Hábito intensificado durante os períodos de reclusão da pandemia, o flerte e o namoro online se popularizam cada vez mais entre o público a partir de 60 anos. Pode faltar à terceira idade o traquejo dos jovens com os dispositivos tecnológicos, por isso são essenciais algumas dicas para aumentar a segurança nos relacionamentos que começam em sites e aplicativos e, eventualmente, migram para a esfera real.
A primeira recomendação é para que se aja naturalmente, como se o ambiente da internet fosse outro qualquer da rotina longe das telas, com a cautela que se costuma ter diante de um desconhecido. Idealizador e diretor do site de relacionamentos Coroa Metade, Airton Gontow sugere que a usuária do serviço imagine que está em um bar. Um homem começa a olhá-la de longe, se aproxima e pede para sentar junto. A mulher aceita. Começa uma conversa interessante, e fica evidente alguma afinidade entre ambos.
— Mas, por mais simpático, por mais agradável que ele seja, se lhe oferecer uma carona para casa, você vai aceitar? Não. Você vai voltar sozinha. No site, a mesma coisa: por mais agradável e simpática que seja a conversa, quando marcar um primeiro encontro, não aceite ser buscada em casa nem levada para casa. Se possível, quando chegar ao shopping, que é um lugar que tem gente e câmeras, ligue para alguém dizendo algo como "Estou aqui! Ele é simpático" para que ele saiba que as pessoas sabem dele e onde você está — sugere Gontow.
O conselho vale para todos, mas, especialmente, para as mulheres. Além do cuidado até se conhecer pessoalmente, o fundador do Coroa Metade, que tem 250 mil usuários ativos com idade a partir de 40 anos, sugere uma série de outras medidas para aumentar a segurança em interações que nascem na rede (leia mais ao final deste texto).
Um dos maiores perigos nas interações online é a possibilidade de ser vítima de um golpe. É muito fácil criar uma identidade falsa para falar com alguém e tentar conseguir dinheiro inventando histórias. Os chamados scammers (perfis utilizados para aplicar golpes) podem agir a partir de outros países, utilizando tradutores online — devido a essa característica, preste atenção a palavras truncadas e erros estranhos de português. Na tentativa de flagrar esses criminosos, experimente fazer perguntas bem específicas e avalie a rapidez da resposta (a ideia é justamente verificar se a pessoa consegue responder sem ter tempo para fazer uma pesquisa prévia): "Onde você morava em tal cidade?"
— Entre 100% com o peito aberto, com o coração aberto, mas 100% com a mente atenta. Gosto de falar que não há contradição entre a razão e o sentir. Você pode ser 100% aberto e 100% racional ao mesmo tempo. Golpistas são uma minoria bem pequena. A maioria das pessoas que entram em sites ou que vão dançar em uma baile estão procurando alguém. A maioria não é formada por picaretas — comenta Gontow.
Uma funcionária pública de 63 anos, de Porto Alegre, que prefere não se identificar, tenta encontrar um parceiro em um site pela segunda vez. Depois de um longo namoro, está solteira outra vez, buscando um parceiro entre 65 e 75 anos para um relacionamento sério.
— Não quero perder tempo, não tenho mais idade para isso — justifica.
Ela opta pela procura online por ser caseira e reservada e também por uma questão de segurança, temendo "cair em uma fria". Prefere ter longas conversas antes de partir para o encontro presencial. Em outra oportunidade, já chegou estender por meses um bate-papo antes de combinar um encontro com um homem que morava na mesma cidade. Tem encontrado dois tipos principais na internet: os que mandam figurinhas e vídeos com bom-dia e boa-noite e os que são "a pressa em pessoa", pedindo logo o número do WhatsApp.
— Acho que vamos ficando mais exigentes com a idade — reflete.
Os filhos sabem da procura virtual da mãe e a compreendem, mas ela preferiu não aparecer na reportagem para que os pais não a vissem no jornal, o que certamente lhes causaria preocupação. Ela diz se entreter durante as conversas com os pretendentes.
