O trânsito de Porto Alegre melhorou desde que a EPTC foi fundada, em 1998. Se hoje ele é complicado, antes era o caos. Os carros estacionavam em qualquer lugar, não havia radares de controle de velocidade e muito menos fiscalização eficiente. Defendo há muito a tese de que os agentes de trânsito não têm a função de educar, pelo menos no sentido mais usado da palavra. Motorista que não é educado nem deveria receber a habilitação. Mas se levarmos em consideração que a punição pelos erros e imprudências faz parte do processo educativo, então os fiscais de trânsito têm uma função didática fundamental. E eles têm.
A decisão da volta do amarelo piscante parte de um pressuposto terrível
Nos últimos dias, li muito sobre a volta do amarelo piscante nas sinaleiras da Capital. Ouvi de um dirigente da EPTC que o principal efeito da medida é na segurança pública, já que carros parados no sinal durante a madrugada podem se transformar em alvo dos bandidos. Ok, é um argumento. Um bom ponto.
Mesmo assim, fiquei levemente chateado, porque ouvi pouco, quase nada, sobre o personagem ao redor do qual as decisões de trânsito deveriam ser prioritariamente tomadas: o pedestre.
A decisão da volta do amarelo piscante parte de um pressuposto terrível: o de que ninguém caminha pelas ruas da cidade durante as madrugadas. Há décadas, aceitamos esse fato como se fosse normal, mas não deveria ser.
Além disso, temos uma população cada vez mais idosa e que, como decorrência natural da vida, caminha mais devagar. Basta uma rápida olhada nas estatísticas dos acidentes para notar que boa parte deles envolve pedestres com mais de 60 anos. Precisamos de mais tempo e de mais segurança para as travessias de ruas e avenidas, e não de menos. Precisamos cuidar melhor das nossas calçadas. Os carros que esperem.
A cidade deveria ser feita para caminhar. Esse é o normal, não o contrário. “Cidade de meu andar, deste já tão longo andar!”, escreveu Mario Quintana, falando sobre a Porto Alegre em que viveu. Hoje, com certeza, esse poema seria bem diferente.