Eu quero votar para presidente. Dos Estados Unidos. Só assim a democracia seria plena. Minha reivindicação não é um devaneio. Tenho razões concretas para apresentá-la. A principal é que algumas das decisões tomadas em Washington impactam a minha vida mais do que eventuais leis e projetos aprovados em Brasília.
As fronteiras políticas se tornam obsoletas quando se trata de problemas que não respeitam linhas no mapa. Mudanças climáticas, crises financeiras e avanços tecnológicos reverberam diretamente no cotidiano de todos os habitantes do planeta. Os efeitos de uma taxa de juros definida pelo Federal Reserve mexem no meu dia a dia, mas não tenho voz para influenciar nessa escolha.
Mais do que nunca, precisamos de uma governança global que represente a todos, e que distribua o poder de decisão de forma justa
Consideremos o que aconteceu na crise financeira de 2008, um colapso originado em Wall Street, mas que devastou economias e famílias ao redor do mundo, incluindo o Brasil. A economia de um país afeta o preço de alimentos, empregos e a vida de milhões em outros lugares.
Em tempos de interdependência global, a noção de cidadania precisa se expandir. A democracia, que hoje é limitada a territórios, deveria evoluir para um modelo que refletisse os desafios do século 21. Mais do que nunca, precisamos de uma governança global que represente a todos, e que distribua o poder de decisão de forma justa. Afinal, o mundo de hoje exige soluções globais — e um novo jeito de participar. Em breve, quem sabe, não votaremos mais em pessoas, mas em algoritmos, programados para decidir sem filtros emocionais. Eles serão diferenciados pelos pesos que darão a temas econômicos, sociais, culturais, ambientais, educacionais e políticos. Ou isso, ou algum outro sistema que nos devolva a esperança em um modelo que balize nossa convivência.
Quando a China ultrapassar os Estados Unidos como maior potência global, e há quem diga que isso já aconteceu, vou querer votar para presidente da China. Não vai rolar. Nem eu, nem os chineses. O fato de a China não ser uma democracia dá ainda mais peso para a minha conclusão: a democracia faliu. Viva a democracia.