O diagnóstico de um quadro de demência exige que a casa do idoso passe por adaptações. Mais segurança, mobilidade e tranquilidade, reduzindo o risco de acidentes, são os principais objetivos. Diminuir a quantidade de móveis, liberar áreas de circulação e guardar medicamentos e produtos químicos em locais seguros estão entre as iniciativas que devem ser tomadas pelas famílias. Simplificar os ambientes, de modo geral, é o que deve ser mantido em mente.
A demência se caracteriza por alterações que podem comprometer diversos domínios cognitivos. A área afetada com mais frequência é a da memória. Setores como os de linguagem, percepção espacial, domínio social (adequação do comportamento), praxia (capacidade de realizar atividades) e gnosia (reconhecimento por meio dos sentidos) também podem ser atingidos, conforme explica Fernanda Cocolichio, geriatra do Serviço de Medicina Interna do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
— A demência é um conjunto de alterações cognitivas que podem interferir em qualquer uma dessas capacidades. São acometidos um ou outro desses aspectos, dependendo da demência. Há interferência na funcionalidade do idoso, progressivamente — afirma Fernanda.
Cada demência tem suas particularidades e evolui de forma distinta — a doença de Alzheimer responde pela maioria dos casos.
— Existem vários tipos de demência e todos convergem para o mesmo ponto: comprometimento cognitivo e, em estágio mais avançado, motor também. O que difere é o caminho que vão percorrer até chegar lá. Umas são mais rápidas, outras, mais longas — comenta Fernando Freua, neurologista da BP — A Beneficência Portuguesa de São Paulo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Academia Americana de Neurologia.
Freua orienta que, com a assistência do médico, a família promova as mudanças nos cômodos de forma gradual, conforme o estágio em que o paciente se encontra e as necessidades que forem se apresentando.
— Não se deve mudar a casa toda no primeiro sinal — alerta Freua.
Conviver com um indivíduo demenciado é uma tarefa desgastante e triste. Em meio a tantos pontos negativos, Fernanda procura sempre destacar a importância de quem toma conta desses pacientes.
— O cuidador acaba sendo o grande responsável por manter a dignidade dessa pessoa adoecida, até o final. Mesmo quando ela não se reconhece mais como pessoa. O cuidador relembra a esse paciente a pessoa que ele foi, a sua história. Isso faz parte do cuidado — observa a geriatra do HCPA.
Outras adaptações para a casa
- Restrinja o acesso a medicamentos e produtos de higiene e limpeza
- Recolha enfeites e objetos que podem causar acidentes
- Mantenha itens de uso cotidiano em locais de fácil acesso
- Crie contrastes no piso, nas paredes e na louça com cores diferentes
- Elimine desníveis no piso
- Em residências com mais de um andar, instale o paciente em apenas um deles
- Sinalize com palavras de alerta os eletrodomésticos que podem provocar queimaduras
- Teste a temperatura da água antes do banho
- Limite o tamanho e o número de espelhos
- Utilize protetores em quinas pontiagudas
- Guarde as chaves da casa e do carro em local seguro
- Retire a chave ou outro tipo de tranca da porta do banheiro ou mantenha cópia do lado de fora
- Cole fita antiderrapante nos degraus
- Distribua fotografias e objetos antigos pelos ambientes
- Posicione relógios e calendários em locais estratégicos
Fontes: Instituto Nacional do Envelhecimento (EUA), Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, Ministério da Saúde