno.
– Câmbio automático bem ajustado para o peso do veículo, entregando cerca de 25% a mais em torque, segundo a Toyota, em relação ao modelo anterior.
– Design arrojado
– Acabamento interno sofisticado
PONTOS FRACOS
– Preço: comparando as verões top, é cerca de R$ 20 mil mais cara que a S-10, principal concorrente
– Tem maior peso por cavalo de potência entre as três mais vendidas. Isso resulta em maior tempo para atingir a aceleração desejada, bem como melhor desempenho em retomadas. Apesar disso, tem consumo igual à média da categoria (entre 7km/l e 9km/l na cidade e 12km/l e 14km/l na estrada).
– Espaço interno para quem senta nos bancos de trás.
– Fica devendo sensores de chuva, de luz e de pressão dos pneus, presentes nas rivais S-10 e Ranger, além de santantônio.
Mudando a história no mercado das médias
A Hilux está perto de um feito no mercado brasileiro. A picape média da Toyota deverá fechar 2016 à frente da S-10, campeã de vendas no país há 20 anos. No acumulado de vendas até agosto, de acordo com dados da Fenabrave, o veículo da montadora japonesa está disparado na liderança de seu segmento: 22,5 mil unidades comercializadas no país, contra 15,6 mil do modelo consagrado da Chevrolet. Uma vantagem respeitável que deverá garantir a medalha de ouro para a Hilux no fechamento de 2016 (veja lista abaixo). Um ano atrás, somando-se os dados dos oito primeiros meses, o placar apontava a S10 com 23.174 e a Hilux com 22.404. A virada nos balanços mensais da Fenabrave ocorreu em dezembro passado.
Detalhe: a federação inclui a Fiat Toro nesta turma, embora o veículo seja menor, numa categoria intermediária entre as picapes pequenas e médias. Fazendo esta junção, a Toro seria a líder atual, com 24,3 mil de janeiro a agosto deste ano. Considerando-se todas as picapes, a mais vendida é a Strada.
O crescimento da Hilux pode ser explicado por sua nova versão e, ainda, em função de um fenômeno de mercado. Afinal, apesar da crise econômica brasileira que vem complicando o setor automotivo de um modo geral desde 2014, o segmento de picapes acelera na contramão deste cenário ruim. Nos últimos cinco anos, apresenta crescimento em torno de 30%. Neste período, o veículo deixou de ser apenas um utilitário para a lida campeira ou de transporte de carga.Sem deixar de lado sua função genuína, as picapes se modernizaram, ampliaram a gama de versões, agregando conforto e itens tecnológicos que o deixaram com jeito de utilitário esportivo com caçamba, agradando como carro de família (as versões de cabina dupla, obviamente). E a Hilux, apesar de ser a mais cara que a média dos principais concorrentes, é a que mais vem agradando o consumidor brasileiro em 2016. A ponto de ameaçar, seriamente, o reinado de 20 anos da S10.
RANKING DE VENDAS ATÉ AGOSTO DE 2016 (UNIDADES)
Toyota Hilux 22.519
Chevrolet S10 15.676
Ford Ranger 10.307
Volkswagen Amarok 6.394
Mitsubishi L200 6.215
Nissan Frontier 2.602
FICHA TÉCNICA
Motor: diesel, quatro cilindros, 16V, turbo, 2.8
Potência: 177cv a 3.400 rpm e torque de 45,9 kgfm a 2.400 rpm
Suspensões: na frente, independente, com braços duplos triangulares, molas helicoidais e barra estabilizadora; atrás, eixo rígido e molas semi-elipticas de duplo estágio
Câmbio: automático, seis marchas e tração programável para 4X4
Direção: hidráulica
Dimensões (mm): 533 de comprimento, 186 de largura e 181 de altura
Freios: ABS com EBD e BAS
Pneus: 265/60, raio 18
Tanque: 80 litros
Itens de série: ar-condicionado digital, sete airbags, partida em rampa, controle de descida, piloto automático, câmera de ré, central multimídia de 7”, protetor de caçamba, função Eco/Power, farol baixo led, botão Start/Stop, revestimento em couro e banco do motorista com ajuste elétrico.
Preço:R$ 191.070 (com frete, valor no site da montadora)