Compare a fala de três pessoas em idades bem diferentes: uma criança, um adulto jovem e um idoso. Não há dúvida: é possível distingui-las sem dificuldade.
O que fica claro neste exemplo é que a voz também sofre os efeitos do passar do tempo. Assim como o corpo, por inteiro, ela envelhece. Por volta dos 25 anos, a voz está madura e no máximo de sua eficiência. A idade avança, e aspectos anatômicos e de funcionalidade passam por alterações, da mesma forma que o restante dos tecidos e dos músculos. A voz começa a mudar por volta dos 60 aos 65 anos. Há particularidades: talvez você já tenha falado ao telefone com uma pessoa de 80 anos que, sem ser vista, aparenta ter 40.
— Essa pessoa cuidou da sua voz — atesta a fonoaudióloga Mauriceia Cassol, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Uma série de fatores contribui para essas mudanças ao longo da vida: a capacidade pulmonar diminui, a estrutura da prega (corda) vocal muda — principalmente em decorrência da perda de massa muscular — e a capacidade de articular os sons da fala também é reduzida.
— Isso vai deixar a voz dos idosos mais fraca, mais rouca, com menor projeção e, por vezes, também trêmula — resume a médica otorrinolaringologista Adriana Hachiya, presidente da Academia Brasileira de Laringologia e Voz.
Todos os indivíduos passam por esse processo de envelhecimento, mas nem todos procuram um especialista. Em torno de 20% dos pacientes têm queixas clínicas quanto a isso, provavelmente por se incomodarem mais com os sintomas. Em geral, os homens reclamam que a voz está mais aguda, soprosa (com mais escape de ar), com menor projeção (não conseguem falar alto e acabam falando mais baixo e para dentro), muitas vezes com uma certa imprecisão articulatória (a fala é meio enrolada). Também podem aparecer redução do fôlego para falar, tremor vocal, instabilidade, esforço fonatório (para falar), fadiga e rouquidão.
Rouquidão é sempre motivo de alerta, avisa Adriana. Se o problema persistir por 15 dias, o correto é buscar avaliação médica. O especialista trabalhará para descartar outras doenças, como as de origem neurológica. No caso de as características serem, de fato, de envelhecimento, a condição se chama atrofia senil ou presbifonia, para a qual há indicação de fonoterapia, que trabalha a capacidade pulmonar, ajuda no tônus da musculatura e também na parte articulatória.
Postura correta
Cuidar da saúde da voz deve ser uma preocupação durante a vida inteira (veja mais dicas ao final deste texto). Falar no tom adequado, nem gritando, nem sussurrando, é fundamental. Elevar a voz ou gritar devem ser recursos de exceção, para casos de grande necessidade, e não um hábito.
— Minha musculatura não vai aguentar correr uma maratona todos os dias — compara Mauriceia. — Deve-se evitar falar em um tom de voz que não é o seu tom habitual. Assim como elevo a voz sem necessidade, muitas vezes uso um tom mais agudo que não é o meu, e a prega vocal se desgasta também — acrescenta.
Praticar exercícios físicos e alongamento e manter uma postura adequada nas atividades do dia a dia também são iniciativas imprescindíveis.
— O pescoço, muitas vezes, sofre com tensões, dores. Isso não fica só na região externa, acaba indo para a interna e apertando, comprimindo. Tem que ter boa postura para trabalhar, usar o computador, sentar no sofá ou na cadeira. Sentar de forma confortável, sem tensionar a região do pescoço — recomenda Mauriceia.
O canto e as emoções
Cantar, destaca a docente da UFCSPA, é um excelente exercício para o idoso. Além de poder conviver com um grupo e fazer amigos, é possível, sob orientação do professor ou do maestro, desenvolver tonicidade nas pregas vocais e lubrificar as estruturas.
— É um antidepressivo natural — define Mauriceia.
A cantora, pianista e compositora Tássia Minuzzo coordena o Transversal do Tempo, projeto de prática musical na maturidade que se realiza no Centro Cultural 25 de Julho, em Porto Alegre. São aulas de canto que também trabalham elementos de dança e exercícios de respiração. Para a professora, os benefícios do canto para a voz passam pelo envolvimento das emoções.
— O canto está emocionalmente atrelado à pessoa no sentido de que ela vai manifestar sentimentos através da voz. Se está com medo, tímida, a voz vai manifestar isso. Trabalhar essa parte psicológica, trazer esses assuntos para a aula, reforça indiretamente a fisiologia da voz — comenta Tássia.
Cuidados com a voz
- Beber água com frequência
- Alimentar-se bem
- Não fumar
- Praticar exercícios físicos e alongamento
- Manter uma postura corporal adequada
- Dormir o suficiente para uma noite reparadora
- Tratar doenças como asma e rinite
- Não ingerir líquidos muito gelados ou muito quentes
- Evitar ambientes com ar-condicionado em temperatura muito baixa
- Proteger a região do pescoço no frio
- Evitar falar alto, gritar, sussurrar