Entre as inúmeras marcas do envelhecimento, a perda auditiva é um problema comum entre aqueles que passam dos 60 anos. Torna-se necessário aumentar o volume da televisão ou pedir para o interlocutor repetir o que acabou de dizer, além de experimentar a sensação de “escuto, mas não entendo” em um ambiente onde as vozes se misturam a muito barulho. Todos esses são sinais da chamada presbiacusia, o comprometimento da audição relacionado ao avançar da idade.
Essa perda é bilateral (nos dois ouvidos) e progride lentamente. De acordo com o médico otorrinolaringologista Sady Selaimen da Costa, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), há diversos fatores que contribuem para o problema, como o mundo extremamente ruidoso em que vivemos, medicamentos que podem prejudicar a audição e doenças com impacto negativo nessa habilidade específica.
Um dos sinais de que a pessoa está com dificuldade para ouvir — e também consequência dessa limitação — é o autoisolamento.
— Para não se constranger pedindo para os outros repetirem, para não ser chamado de chato ou surdo, o paciente vai se isolando. É a pior coisa que pode existir para a terceira idade — comenta Selaimen, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Os pacientes costumam se dividir em dois grupos: aqueles que percebem a própria deficiência e o impacto negativo que provoca na vida, desejando uma solução, e, na maior parte dos casos, os que são levados ao consultório por um familiar incomodado com a situação.
— Normalmente, há um processo de negação muito grande. Existe dificuldade de aceitar uma solução como um aparelho auditivo. Ainda há muito preconceito. Aparelho auditivo não é como óculos, que todo mundo usa — observa Selaimen.
Trata-se de um grande problema social, acrescenta o otorrinolaringologista José Lubianca, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA):
— Até em programas humorísticos fazem troça do surdo e têm pena do cego. A pessoa tenta ao máximo evitar o aparelho porque tem toda uma característica de envelhecimento. Esse preconceito já foi vencido em países como os Estados Unidos, onde os idosos recebem uma ajuda monetária para usar o aparelho, aí a produtividade aumenta e se reduz o risco de doenças.
A surdez é um dos poucos fatores de risco corrigíveis para problemas cognitivos na terceira idade.
— O isolamento leva à depressão, e a depressão do isolamento pode levar à demência. A surdez da idade é o fator de risco evitável mais comum que existe para a demência. Esse é o grande problema de não ir para a reabilitação — explica Lubianca.
Trazer esse risco à tona, durante a conversa na consulta, é capaz de diminuir a resistência do paciente em relação ao aparelho de amplificação sonora individual.
— Aí o paciente fica um pouco assustado e aceita fazer o teste de próteses — conta Lubianca.
Hoje em dia, os aparelhos auditivos são diminutos e totalmente digitais, características que facilitam a aceitação, ainda que continuem com preço bastante elevado.
— Não é raro ver pacientes em situação social com aparelho — observa o médico da Santa Casa. — Eles começam a interagir melhor, a se introduzir nas conversas. O grande benefício é evitar o isolamento e a progressão para a depressão e a demência — acrescenta.
Sinais de perda auditiva
- A pessoa pede, com frequência, para os interlocutores repetirem o que estão falando
- O volume da televisão ou do rádio é aumentado a ponto de incomodar os demais presentes
- Em um ambiente ruidoso, o indivíduo tem dificuldade para compreender o que é dito
- O paciente foca muito, mesmo sem perceber, na boca do interlocutor, para que a leitura labial o ajude a entender o que é falado
- Quando há mais de uma pessoa falando ao seu redor, o paciente só entende aquela com quem está mantendo contato visual
- A pessoa se justifica com frases do tipo “eu escuto, mas não entendo”, referindo que é capaz de ouvir, mas não de compreender o que está sendo dito pelos demais
- É comum que o paciente com presbiacusia passe a sofrer também com zumbido nos dois ouvidos