A medalha de ouro de Ana Marcela Cunha foi prevista lá atrás, em 2008. Na primeira vez em que a maratona aquática esteve no programa olímpico, os brasileiros que acompanharam a prova não vibraram com um lugar no pódio, mas se impressionaram com uma jovem baiana de 16 anos que ficou na quinta colocação.
A experiente Poliana Okimoto teve problemas e não se colocou bem, mas Ana Marcela era a imagem da satisfação e deixava quem viu a prova com a certeza de que ali estava uma campeã olímpica.
Demorou, mas a previsão se confirmou. Campeã de tudo o que apareceu de provas nas chamadas águas abertas de lá para cá, Ana Marcela Cunha não esteve nos Jogos de Londres e foi mal no Rio de Janeiro, vendo a rival Poliana ser medalha de bronze.
Isto não diminuiu a vontade de ser ouro numa Olimpíada. A nadadora seguiu ganhando títulos em cima de títulos, medalhas sobre medalhas, e encarou Tóquio como questão de honra. Não escolhendo água, mais quente ou mais fria; calma ou mexida, Ana Marcela chegou ao Japão favorita e confirmou, nadando sempre entre as primeiras e arrancando nos últimos dois quilômetros para a consagração definitiva.
A grande festa em verde e amarelo, como o cabelo da campeã, no Odaiba Marina Park significava que os deuses do Olimpo fizeram justiça à brasileira, que definitivamente é a Rainha das Águas e que já fala animada sobre Paris 2024.
Vaso sonoro
Muito já se falou da tecnologia existente nos vasos sanitários do Japão que facilitam a higiene pessoal de quem os utiliza. O que ainda causa estranheza em algumas peças é a presença, entre os controles, de um referente a "som", inclusive com graduação de volume. Quem aperta a referida tecla pode ouvir um ruído semelhante ao de água sendo despejada. A utilidade é para evitar constrangimentos com barulhos próprios de uma hora de necessidade.
Liberdade no final
Os jornalistas têm direito a transporte público gratuito em Tóquio durante a Olimpíada. Um passe é entregue a todos, desde que tenham cumprido as quarentenas obrigatórias — três dias no hotel e mais 14 só em locais oficiais dos Jogos.
Nos últimos dias, surgiram filas no Centro de Imprensa para a obtenção do cartão que dá direito a andar de metrô ou ônibus. Isto significa que muita gente não pode circular por locais públicos ou atrações turísticas da capital japonesa em praticamente todo o tempo dos Jogos. Quem, por exemplo, chegou ao Japão na véspera da abertura só estará totalmente livre no dia do encerramento.
Correndo do calor
Fazer a maratona aquática às 6h30min (no horário local) foi a providência da natação para enfrentar o fortíssimo calor de Tóquio. No hipismo, as provas de salto estão acontecendo à noite. No atletismo, porém, está a grande alteração, o que causa uma quebra de tradição das Olimpíadas.
As maratonas, nos dois últimos dias de competição, serão em Sapporo, bem ao norte do Japão, na ilha de Hokkaido, tal qual as provas da marcha atlética. Nunca estas disputas se deram tão longe de um estádio olímpico como desta vez. O problema é que o local foi escolhido por ter temperatura mais amena, mas tem prevista para os próximos dias uma forte onda de calor com temperaturas de até 35°C.
Revolução na vela
As Olimpíadas de Tóquio estão marcando algumas despedidas nas competições de vela, que estarão diferentes nos Jogos de Paris. Como já aconteceu no passado com a classe star, a mesma que Torben Grael e Marcelo Ferreira foram bicampeões, a finn será retirada do programa olímpico.
A Federação Internacional está se propondo a aumentar o número de competições para duplas mistas, como aconteceu com a Nacra neste ano — atingindo diretamente as gaúchas Fernanda Oliveira e Ana Barbachan, que precisarão se separar e formar duplas com homens para estarem na França em 2024. Também está definida a volta dos chamados barcos de oceano, maiores e que também deverão ter tripulações mistas.
Culpa da Fifa
Para não haver desavenças permanentes entre Comitê Olímpico Internacional e Fifa, os torneios de futebol dos Jogos Olímpicos são de gestão da federação. O modelo é o usado em Copas do Mundo ou de Mundiais de Clubes, num padrão altamente eficiente. O problema está na questão técnica.
Enquanto outras federações, juntamente com o COI, providenciam o que se tem de melhor em equipamentos e condições para os atletas desempenharem todo seu potencial, no futebol não houve a preocupação de padronização em alto nível dos gramados dos estádios.
Em Kashima, o jogo entre Brasil e México nitidamente foi prejudicado pela condição do campo, cheio de remendos e extremamente duro. Menos mal que o Estádio Internacional de Yokohama, palco de Brasil e Espanha, tem uma das melhores pisos do futebol japonês. O azar fica com as mulheres de Canadá e Suécia, que decidirão o ouro no Estádio Olímpico Nacional, castigado por provas do atletismo, como as de lançamentos e arremessos, que normalmente geram buracos.
Medalha de Ouro - Ana Marcela Cunha - A nadadora precisava do ouro olímpico e o conquistou. Ela já havia vencido todas as disputas possíveis, era considerada a melhor da história em sua modalidade, mas faltava o ápice. Agora, não falta mais.
Medalha de Lata - Vôlei de praia do Brasil - Depois de medalhar em todas as edições das Olimpíadas desde 1996, brasileiros estão fora do pódio em Tóquio, mostrando que o protagonismo de outros tempos foi perdido.