
Dá calafrios, e não é sintoma de covid-19, quando se lê ou ouve que há uma sondagem e a vontade de clubes e federações para que, em outubro, os jogos de futebol possam passar a receber torcedores no Brasil. Para variar, o tema surge com força no caótico Rio de Janeiro e mais uma vez tem a simpatia do Flamengo coincidindo com a ideia. Sob todos os aspectos, surge uma ameaça para o Brasileirão.
A volta do público aos estádios não aconteceu em nenhum lugar do mundo. Qual a razão que o Brasil teria para ser vanguarda nesta aberração? Ninguém nega ou deixa de lamentar os prejuízos causados pelos portões fechados para clubes e entidades que comandam o futebol. O limite da atividade, porém, já foi atingido com os jogos ocorrendo dentro da normalidade possível. Chega a ser constrangedor tentar explicar que um Maracanã com 30% de sua capacidade, o que pregam os defensores do absurdo, significa mais de 20 mil pessoas e isto é risco alto de contágio. Não tem como garantir distanciamento, testes ou qualquer protocolo para torcedor.
Não bastasse isto, como fazer para que os governantes de outras cidades e estados permitam tal liberalidades? Simples: não liberariam. Aí, haverá clubes jogando com suas casas vazias, enquanto outros, olha o Flamengo aí, teriam torcedores a empurrá-los. É o que menos importa, mas haverá desequilíbrio técnico. Menos mal que a CBF não admitiu conversas sobre o assunto nos últimos tempos, mas é bom estar atento.
O Flamengo já ganhou uma Medida Provisória do Presidente da República, desautorizou a Prefeitura do Rio de Janeiro e voltou a treinar quando era proibido, atropelou os protocolos e fez o campeonato carioca ser retomado antes da hora e agora quer recolocar sua torcida no Maracanã antes que qualquer outro clube. O atual campeão da América é um clube gigante, o de maior torcida do Brasil, heptacampeão brasileiro e campeão mundial. O que ele não pode ser é artífice de uma iniciativa perigosa para a saúde pública. Que a CBF realmente mostre que tem mais autoridade, algo que do poder público carioca e da federação local não se pode esperar.