Uma pesquisa divulgada nesta semana revelou que 60% das escolas de Ensino Fundamental e Médio no Brasil criaram regras para o uso do telefone celular pelos alunos. Em 28% delas, a utilização do dispositivo em sala de aula é proibida, segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Trocar a imersão virtual pela presença humana, enfim, significou um alívio
O estudo fica ainda mais interessante quando revela que o número de instituições de ensino que adotaram restrições às telas está crescendo. É a prova de que existe algo mais profundo a ser analisado.
Há várias leituras para o fenômeno. Uma delas é a de que, em vez de proibir o celular, os professores deveriam tornar suas aulas mais interessantes. Ouvi isso de um amigo, com o qual não concordo. O aprendizado proporcionado pela escola não pode – e não deve – se basear na lógica da disputa pela atenção aplicada por milhões de aplicativos e pelas redes sociais disponíveis na internet que emitem sons, avisos e oferecem recompensas rápidas de prazer para criar, com isso, mecanismos de dependência ainda não totalmente compreendidos por boa parte dos usuários.
Uma de minhas filhas estuda em uma escola que, recentemente, proibiu o uso de celular na aula. Foi um choque, não só para ela, que reclamou, mas também para mim. Pareceu-me um exagero no primeiro momento. Lembro-me de ter escrito, muitos anos atrás, um texto sobre o tema, quando uma lei vedando o uso dos equipamentos no ambiente escolar foi debatida na Câmara Municipal de Porto Alegre. Na época, afirmei que a aprovação de uma outra lei, obrigando o uso dos celulares, seria aprovada, mais cedo ou mais tarde. Eu estava enganado.
Depois dos primeiros dias de adoção da nova regra pela escola, minha filha comentou: “Sabe que está sendo bom?”. Trocar a imersão virtual pela presença humana, enfim, significou um alívio e uma possibilidade de experimentar algo que, sem nos darmos conta, perdemos: o estar aqui e agora.
Não se trata de ser contra ou a favor da tecnologia, mas sim de compreender e de praticar algo fundamental: a ferramenta é a tecnologia, e não o ser humano.