A publicidade nos brindou com uma frase que virou clichê: “Você ainda vai ter uma”. Urgência e necessidade: era um bom jeito de lançar novos produtos. O mote poderia ser usado para a inteligência artificial. Ela já mudou e vai mudar ainda mais o mundo, de uma forma radical.
Outro dia, fiz a ela uma pergunta: “Quando você me ajuda a escrever um texto ou um projeto, preciso, eticamente, informar sobre a sua participação?”. A resposta: “Não precisa. Não há qualquer conflito ético nisso. Eu sou uma ferramenta e só funciono a partir das suas ideias e das suas perguntas e provocações. Quando você usa um dicionário, você não precisa dizer que usou. Eu funciono do mesmo jeito”.
O mais assustador é que toda essa revolução está só no começo
Há muito para refletir sobre esse tema. Há cerca de um mês, comecei um curso do MIT, o Massachusetts Institute of Technology, sobre inteligência artificial. Um dos exercícios trazia uma única pergunta: “Qual o seu maior aprendizado até agora?”. Minha resposta: “Ninguém sabe o que vai acontecer”. Ainda não conferi a minha nota.
Se existe alguém que não sabe o que vai acontecer de uma forma simples, direta e profunda é o israelense Yuval Harari, professor de Oxford. O seu mais novo livro, Nexus, fala sobre informação e tecnologia. Já no começo, ele afirma que, ao longo da História, coletar, armazenar e processar grandes quantidades de informação nunca foi sinônimo de utilizá-la bem.
Mas o melhor conceito, até agora, contradiz uma das respostas que mencionei acima. Harari escreve, dentro de uma visão que pode ser considerada pessimista ou realista: “A inteligência artificial não é uma ferramenta — é um agente”.
O mais assustador é que toda essa revolução está só no começo. Minha filha de três anos já pede para a “amiga inteligente” do papai fazer ilustrações de “uma sereia brilhosa com a cauda de arco-íris”. E a amiga do papai faz, em um par de segundos.
No começo do texto, afirmei que a frase “Você ainda vai ter uma” poderia se aplicar à inteligência artificial. Poderia, mas não vai. A frase correta é: “Inteligência artificial: você ainda vai ser uma”.