Houve uma época em que atuar na altitude representava pânico para jogadores brasileiros. Não foi o que se viu na tarde desta quinta-feira (5), nos 3,6 mil metros de La Paz. Superior durante toda a partida, o Brasil, já classificado para a Copa da Rússia, só parou nas mãos do goleiro Lampe, responsável para que o jogo terminasse sem gols. Durante a partida, minutos após garantir classificação para 2018, a Inglaterra confirmou amistoso contra o Brasil, dia 14 de novembro, em Wembley.
Os primeiros minutos foram de total monotonia. Enquanto a Bolívia esbarava em suas próprias limitações, o Brasil pouco se arriscava, como que buscando aclimatação aos efeitos da altitude da capital boliviana. Optava por chutões para a frente, o que dificultava a movimentação dos atacantes. Também os buracos tornavam irregular a trajetória da bola quando o time buscava os passes. Os dois primeiros arremates foram da Bolívia, ambos por Machado, o segundo com algum perigo. O Brasil tentou pela primeira vez a 21 minutos, com Phillipe Coutinho, deslocado pela direita. Mas o arremate, rasteiro, passou longe.
Quando despertou para o jogo, a Seleção Brasileira criou uma sequência tão forte de oportunidades que só a falta de capricho nas conclusões e a brilhante atuação do goleiro Lampe justificam a falta de gols. Em todos momentos, ficou claro o entendimento entre Neymar e Gabriel Jesus, a maior aposta para a Copa. A 24 minutos, o centroavante do Manchester City recuou de calcanhar e Neymar chutou no canto esquerdo, para defesa do goleiro boliviano. Aos 26, depois de tabela entre os dois, a bola sobrou para Coutinho, que concluiu em cima do goleiro.
Em nova jogada preparada por Gabriel Jesus, que ganhou a disputa com dois marcadores, a 32 minutos, Neymar arrematou para defesa arrojada. Aos 38, Paulinho deu um sutil toque de letra, depois de cruzamento de Alex Sandro, e o chute de Gabriel Jesus atingiu o rosto do goleiro. No momento mais marcante do primeiro tempo, Neymar, lançado por Paulinho, driblou o goleiro, mas viu seu chute ser defendido sobre a linha pelo zagueiro Valverde. Na volta, novo chute do atacante do PSG e outra intervenção salvadora do zagueiro. Lampe faria sua última defesa a 45 minutos, em arremate de longa distância de Daniel Alves.
A Bolívia surpreendeu com um potente chute de Bejarano, a 47 minutos, que acertou o travessão, com Alisson já vencido. O goleiro, contudo, seria importante no rebote, ao defender cabeceio de Fierro.
Foi como se não tivesse ocorrido o intervalo. Com menos de um minuto, após passe de Neymar, Paulinho concluiu de dentro da área e Lampe, com o braço esquerdo, defendeu outra vez. Como se não sentisse a altitude, o Brasil voltava a assediar, com Neymar tonteando a defesa. De novo, porém, faltava o acabamento ideal, talvez pela maior velocidade adquirida pela bola tantos metros acima do nível do mar. Aos 15, seu chute, cruzado, só não entrou pela agilidade do goleiro. Não seria erro se a arbitragem marcasse pênalti sobre Gabriel Jesus na origem da jogada.
Nem mesmo a correria do primeiro tempo os bolivianos conseguiam repetir. Limitavam-se a formar um bloco defensivo cada vez que o Brasil avançava. Em um último esforço, Moreno serviu de cabeça a Arce que bateu muito alto. Willian, colocado em lugar do pouco inspirado Phillipe Coutinho bateu em diagonal a 32 minutos, forçando Lampe a nova intervenção. A última chance clara foi a 37 minutos, em cabeceio de Gabriel Jesus. Claro, Lampe pegou de novo e fechou sua tarde de herói boliviano. Empatar com os pentacampeões foi um prêmio de consolação para a Bolívia, que ficará fora da Copa.
ELIMINATÓRIAS, 17ª RODADA, 5/10/2017
BOLÍVIA: Lampe; Valverde, Raldes e Gutiérrez; Justiniano (Raul Castro, int), Bejarano, Christian Machado e Morales; Arce (Saucedo, 34'/2°), Fierro (Álvarez, 12'/2º) e Marcelo Moreno
Técnico: Mauricio Soria
BRASIL: Alisson; Daniel Alves, Thiago Silva (Marquinhos, 29'/1º), Miranda e Alex Sandro; Casemiro; Paulinho (Fernandinho, 36'/2º), Renato Augusto, Phillipe Coutinho (Willian, 20'/2º) e Neymar; Gabriel Jesus
Técnico: Tite
Cartões amarelos: Valverde (B)
Arbitragem: Fernando Rapallini, auxiliado por Diego Bonfá e Gabriel Chade (trio argentino)
Local: Estádio Hernando Siles, em La Paz