— A diversão me ajuda a passar o tempo e a elaborar minha separação. Também melhora minha autoestima. Sempre tem um elogio: "Ah, que sorriso bonito" — conta a usuária.
A funcionária pública aceita conversar com homens de idade pouco acima ou pouco abaixo da faixa etária que estipulou. Sempre dá uma olhada nas fotos para avaliar se o candidato não está muito "quebrado". Dia desses, começou a falar com um senhor que disse ter 76 anos. A — falsa — informação não se sustentou por muito tempo: vendo as fotos disponibilizadas no perfil do homem, ela o flagrou em uma celebração de aniversário. Dono da festa, ele estava diante do bolo, que tinha velas sinalizando que completava 80 anos. Ela interrompeu a conversa prontamente no site.
— E eu nem sei se aquela foto era atual— diverte-se a usuária, rindo.
Qual app ou site escolher?
- Há sites específicos por faixa etária mínima: a partir de 40, 50 ou 60 anos. Escolha o que se adapta melhor ao seu perfil e ao de quem procura.
- Você pode optar por um site estrangeiro se o objetivo for fazer amizades e praticar outros idiomas, por exemplo.
- Alguns sites e aplicativos dão ênfase ao perfil religioso dos usuários. Se esse é um fator determinante para você, pode ser uma boa alternativa.
- A segmentação vai além: há redes focadas em perfis do tipo "sugar daddy" e "sugar mommy", homens e mulheres que financiam o estilo de vida do parceiro.
- Você pode escolher entre plataformas totalmente gratuitas e serviços pagos. Assinantes têm acesso a recursos extras e benefícios a mais, como maior visibilidade para o perfil.
Começando a conversar
- Para o perfil ou trocas durante as conversas, escolha fotos atuais. Não significa que você não poderá escolher os seus melhores ângulos, apenas evitará frustrações de parte a parte e até possíveis conflitos.
- Preste atenção ao andamento da conversa. Se o interlocutor pergunta qual sua profissão e, dali a dois ou três dias, faz o mesmo questionamento, desconfie. Pode ser indício de que ele está interagindo com muitas pessoas ao mesmo tempo e se atrapalhando com as informações referentes a cada uma delas.
- Use o recurso do anonimato a seu favor. Cadastre-se com um apelido e não informe de imediato dados pessoais como nome e profissão nos bate-papos.
- Passe da conversa por escrito para uma chamada telefônica ou de vídeo. Com o recurso da imagem, você poderá saber, ao menos em parte, se a pessoa é a mesma das fotos ou se tem aquelas características.
- Nunca compartilhe fotos e vídeos íntimos.
- Jamais transfira dinheiro para alguém, não importa o quão convincente a justificativa pareça. O interlocutor pode não chegar a pedir ajuda financeira, mas talvez você se sinta compelido a oferecer ajudar ou empréstimo, dada a dramaticidade do relato.
- Desconfie de histórias com componentes dramáticos surgidos de repente na vida da outra pessoa: um assalto com roubo de dinheiro, a doença grave de um filho, um acidente de trânsito com feridos, um sequestro com pedido de resgate. Em geral, golpistas inventam enredos desse tipo para conseguir dinheiro das vítimas, muitas vezes mandando fotos que podem parecer reais — com o corpo aparentemente ensanguentado ou em uma delegacia, por exemplo. Outra possibilidade é a pessoa dizer que está lhe enviando um presente pelo correio, e de repente você é solicitado a pagar determinada quantia para liberar a mercadoria. Nunca acredite em coisas desse tipo.
O primeiro encontro
- Quando marcar o primeiro encontro, escolha um local bem movimentado. Quando já estiver na presença da pessoa, comunique sua localização a alguém. Ela saberá que conhecidos seus têm conhecimento do seu paradeiro naquele momento.
- Não aceite carona na ida ou na volta.
- Respeite o tempo para que vocês possam se conhecer melhor.