— Perna esquerda e braço direito! Contrário e volta. Vai e volta, vai e volta, vai e volta. Bem rapidinho! — orienta a monitora na manhã de uma segunda-feira de abril. — Bem rapidão! — fala em seguida, acelerando os movimentos, para o riso da audiência de quase 20 participantes, sentados em cadeiras diante do imenso espelho, driblando diferentes níveis de limitação de movimentos.
É a primeira aula do ano do projeto Dança e Parkinson, que transcorre em uma sala para atividades práticas da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (Esefid) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no bairro Jardim Botânico, em Porto Alegre.
— Como estamos? — pergunta a monitora em um intervalo entre músicas.
— Bem cansados — responde alguém, divertido.
A doença de Parkinson é de origem neurológica. Está relacionada à degeneração progressiva dos neurônios, especialmente aqueles que estão localizados em uma região do cérebro chamada de substância negra. Essas células são produtoras de dopamina, cuja falta ou diminuição afeta os movimentos do indivíduo. Os sintomas mais comuns da enfermidade são tremores, lentificação e redução da quantidade de movimentos e rigidez muscular (leia mais abaixo). Trata-se da segunda doença neurodegenerativa mais comum, ficando atrás apenas do Alzheimer.
Coordenadora da iniciativa, a bailarina Aline Haas, pesquisadora e professora da UFRGS, afirma que o foco do projeto é a dança na sua essência, do ponto de vista artístico, e não a doença, e daí decorrem os benefícios para os pacientes.
— A dança melhora o aspecto motor, a mobilidade funcional, o giro, aspectos da marcha, sentar e levantar. Tem a socialização, você pertence a um grupo, isso gera sensação de bem-estar e qualidade de vida. A dança tem um benefício diferenciado, a questão do sensível, tocar, sentir, a imaginação — enumera Aline.
Os participantes, que apresentam sintomas motores e não motores, passam por testes antes de começar, inclusive com coleta de sangue. São avaliados e reavaliados ao longo do tempo. As aulas se realizam duas vezes por semana e se dividem em três momentos: os alunos começam sentados em cadeiras, depois se levantam e se posicionam atrás do encosto, mantendo o apoio de uma ou das duas mãos, até o momento de se movimentarem com total liberdade. Cada um executa os exercícios respeitando suas limitações – durante a aula, duas bengalas repousaram em um canto da sala. Cuidadores também podem participar – na aula a que GZH assistiu, dois dançaram junto.
Artur Schuh, professor do Departamento de Farmacologia da UFRGS e chefe do Serviço de Neurologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), ressalta a importância dos exercícios como ofensiva contra o Parkinson.
— Atividade física melhora o sintoma e tem que ser mantida em todas as fases da doença. O paciente fica mais resiliente e mais resistente. Tem estudos sugerindo que atividade física tem efeito neuroprotetor. É preciso incentivar os pacientes a ter atividades que sejam prazerosas. O estímulo ao equilíbrio que a dança tem é importantíssimo. E como o paciente acaba ficando com um estigma muito grande, ter um grupo que o estimula é fundamental — comenta o neurologista.
A aula inicial do Dança e Parkinson em 2024 contou com uma trilha sonora essencialmente internacional, mas o projeto valoriza sobretudo as manifestações artísticas brasileiras. Neste ano, serão trabalhadas as danças amazônicas. A maioria dos voluntários envolvidos no projeto está ligada ao curso de Licenciatura em Dança da UFRGS.
— Trabalhamos a imaginação, a criatividade, os aspectos cognitivos, a saúde do cérebro, a prevenção da demência — afirma Aline.
A coordenadora já estava com o trabalho bem estabelecido quando passou a contar com um aluno especial: o pai, Claiton Haas, 78 anos, diagnosticado com Parkinson há dois anos, a partir de pequenos tremores nas mãos e rigidez nas pernas. Ele sempre gostou de dançar e se integrou naturalmente ao grupo.
— O primeiro caso de doença neurodegenerativa de alguém próximo a mim é meu pai. Não imaginava que isso pudesse acontecer na minha família. Já vi o benefício para outras pessoas e agora estou vendo para ele — conta Aline.
Integrante do Dança e Parkinson há um ano e meio, Roseli Pinto Bertuzzi, 65 anos, descobriu a doença em 2016. O primeiro sintoma foi perda de força no lado direito do corpo. Hoje, ela enfrenta tremor, lentidão e rigidez.
— Saio daqui outra pessoa. Entro lenta e saio normal — celebra Roseli.
A aposentada mostra o grupo formado pelos colegas no WhatsApp e a foto que os identifica no aplicativo: a de uma festa junina.
— Somos muito unidos — conta Roseli, que frequenta ainda outro grupo de dança e também faz pilates.
Depois de uma hora de exercícios, a aula chega ao fim. Os participantes formam um círculo e dão as mãos. A turma tem um grito de guerra:
— No mínimo, no mínimo, o máximo!
O que é
A doença de Parkinson é de origem neurológica. Decorre da degeneração progressiva dos neurônios, especialmente aqueles que ficam em uma região do cérebro chamada de substância negra. Essas células são produtoras de dopamina, cuja falta ou diminuição afeta os movimentos do indivíduo.
Sintomas
- Tremores
- Lentificação e redução da quantidade de movimentos
- Rigidez muscular
- Dificuldade para caminhar, com arrastar de pés
- Dificuldades na fala
- Problemas para engolir
- Perda de equilíbrio
- Entre os sintomas não motores, estão distúrbios do sono, constipação e depressão, entre outros
Diagnóstico
Baseado na avaliação clínica do paciente. Não é possível dosar uma substância no sangue ou fazer uma ressonância magnética para identificar a doença. O neurologista pode requisitar exames para descartar outras enfermidades. Se os sintomas estiverem muito no início, o médico pode precisar acompanhar o paciente por um tempo até concluir o diagnóstico.
Tratamento
- Medicamentos
- Fisioterapia
- Atividade física
- Cirurgia