São inúmeros os benefícios de um animal de estimação para os idosos: companhia, estímulo à socialização, comprometimento e bem-estar. Como em outras fases da vida, a adoção a partir dos 60 anos é uma iniciativa que deve envolver grande responsabilidade. Antes de escolher um gato ou cachorro, convém considerar uma série de aspectos que terão impacto no dia a dia da convivência — disponibilidade financeira e de tempo são os principais. Não prever os custos e o comprometimento que um bicho requer pode significar ter de submetê-lo a outro processo de adoção ou até, no pior dos cenários, abandono.
Recentemente, o rigoroso isolamento imposto pela pandemia ressaltou a importância da presença de cães ou gatos na vida de idosos que tiveram de enfrentar o período de isolamento, sem sair de casa ou receber visitas.
— Os animais se tornaram grandes companheiros. Viraram novos membros das famílias — constata Mauro Moreira, médico veterinário e presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS).
Ter um animal de estimação, já está comprovado em estudos, aprimora aspectos sociais, físicos e emocionais na velhice. Um cão, por exemplo, é um grande incentivo para deixar o sedentarismo. A necessidade de levar o cachorro para passear, no mínimo uma ou duas vezes por dia, acaba sendo um incentivo para caminhadas e interação com outros tutores e cachorros em praças e parques. Criam-se vínculo e compromisso em uma época da vida com muitas características que facilitam esse envolvimento, segundo a veterinária Kellen Oliveira, presidente da Comissão Nacional de Bem-Estar Animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG).
— A relação homem-animal é extremamente benéfica para crianças e adolescentes e na terceira idade. Quem está acima dos 60 já pode ter plano de aposentadoria, mais disponibilidade de tempo para cuidar, não tem mais preocupação com filhos em idade escolar e já passou por algum processo de perda de ente querido — diz Kellen.
A rotina de alimentação e demais cuidados também é prazerosa, destaca a professora da UFG:
— Dá a sensação do cuidar de alguém. Isso é uma coisa muito boa. Preenche a vida, preenche a mente. Ter uma responsabilidade auxilia demais.
Expectativa de vida e custos
Decidir-se pela adoção de um pet significa um comprometimento a longo prazo. A expectativa de vida de um gato fica entre 15 e 18, 20 anos. Um cachorro de pequeno porte, dependendo da raça, pode alcançar 18 anos. Cães de grande porte vão até 14 ou 15 anos. Também é fundamental pensar na expectativa de vida dos tutores: ainda que possamos ir cada vez mais longe, deve-se considerar que um indivíduo da terceira idade tem menos tempo pela frente — e então, quando ele vier a faltar, quem tomará conta de seu animal de estimação?
Independentemente da idade, todo tutor deve se planejar financeiramente para a chegada do novo morador da casa. Faça estimativas considerando alimentação (adequada à faixa etária), vacinas e uma visita anual ao veterinário, considerando-se animais jovens e que não estejam doentes (a frequência pode subir para duas a três consultas por ano na fase geriátrica).
— O tutor precisa entender que o animal não é descartável. Não é porque ele está com problema de saúde ou idoso que poderá ser descartado ou passar por eutanásia — ressalta Kellen. — Todo tutor deveria separar parte do salário para arcar com custos de check-up. A rotina de check-ups é muito importante para prevenção e detecção precoce de doenças. Fica mais barato manter um animal assim do que deixar de ir ao veterinário por três, quatro anos e descobrir, por exemplo, uma doença renal em estágio avançado — acrescenta a veterinária.
Qual pet escolher?
Um filhote de cachorro, brincalhão e cheio de energia até por volta dos dois anos de idade, pode não ser a escolha mais adequada para quem apresenta problemas de mobilidade, conforme Moreira. Em um abrigo de animais, é possível conseguir um animal de mais idade, do qual já se conheça melhor a personalidade. Gatos, por sua vez, são mais independentes, capazes de passar um bom tempo sozinhos e não exigindo voltinhas na rua. Sempre considere as características do adotante versus os traços dos candidatos a adotados antes de tomar a decisão.
— Cada raça tem a sua personalidade. O shih tzu é um animal de companhia, gosta de estar com as pessoas. O poodle toy também não exige muito trabalho. Tem o dachshund. Mas não tem que comprar um cachorro de raça para ter satisfação — comenta Moreira.
Considerações a serem feitas antes da adoção
- Um animal de estimação exige disponibilidade financeira e de tempo. Pense nisso, detalhadamente, antes de se comprometer.
- Considere a expectativa de vida do bicho que deseja adotar. Um gato pode ultrapassar os 20 anos.
- Adotantes idosos com problemas de mobilidade podem ter dificuldades para cuidar de um cachorro. O gato é bem mais independente.
- No dia a dia, ter um pet não significa apenas fornecer água e ração. Os animais devem ter qualidade de vida. Um cachorro, além de precisar passear na rua, gosta muito de companhia — humana e da mesma espécie. Se o bicho não tiver um companheiro, promova essa interação levando-o a praças, parques ou local onde possa brincar com outros.
- Faça uma estimativa de qual seria o impacto de um bicho de estimação no seu orçamento: ração, visitas ao veterinário (uma vez ao ano, quando não há doença), vacinas, vermífugo, banhos, hospedagem para o período de viagens. No início, há também o custo de alguns acessórios, como potes para comida e água, guia, cama etc.
- Cães e gatos devem receber alimentação de acordo com a faixa etária. A oferta de ração precisa acompanhar as diferentes fases da vida — filhote, adulto, idoso — ou estar de acordo com eventuais necessidades especiais, como problemas renais, por exemplo.