Todos querem paz. Você quer paz, eu quero paz, os palestinos querem paz, o Hamas quer paz, a ONU quer paz, os israelenses querem paz. A dona Sandira, que mora no Cazaquistão, quer paz.
Pergunte a eles o que é paz. É aí que começa... a guerra.
É fácil postar textões no Facebook enquanto tanta gente inocente morre nos dois lados do conflito. Pega bem condenar, ampla e genericamente, a violência. E deve mesmo ser condenada.
Para boa parte dos pacifistas de ocasião, sentados em suas poltronas macias, paz significa parar imediatamente com as hostilidades, dar as mãos e cantar Imagine, assistindo ao sol se pôr no horizonte. Seria lindo. Mas como diria Garrincha, faltou combinar com os russos. Ou, no caso, com o Hamas.
Para esse movimento radical e terrorista, paz significa outra coisa: varrer Israel do Oriente Médio. Depois, aniquilar ou converter à força todos os que não professam a sua cartilha e, então, implementar uma ditadura religiosa. Não sou eu quem diz. Está no estatuto do Hamas. Procure na internet e veja com seus próprios olhos.
Já Israel é um país democrático, que tem seus problemas e suas virtudes. Pode e deve ser criticado, mas que seja pelos motivos certos. Seu governo atual é um fiasco. Isso, porém, tem cura: pressão das ruas e eleições livres, o que não acontece nos territórios comandados por ditaduras, como a Faixa de Gaza. Nada pior para a causa palestina do que ser confundida com a loucura sanguinária do Hamas.
Eu quero paz. E explico, a seguir, o que isso significa para mim. Paz não é um lugar ou um momento de alegria, de compreensão e de plenitude. Essa é uma idealização que só leva à paralisia e à frustração. Paz, para mim, é conviver com as diferenças e com as tensões de uma forma civilizada. E isso só se consegue, até que inventem algo melhor, com democracia: respeito às leis civis, respeito às mulheres, às minorias, às diferenças e à liberdade de expressão. São valores universais que devemos, todos, defender.
Fora disso, a palavra paz é um lobo em pele de cordeiro. Israel não é o verdadeiro inimigo da civilização, embora muita gente, por preguiça intelectual ou por interesse eleitoreiro, prefira não saber ou fazer de conta que não sabe. Até que um dia o lobo se sente confiante o suficiente para avançar mais um pouco mais. E mais um pouco. E mais um pouco. Escondido na pele de cordeiro, sob o aplauso dos incautos, dos desavisados, dos oportunistas... e dos outros lobos.