Tirando os nomes, fica mais fácil. Abdicando da compulsão por dar toda razão para um ou para outro lado, fica mais justo.
O que está em jogo no mais novo e ruidoso bate-boca nacional vai além disso.
De um lado, um magistrado brasileiro que tomou para si o papel de fiscal das redes e de herói antigolpista. Não resta dúvida de que, se devidamente comprovados, movimentações e atos que afrontem a ordem democrática devam ser punidos. Mas dentro da lei e, de preferência, por colegiados cuja identidade supere nomes e sobrenomes próprios. Sobre a regulamentação das redes, entendo que a omissão e a lentidão de outros setores da sociedade não podem servir de pretexto para qualquer limitação da liberdade de expressão. E como nesse caso não há apenas o oito e o oitenta, é importante repactuar entre nós o que é liberdade de expressão. Definitivamente, não é o vale tudo e a banalização da violência, da desinformação e do discurso de ódio legitimados pela política, que mais tarde reclama dos excessos gerados por seus próprios equívocos.
É nesse terreno que um ministro de uma suprema corte jamais deveria entrar: no pântano das decisões e da lógica da disputa pelo poder político. Porque, se entra, depois não pode reclamar das consequências, inclusive pessoais. Entrar em um baile funk e querer dançar valsa é ingenuidade, loucura ou falta de inteligência.
Do outro lado, temos o dono de uma rede social que, assim como quase todas as demais, tem um modelo de negócio nada transparente. De fato, a fórmula do faturamento de boa parte desse segmento tecnológico está baseada em nos tirar informações, e não em fornecê-las. É o capitalismo de vigilância. Google, Facebook, X, TikTok e seus similares são programados para acompanhar e mapear nossas preferências, nossos hábitos e nossas emoções. A partir disso, se transformam naquilo que são, mas que não dizem: máquinas de vendas.
Por isso, é preciso regulamentá-las, de modo que assumam, do ponto de vista ético e legal, a sua verdadeira identidade.
Neste contexto, o bate-boca entre um magistrado e um empreendedor não me mobiliza a ter simpatia por qualquer um dos lados. Já sei. Sou murista, passador de panos etc. etc. etc. Aceitos os elogios. Até porque, até onde a minha dignidade intelectual permitir, não serei massa de manobra dos extremos que são causa e sintoma da maior patologia nacional: a radicalização. Ela é a nossa inimiga, e não o ministro ou o empreendedor.