Desconhecido ou não, toda a vez em que se fala de uma partida contra um clube boliviano em La Paz, a primeira coisa que vem à mente é a altitude. Não há como ser diferente. Os 3,6 mil metros acima do nível do mar da capital da Bolívia alteram completamente o metabolismo das pessoas e sacrificam ainda mais quem precisa correr por até 90 minutos contra jogadores acostumados a estas condições.
Por mais que Miguel Ángel Ramírez diga que o Inter jogará contra o Always Ready, a preocupação não estará somente na equipe adversária. Menos mal que há um especialista em diminuir os efeitos nefastos do ar rarefeito que trabalha no Beira-Rio.
Há anos, Luiz Crescente, coordenador médico colorado, é reconhecido como um dos maiores fisiologistas atuando no esporte brasileiro. Sempre é dele a elaboração das estratégias para minimizar os prejuízos da altitude quando o Inter a enfrenta. Casos como o de La Paz são tratados como extremos, diferentes de locais como Quito ou Bogotá, onde a influência existe, mas em menor escala.
Embora desempenhando suas funções há quase 30 anos no clube, Crescente teve uma viagem marcante à capital boliviana trabalhando pela Seleção Brasileira nas últimas Eliminatórias, merecendo rasgados elogios por seu trabalho estratégico para a boa reação dos atletas.
Nas entrevistas de final de jogo no dia 5 de outubro de 2017, após o empate sem gols entre Bolívia e Brasil, não houve integrante da delegação brasileira que não falasse em Luiz Crescente, parabenizando-o e agradecendo as providências tomadas na preparação do jogo. As palavras saíam naturalmente, entre outros, do técnico Tite, do coordenador Edu Gaspar, de jogadores como Neymar e Daniel Alves ou de pessoas do apoio como assessores de imprensa e seguranças. A verdade é que a equipe não ganhou o jogo, mas dominou durante todo o tempo, pouco foi ameaçada e só parou numa atuação brilhante do goleiro adversário.
A receita contra a altitude usada pelo médico do Inter na Seleção Brasileira foi algo que deve se repetir na estreia colorada na Libertadores. A primeira providência é o último treino no Brasil, com viagem em voo charter apenas para pernoitar em Santa Cruz de La Sierra.
O deslocamento para La Paz aconteceu na data da partida, algo que se repetirá na próxima terça-feira (20). A previsão de permanência na capital boliviana não deve exceder oito horas entre chegada e retorno.
O que mais chamou a atenção em 2017 e que foi tido como ponto chave no combate à falta de ar para os atletas foi o uso de 11 cilindros de oxigênio, um para cada jogador titular. Naquela oportunidade, eles os utilizaram durante todo o intervalo e em alguns momentos durante a partida, visto que outros tubos ficavam também ao lado do campo.
Se não é possível evitar o efeito da altitude, a ideia é dar o máximo de condições aos atletas, que, vendo os equipamentos e as providências, passam a ter maior tranquilidade e se sentirem mais seguros. O fator emocional também pesa muito neste momento, segundo avaliação médica. A viagem colorada para a Bolívia acontecerá na próxima segunda-feira.