Existe um livro espetacular que se chama Meu Nome É Vermelho. Foi escrito pelo turco Orhan Pamuk. O que mais me encanta é a forma como os seres inanimados e as coisas se expressam. A cor vermelha fala, em primeira pessoa: “Uma vez, na Ásia Central, quando um belo aprendiz me passava com seu pincel na sela de um cavalo que um velho pintor cego desenhara de memória, surpreendi a animada discussão que dois pintores, também cegos, travavam a meu respeito”.
Muitos me invocam e me veneram, mas poucos me compreendem
Eu me pergunto o que a democracia diria diante do embate em seu nome travado por um empresário e um magistrado. Não tenho o talento de Pamuk. Por isso, estabeleci os parâmetros e os argumentos. Depois, submeti tudo a ferramentas de tecnologia. No fim, lapidei e dei forma ao texto a seguir:
Eu sou a democracia.
Muitos me invocam e me veneram, mas poucos me compreendem. Não sou apenas um nome vociferado em discursos acalorados. Vejo-me agora nos lábios de dois homens poderosos, Elon Musk e Alexandre de Moraes. Cada um, a seu modo, jura ser meu defensor. Um, da cadeira de um gigante da tecnologia. O outro, do tribunal mais alto de um país que conheceu ditaduras e sonhou com a liberdade. Musk fala sobre um espaço em que ninguém deveria ser silenciado. Para ele, sou um campo infinito e sem cercas, no qual tudo pode crescer, até mesmo ervas daninhas. No entanto, a liberdade que me define não é anarquia. Eu floresço com a diversidade de vozes, mas também com o respeito aos limites e às consequências das palavras e dos atos. Eu sou o diálogo equilibrado, não o grito irascível e ensurdecedor.
Moraes, por sua vez, empunha minha bandeira em nome da ordem, do controle e da justiça. Ele me vê como algo que precisa ser protegido, mesmo que isso signifique apertar os laços da liberdade. Não sou o controle absoluto. Movo-me no espaço entre liberdade e responsabilidade. Minha essência é a balança, o equilíbrio, e não o punho de ferro que sufoca.
Sou feita de compromissos e de concessões mútuas. Não sou perfeita: sou a oportunidade contínua de melhoria. No final, sou eu que falo: estão usando meu nome em vão. Não sou um disfarce para o ego de poucos, sou a esperança de muitos.