O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anda sofrendo de um novo mal: nervosismo seletivo. É a única justificativa para sua recente declaração sobre a guerra da Ucrânia, na qual já morreram dezenas de milhares de pessoas, entre elas, mulheres e crianças. Durante a visita ao Brasil do presidente da França, Emmanuel Macron, Lula disparou: “Estou a tantos mil quilômetros da Ucrânia que não sou obrigado a ter o mesmo nervosismo que tem o povo francês, alemão e europeu”. O Brasil, realmente, está longe da Ucrânia – cerca de 10,5 mil quilômetros. É a mesma distância que separa o Palácio do Planalto da Faixa de Gaza, onde o Hamas iniciou uma guerra, esconde armas em hospitais, usa a população civil como escudo e mantém mais de cem reféns desde o ano passado, depois de invadir Israel e assassinar todo mundo que encontrou pela frente – 1,2 mil pessoas. Lula ficou nervoso. O que fez? Absurdamente, comparou a reação de Israel ao Holocausto. Evocou um humanismo retórico para, exaltado, acusar o agredido, sem usar um tom sequer parecido com os terroristas agressores, de quem recebeu congratulações.
O sofrido povo palestino merece paz e um futuro livre do Hamas, que almeja destruir não apenas a única democracia do Oriente Médio, mas o modo de vida baseado na liberdade e no respeito às diferenças.
Fica claro, pelas respostas e pelos silêncios do presidente brasileiro, que os gatilhos do seu nervosismo nada têm a ver com distância. Lula levou meses para, de forma quase constrangida, condenar a cassação ilegal da candidatura de oposição a Nicolás Maduro na Venezuela. Em resposta, o embaixador venezuelano em Brasília reclamou. Deixou vazar pela imprensa que “as relações entre os dois países estão estremecidas”. Por coerência, aguardava-se a mesma reação indignada observada quando o embaixador brasileiro em Israel foi chamado depois da declaração presidencial equiparando os judeus aos nazistas. Mas se o assunto mexe com seus amigos, Lula encontra um jeito de manter a calma, mesmo que, a exemplo de Putin e de Maduro, os companheiros sejam responsáveis por repressão à liberdade e mortes de milhares de civis.
Lula também não parece nervoso com a catástrofe humanitária do Haiti, bem mais perto daqui, para onde o Brasil enviou milhares de soldados durante 13 anos.
Lula só fica nervoso quando quem sofre não é venezuelano, ucraniano, haitiano ou israelense. Destes, Lula está longe. Não fisicamente, mas na essência de valores que deveriam unir todos os habitantes da Terra.