Não se pode dizer que o Grêmio de 2021 joga mais do que o de um ano atrás. No tricampeonato gaúcho ainda havia Everton Cebolinha, Pepê surgia em grande fase, Geromel e Kannemann jogavam mais vezes e tinham um ano a menos cada um, e até a lateral direita via Victor Ferraz e Orejuela se revezarem com boas atuações.
Isto não impedia de se considerar que o time apresentava decréscimo de produção em relação ao que foi campeão em 2018. Tem sido assim. Parece que a cada temporada a equipe gremista joga menos, mas não deixa de ganhar o Gauchão.
Há, entretanto, com queda de produção ou não, uma característica que tem sustentado o Tricolor com a hegemonia gaúcha. Os jogos fundamentais são vencidos, mesmo que com atuações fracas ou até fraquíssimas. Os clássicos são prova disto.
Não esteve errado o treinador do Inter, Miguel Ángel Ramírez, ao lembrar que no Gre-Nal do atual Gauchão houve equilíbrio. É verdade, mas o Grêmio ganhou com um gol no final. Assim vem acontecendo, seja contra o maior rival ou clubes do Interior. No ano passado, o Caxias venceu três vezes os gremistas, mas a única derrota caxiense lhe custou, em casa, um placar que foi suficiente para levar o título para a Arena.
O Grêmio tem a tranquilidade para jogar e ser eficiente na hora certa, jogando bem ou não. É a chamada "casca", fruto da experiência e de um espírito que tem muito a ver com a passagem de Renato Portaluppi. No Gauchão, o Tricolor é desassombrado, tem, sabe-se lá de onde uma certeza de vitória, mesmo nos momentos de menos merecimento. Nenhum time pode se sustentar por muito tempo apostando nisto, semelhante ao que os gremistas chamam de "imortalidade" em outras oportunidades. Há limites, mas desde 2018, eles estão sendo postos a prova pelos tricolores.
Para ser tetracampeão gaúcho, é claro que os gremistas vão tentar aproveitar esta segurança adquirida pelos mais antigos, repassando-a aos que agora chegaram ao grupo. Há, porém, os riscos. A casca pode rachar se não for lubrificada.
Os adversários, que não a têm, não estão proibidos de rompê-la. A personalidade do Grêmio lhe garante força, mas é preciso ser consciente de duas coisas: ela é apenas uma vantagem, não uma conquista, e só serve para a realidade gaúcha.